Não é fácil dimensionar a relevância de uma vida fora dos holofotes. Melanie Farkas nasceu em Curitiba, filha de imigrantes russos. Ainda criança mudou-se para São Paulo com os pais e irmãos e cursou a escola Caetano de Campos, o Colégio Rio Branco e a Escola de Sociologia e Política.
Casou-se com o fotógrafo, cineasta e empresário Thomaz Farkas (posou em inúmeras sessões para o então jovem e apaixonado artista), com quem teve quatro filhos.
Pioneira no campo da psicologia e psicanálise, foi membro da Sociedade de Psicanálise, onde promoveu a ideia do psicanalista fora do consultório. Além de analista e terapeuta de casais —acreditava profundamente no casamento—, foi professora na PUC-SP, orientadora de serviços públicos de saúde mental no Ministério da Saúde e na Santa Casa de Misericórdia, presidente do conselho do Projeto Guri, idealizadora de projetos de assistência psicológica gratuitos, entre outros.
Mulher extremamente dinâmica, sem preconceitos de qualquer espécie: de classe, raça ou religião -embora não gostasse de drogas, motocicleta e más companhias.
Aliava uma vasta visão de mundo, uma mente e memória privilegiadas (os amigos costumavam ligar para perguntar números de telefone que ela sabia de cor nos tempos anteriores às agendas eletrônicas) e uma capacidade praticamente inesgotável de conectar pessoas.
Sempre atualizada, grande leitora, apreciadora de música clássica, tinha amigos e conversa para todas as idades. Junto com o marido e os filhos transformou a casa em que viviam no Pacaembu em um centro de atração e convivência de amigos, colegas, conhecidos e agregados, que orbitavam aquele endereço cheio de ideias, música, arte, cultura e preocupações sociais.
Mas é no testemunho dos que conviveram profissional ou pessoalmente com ela que se mede a repercussão de sua personalidade e seu caráter generoso e solidário. Suas muitas centenas de pacientes e amigos tinham nela uma conselheira sempre perspicaz na compreensão das questões humanas, prática na ajuda objetiva e pronta a mobilizar-se por eles ou por uma boa causa.
Segundo o artista Sergio Fingerman, foi uma mulher extraordinária. Segundo o psicanalista Jorge Forbes, a melhor amiga que se poderia ter. Não é pouca coisa.
"Melanie Farkas foi uma psicanalista inovadora e, além disso, também militante influente das organizações da sociedade civil, como a Associação dos Amigos do Projeto Guri, hoje Sustenidos, atuando na Presidência do Conselho Administrativo e na Fundação Abrinq, onde integrou o Conselho Consultivo. Pude, como presidente da Fundação na época, testemunhar sua dedicação exemplar. Melanie Farkas deixará um legado importante para esta e para futuras gerações", afirma Rubens Naves, advogado, ex-presidente da Fundação Abrinq.
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