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Nova rodovia prevê ciclovia na serra do Mar entre Grande SP e Baixada Santista

Plano, ainda embrionário, faz parte da futura Linha Verde, com bicicletas em caminho acoplado

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São Paulo

Ainda é embrionário, o projeto e o traçado nem foram definidos, mas a ideia já aguça a curiosidade de quem pretende um dia pedalar por um caminho novo entre a Grande São Paulo e a Baixada Santista.

Os planos para a futura rodovia que cruzará a serra do Mar, a Linha Verde, incluem uma ciclovia num itinerário que já atrai ciclistas.

Enquanto isso, ciclistas esperam que saia do papel e se torne realidade algo já palpável, a Rota Márcia Prado, antigo desejo de ligação com as praias e que já foi instituída por lei estadual de 2018.

Dezenas de ciclistas na rodovia Anchieta
Ciclistas participam do Pedal Anchieta 2018 - Edson Lopes Jr. - 2.dez.2018/Folhapress

A nova rodovia, diz o secretário estadual de Logística e Transporte, João Octaviano Machado Neto, “é uma nova ligação", acomodando diferentes modais, em conceito ainda de caráter geral. "Pode ter ferrovia, dutovia, ciclovia."

Duas empresas foram capacitadas e, desde julho, têm 120 dias para apresentarem seus projetos. Depois disso, mais 90 dias para que o governo escolha um ou mescle pontos entre ambos.

Ainda de acordo com Machado Neto, é uma premissa do governador João Doria (PSDB) que seja uma rodovia "exemplar do ponto de vista de carbono zero" e que tenha "ciclovia acoplada". Mas, diz, "todas essas questões serão discutidas depois, quando os projetos forem apresentados”.

A expectativa do secretário é que em 2022 já se tenha tudo encaminhado. “A nossa ideia é, até o fim deste ano, conseguir selecionar o projeto, fazer a modelagem para a concessão e, no ano que vem, colocar o edital na rua para o mercado ir à leilão”, diz.

O conceito de ciclovia acoplada à rodovia deverá ser contemplado pelos projetos —"não com uso de acostamento", frisa o secretário, "para que venha com toda a segurança". Questões como a declividade precisam ser levadas em conta, acrescenta.

Nem sempre a máxima de que “para baixo todo santo ajuda” faz sentido na vida do ciclista. Sair de São Paulo e chegar às praias tinha tudo para ser um pedal suave, mas há alguns entraves no caminho, algo que vai além de um pneu furado, um freio solto ou uma marcha desregulada.

Responsável pelo Bike Zona Sul, Paulo Alves, 36, afirma que as atuais rodovias já deveriam estar preparadas ou em processo de adaptação para receber infraestrutura cicloviária.

“São muito bem cuidadas em termos de asfalto, de pavimento, mas não contam com uma infraestrutura para quem se locomove de bicicleta."

Segundo Alves, um bom exemplo de caminho para o litoral que poderia já ter sido implantado de fato é a Rota Márcia Prado, oficializada por lei desde 2018, durante a gestão do ex-governador Márcio França (PSB), mas que ainda não saiu do papel na prática —há até um abaixo-assinado para que isso aconteça.

O nome da rota homenageia a ciclista morta em janeiro de 2009, por um motorista de ônibus, na avenida Paulista (região central). “A própria Márcia iniciou a busca por esse percurso”, conta Alves.

A rota ciclística atravessa boa parte da zona sul da capital, corta a ilha do Bororé e desemboca na rodovia dos Imigrantes, de onde se pode acessar a estrada da Manutenção, que serpenteia a serra do Mar até Cubatão (56 km de SP). O trajeto conta, inclusive, com travessia por balsas na represa Billings.

“O desafio é a discussão sobre a rodovia dos Imigrantes. A [concessionária] Ecovias é irredutível em relação aos ciclistas no acostamento. Esse direito é negado, de uma forma totalmente contrária às leis federais”, diz Alves.

Em meio a tantas incertezas, o que não falta é gente interessada em fazer o caminho entre a capital paulista e a Baixada Santista de bicicleta. Em dezembro de 2018, por exemplo, após negociações com o governo estadual, uma das pistas da rodovia Anchieta foi liberada para a descida das bikes em direção ao litoral. Ao menos 30 mil ciclistas participaram do evento naquela manhã de domingo.

O debate sobre a implantação da rota na prática ainda vive um impasse, diz Alves. “Tem hora que parece que vai liberar e outra em que achamos que podemos estar sendo enrolados pelo governo estadual."

Questionado pela reportagem, o governo estadual respondeu por meio da Artesp (Agência Reguladora de Transporte do Estado de São Paulo), que afirma manter o compromisso de implantar a ciclovia entre os km 38 e 43, na rodovia dos Imigrantes (SP-160).

Esse trecho, diz a nota da agência, faz parte da Rota Márcia Prado, conforme estipula a lei estadual 16.748, de 30 de maio de 2018, "que institui roteiro turístico cicloviário interligando os municípios de São Paulo e Santos, com passagem por São Bernardo do Campo e Cubatão".

Segundo a Artesp, a construção da ciclovia não estava prevista originalmente no contrato de concessão da Imigrantes. A agência diz que, por isso, está empenhada nas tratativas para concluir a análise orçamentária junto à Ecovias, a fim de "viabilizar a execução das intervenções o mais breve possível".

A Artesp afirma ainda que, atualmente, a estrada da Manutenção já é utilizada por ciclistas para acesso ao Parque Estadual da Serra do Mar.

Já a Ecovias afirmou que a prioridade é garantir a segurança de todos os que circulam pelas rodovias. Para tanto, são necessárias "adequações estruturais" a fim de o trecho da Imigrantes que faz parte da Rota Márcia Prado possa ser utilizado.

Segundo a concessionária, um projeto para implantar 5 km de ciclovia, com separação física da rodovia, e uma passarela nas proximidades do Parque Estadual da Serra do Mar foi desenvolvido pela empresa e está em análise pela Artesp.

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