Descrição de chapéu Obituário Claudio Henrique Lopes Rendeiro (1965 - 2021)

Mortes: Juiz criminalista, alegrou paraenses com o humor do caboclo Epaminondas

Claudio Henrique Lopes Rendeiro atuou em prol das penas alternativas e do combate ao trabalho infantil

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Americana (SP)

Os áudios de WhatsApp com as tiradas do "caboco" Epaminondas Gustavo circulavam pelos celulares de paraenses dentro e fora da "terrinha".

"O Bêna que me ligou cedo lá de Cametá dizendo 'ah compade, eu tô doido pa usá aquela frase: olha, eu já sou de maior, sou vacinado e vou pa onde eu quisé!", dizia em 16 de dezembro, com sua risada característica. "Ah esta vacina que não chega, meu pai! Já está em todos os país, menos ni nós."

Epaminondas Gustavo, personagem do juiz paraense Claudio Rendeiro
Epaminondas Gustavo, personagem do juiz paraense Claudio Rendeiro - Instagram/Reprodução

Epaminondas foi criado pelo juiz criminalista Claudio Rendeiro, da 4ª Vara do Tribunal do Júri, em Belém (PA), que julga crimes dolosos contra a vida.

Rendeiro atuou na área penal por 14 dos 25 anos em que foi juiz.​ Em 2007, liderou o projeto Dó Ré Mi Faz Melhor, que usava a música como ferramenta de reinserção social e humanização de internos do sistema penitenciário do estado.

Também foi o primeiro coordenador estadual, em 2009, do programa Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que promove ações de reinserção social de presos egressos do sistema.

Foi então que sugeriu uma encenação para explicar de forma mais simples o que faz uma Vara de Execução Penal de Penas e Medidas Alternativas, onde trabalhava.

Natural de São Caetano de Odivelas, no nordeste do Pará, Rendeiro tomou de seu pai, Manoel, e do tio Benedito, os trejeitos e o linguajar de Epaminondas Gustavo, um ribeirinho de Cametá caracterizado pelo chinelo, um pato a tiracolo e os documentos guardados em um saco plástico.

Com linguagem coloquial característica do interior, Rendeiro explicava conflitos judiciais e situações diárias vividas por "Epa", pela lente do direito. O personagem se popularizou pelas mensagens de celular até chegar às redes sociais. Ali, cantava, dançava, cozinhava e passava um "café espumejento", enquanto fazia humor com temas do cotidiano local.

Rendeiro foi parceiro da Justiça do Trabalho no Pará e no Amapá em várias ações de combate ao trabalho infantil, como na 2ª Marcha de Belém contra o Trabalho Infantil, em março do ano passado.

"Ah, o Epaminondas me deu tanta coisa, sobretudo, me ensinou a ver a vida de maneira diferente, possibilidades e ganhos, por meio de poder falar sobre cidadania. Quando quis ser juiz, entendia eu que o juiz tem o compromisso moral e político de mudar uma realidade. É fabuloso isso! Através do humor, o Epaminondas altera dores, às vezes! Recebo testemunhos de pessoas que estão se tratando contra o câncer e que receberam um áudio do Epaminondas... que gargalharam, que ficaram felizes", disse Rendeiro em entrevista ao jornal O Liberal, em 2019.

Diabético, Claudio Rendeiro morreu de complicações decorrentes da Covid-19, aos 55 anos, na manhã do dia 18 de janeiro –Dia Internacional do Riso, como lembrou seu time de coração, o Paysandu. Ele estava internado em um hospital particular em Belém desde 9 de janeiro.

"Deus é soberano e sua vontade deve ser aceita por todos nós, mesmo sabendo que a perda do Claudio é muito dolorosa e difícil de ser assimilada", afirmou em nota seu irmão, Manoel Rendeiro Junior.

Deixou quatro "piquenos". Devido à pandemia, não houve velório, e o sepultamento foi limitado a 10 pessoas da família. Mas o trajeto até o cemitério de Ananindeua foi acompanhado por vários amigos, fãs e o Corpo de Bombeiros.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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