Quarentena recua para fase amarela em São Paulo, anuncia Doria um dia após eleição

Medida não altera funcionamento das escolas, que continuam abertas

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São Paulo

A cidade de São Paulo vai regredir para a fase amarela do Plano São Paulo, assim como as outras regiões do estado que já estavam na fase verde. Com a decisão, comércios e serviços vão voltar a funcionar menos horas por dia a partir desta

A regressão de fase foi anunciada um dia após a eleição do segundo turno da capital paulista, vencida por Bruno Covas (PSDB) —o prefeito reeleito apoiado pelo governador do estado, João Doria (PSDB).

A mudança não altera o cronograma de volta às aulas, permitindo que as escolas continuem abertas.

Com a fase amarela, a ocupação dos estabelecimentos fica limitada a 40%; o funcionamento volta a ser de dez horas por dia, com limite de horário até as 22h; e eventos com público em pé ficam proibidos.

Cinemas e teatros não terão alteração no funcionamento. Já no caso dos parques, o horário de abertura depende da avaliação dos municípios. A medida começa a valer na quarta-feira (2), após a publicação de decreto no Diário Oficial

A capital encontrava-se na fase verde, a mais branda em termos de restrições, assim como as regiões de Campinas, Sorocaba e Baixada Santista, totalizando 76% da população do estado. O restante de São Paulo permanece na fase amarela.

Com a queda no número de casos em setembro, as atualizações do Plano São Paulo, que eram feitas a cada duas semanas, passaram a ser mensais. No entanto, a atualização que deveria ter sido feita em 16 de novembro foi adiada para depois do segundo turno.

Na ocasião, o governo tucano interrompeu uma série de progressões de fase que vinha promovendo e, sem admitir a deterioração do quadro, alegou que a interrupção se devia à instabilidade no sistema do Ministério da Saúde —ocorrida na semana anterior— , quepoderia trazer distorção aos dados e algumas cidades poderiam migrar para a fase verde de maneira equivocada.

Em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (30), o governador João Doria (PSDB), assim como os demais integrantes do Centro de Contingência do coronavírus, reforçaram que a decisão de adiar a reclassificação do plano foi tomada com base na observação dos indicadores e negaram que tenha havido qualquer fator político na decisão.

O secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, ainda destacou que a decisão de migrar todas as 17 regiões do estado para a fase amarela se deu após a análise dos dados que chegaram na sexta-feira (27) e no sábado (28). Segundo dados da Secretária do Estado de Saúde de São Paulo, as internações, no sábado foram quase 20% superiores às de 28 dias atrás.

Na tarde desta segunda, Doria publicou vídeo em redes sociais com trecho da entrevista coletiva em que afirma que o estado não toma decisões com base em questões políticas ou eleitorais.

O estado registrou, na última semana, um aumento de 12% no número de óbitos e 7% na taxa de internações. Já o número de casos teve redução de 14%, segundo Gorinchteyn. A taxa de ocupação de leitos de UTI em São Paulo é de 52,2%. Na Grande SP, essa taxa sobe para 59,1%.

A nova classificação terá validade até 4 de janeiro de 2021, mas pode ser alterada se for notada alteração nos indicadores, que passarão a ser reavaliados a cada sete dias.

Especialistas vinham alertando para a expansão preocupante da Covid-19 em São Paulo nas últimas semanas.

O governo estadual e o municipal, contudo, resistiram a uma reanálise imediata da situação paulistana, apesar da crescente ocupação em hospitais privados de referência de leitos destinados a pacientes com o novo coronavírus.

Os hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês foram alguns dos que tiveram aumento recente nos casos de Covid, acendendo um alerta entre médicos em um momento em que as medidas de prevenção contra a doença, como distanciamento social, evitar aglomerações e usar máscaras, vêm sendo continuamente desrespeitadas.

Muitos dos hospitais municipais já reservaram alas para ampliação de leitos para tratamentos de pacientes com Covid-19. Segundo a prefeitura, nesta semana a rede ganharia mais 200 novos leitos de internações em enfermaria e UTI.

Na tarde desta segunda, o prefeito Bruno Covas (PSDB) disse, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da Band, que a cidade não deverá retroceder em nenhuma abertura.

“Não há espaço para discurso alarmista de novo ‘lockdown’. Não foi esse o discurso de hoje. Não vamos fechar nada. Mas também não há espaço para discursos de ‘já acabou e vida normal’. A pandemia continua sendo um desafio a ser enfrentado. Vamos seguir as recomendações da vigilância sanitária do município. Foi assim que me pautei e vou continuar me pautando até que a gente tenha uma vacina.”

A prefeitura informou, por meio de nota, que vai aguardar a publicação do decreto do governo estadual para divulgar as "adequações que todos os setores econômicos da cidade terão de seguir com a alteração no processo de retomada gradativa e consciente no município".

A gestão Covas ainda informou que a pademia continua estabilizada na cidade e que a taxa de ocupação de leitos de UTI e enfermaria nesta segunda é de 52%.

O governo do estado realizará nesta terça-feira (1o) uma reunião on-line com os 62 municípios em que a situação de internações e casos por Covid-19 mais preocupam. A capital não está entre eles.

Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, são cidades com mais de 70 mil habitantes que apresentaram alta de 10% ou mais nas internações de pacientes com coronavírus ou que estão com mais de 75% dos leitos para tratamento da doença ocupados.

No próximo dia 7 de dezembro, outra reunião será feita com os novos prefeitos eleitos para explicar o funcionamento do Plano São Paulo e quais ações estão sendo tomadas.

Os municípios ainda serão orientados a aumentar a testagem, a fim de melhor rastrear a incidência da doença e promover o isolamento e tratamentos dos contaminados.

O governo também deve anunciar nos próximos dias um aumento da fiscalização no estado. Segundo Gorinchteyn, de 15 de julho a 15 de novembro foram feitas 110 mil inspeções e autuados 1.000 estabelecimentos ou pessoas que descumpriam as regras. As ações serão intensificada e o número de fiscais deve quadruplicar, com a adesão dos municípios, de acordo com o secretário.

O governador disse ainda que pretende aplicar medidas para proibição de festas públicas ou privadas, a fim de evitar aglomerações. Sem dar detalhes, Doria afirmou que as medidas legais que serão anunciadas devem se sobrepor a determinações municipais.
"Não é hora de festa. Não é hora de celebração. Não é hora de comemorações. Só poderemos voltar a ter festas, comemorações, celebrações, depois da vacina", disse.

Entidades questionam decisão

Associações ligadas ao comércio questionam a efetividade do retorno à fase amarela do Plano São Paulo no combate ao aumento de casos de Covid-19. Para elas, além de a medida ter um caráter político, pois foi tomada após o segundo turno das eleições, não há qualquer comprovação de que as novas transmissões da doença tenham acontecido em estabelecimentos comerciais.

"Para evitar aglomeração, o governo deveria deixar que o comércio funcionasse mais horas e que tivesse mais espaço para receber os consumidores. Não faz sentido voltarmos a um plano que foi elaborado há meses, quando a condição era outra", diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo.

Ele explica que os comerciantes foram pegos de supresa com a decisão, pois estavam com os estoques cheios, na esperança de recuperar parte do prejuízo deste ano. "O comércio fez grandes gastos para se adaptar aos protocolos e precisa do lucro de dezembro para pagar os impostos acumulados, além de empréstimos e despesas com encargos. Não faz sentido essa restrição agora."

A preocupação também é partilhada pelo presidente do conselho estadual da Abrasel- SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), Percival Maricato. "É decepcionante e muito injusto com o nosso setor. Estávamos na expectativa de ter a liberação das calçadas para colocação de mesas, além da manutenção do que já havíamos conquistado, para pagarmos as contas."

O lucro com as vendas de fim do ano serviria para pagar o 13º salário dos funcionários, além de impostos e aluguéis que se acumularam durante o ano, segundo Maricato. "Com redução para 40% de lotação de bares e restaurantes, permanecer aberto dá mais prejuízo do que lucro."

Para ele, o setor de bares e restaurantes está cumprindo todas as determinações impostas e, mesmo assim, será penalizado mais uma vez com medidas restritivas. "Não somos culpados. Há aglomerações que não dependem do restaurante. Agora, com menos mesas e horário limitado, vai juntar mais gente na porta do que antes. Essa restrição é contraproducente."

Já para o presidente da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Nabil Sahyoun, a perda dos centros de compra será muito maior, pois nesta época do ano eles costumam ampliar o horário de funcionamento. "Não perdemos duas horas abertos. Perdemos de três a quatro. O certo seria funcionarmos 14 horas por dia, para o consumirdor poder fazer suas compras em horários alternativos", diz.

Sahyon ainda chama atenção para a mudança ter sido anunciada logo após o segundo turno. "Tivemos centenas de vereadores e de candidatos a prefeito fazendo campanhas e gerando aglomerações e vimos que ninguém se preocupou com isso. Agora, termina a eleição e já vem a restrição. A sociedade vai pagar por uma decisão incoerente, pautada por decisões políticas. Por que não combater de fato onde estão as aglomerações das cidades?", questiona.

Para Maricato, o poder público também deveria fiscalizar e buscar opções para os locais em que as pessoas se aglomeram, em vez de restringir o comércio. "Temos metrô, ônibus, feiras livres, pancadões, comércios irregulares. Tivemos as eleições. Fechar os restaurantes não resolve essas aglomerações. Mas parece que esse governo não quer mobilizar a sociedade. Não podemos ficar somente com a fala do governador. O que acha o restante da sociedade? Nós vamos mobilizar a sociedade civil organizada para abrir diálogo com o governo", afirma.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto afirmou erroneamente que a última atualização de fases da quarentena estava marcada para dia 19 de novembro. Ela estava marcada para dia 16. O erro foi corrigido.

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