Sem chuvas forte há quase cinco meses em algumas regiões e com temperaturas que chegam aos 40ºC, municípios do interior de São Paulo voltam a enfrentar problemas de abastecimento de água e até anunciaram racionamento.
Vivem racionamento cidades da região central do estado, como Bauru, do noroeste paulista, como São José do Rio Preto, Uchoa e Tabapuã, e da região de Campinas, como Santo Antônio da Posse.
Há cortes de água em Barretos e Araras, causados por problemas pontuais na captação ou distribuição.
Outras vivem o rodízio, como em Sorocaba, onde alguns bairros ficam sem fornecimento. Ourinhos também implantou rodízio, mas por prevenção pela falta de chuvas.
Algumas represas estão com níveis críticos, como a de Votuporanga, que está 2,4 metros abaixo do nível normal, e a do Ferraz, em Sorocaba, com quase 1,2 metros a menos que a média.
O rodízio em Sorocaba começou no mês passado. Regiões do Cajuru, Éden, Aparecidinha e o Distrito Industrial ficam 12 horas às secas. O motivo é a baixa nas represas que atendem aquela região.
A represa do Ferraz está com 18% da capacidade. Se o nível cair abaixo de 10%, a captação é totalmente interrompida. Na régua, a altura da água chega só a 80 cm, quando o recomendado é ter dois metros. Bancos de areia já podem ser vistos à distância.
Em Bauru, os bairros abastecidos pelo rio Batalha ficam sem água desde o dia 16 de setembro. O manancial está com nível 10% menor que o mínimo recomendado. A estiagem, o calor e o alto consumo motivaram a decisão de implantar o racionamento. O fornecimento é interrompido por um dia completo, dividindo a região central das dos demais bairros.
Em Rio Preto, o Semae (Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto) estuda ampliar o racionamento (hoje, das 13h às 20h) para 180 mil moradores. "Estamos sem chuva significativa há três meses e o consumo atingindo picos de 400 litros de água por pessoa por dia", afirma Nicanor Junior, superintendente da companhia. A cidade não registrava situação parecida desde 2014.
O racionamento começou esta semana em Santo Antônio de Posse, região de Campinas. O corte acontece das 9h às 16h. O reservatório chegou a 30% da capacidade, segundo Rui Mergulhão, diretor do DAE (Departamento de Água e Esgoto). "Nos bairros elevados a água pode vir com a cor alterada, por causa do acúmulo de ferro nos canos".
Em Santa Lúcia, o rodízio acontece das 14h às 16h e das 22h30 à meia-noite. O consumo elevado esgota a capacidade de captação, por isso a medida.
Em Bebedouro (das 12h às 18h, e das 23h às 5 da manhã), Uchoa e Tabapuã (das 13h às 16h), a medida foi adotada pela baixa dos poços artesianos que abastecem os municípios.
Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), temperaturas acima de 40ºC foram registradas em várias cidades do Estado. Em Presidente Prudente (40,7ºC), Catanduva (40,5ºC) e São Simão (40,4ºC), nunca fez tanto calor desde 1961, quando as medições começaram.
O aumento no consumo é consequência. Em Mirassol (a 451km da capital), o índice chegou, em setembro, a 27,5 milhões de litros –cerca de 11 piscinas olímpicas cheias. A represa do rio São José dos Dourados está com menos de 30% da capacidade total.
Já a zona leste de Araras tem problemas pontuais de falta d’água. Segundo o Serviço de Água e Esgoto (Saema), a região fica distante do ponto de captação. A obra de uma rede direta, que promete resolver o problema, deve ser concluída até o final do ano.
Alguns bairros de Barretos também registram a situação, mas a prefeitura nega racionamento.
O Córrego do Onofre, que fornece água para uma das ETAs de Atibaia, secou. O Saae fez uma manobra emergencial para garantir o abastecimento aos moradores de seis bairros.
O Consórcio PCJ, responsável pelo gerenciamento das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, na região de Campinas, alertou no começo do ano que o Estado poderia enfrentar a mesma situação que em 2014, quando uma estiagem secou até o Sistema Cantareira.
“A diferença, este ano, é que os sistemas de São Lourenço e Igaratá mantém vazão adequada para os municípios filiados ao PCJ”, disse Francisco Lahóz, secretário executivo.
Em Votuporanga, não chove há quase quatro meses. A Represa Municipal está 2,4m abaixo do nível normal, pior nível registrado desde 1974.
As torneiras secas e a água com coloração marrom são notadas especialmente nas regiões central e norte —os demais bairros são abastecidos por poços profundos.
A empresária Jéssica Pelicioni Ferreira Galego, 29, dona de um estúdio fotográfico, faz malabarismo para conseguir higienizar e limpar o espaço após o uso.
"Aproveitamos cada manhã para higienizar nosso espaço. A água falta por volta das 13h, e volta às 20h. Nesse período sem abastecimento aproveitamos o reservatório da caixa d’água", conta.
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