Descrição de chapéu Obituário Deusinda Maria de Oliveira (1937 - 2021)

Mortes: Deusa, que partia para se reencontrar

Deusinda Maria de Oliveira faleceu aos 84 e há 10 anos convivia com o Alzheimer

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Raquel Cozer
São Paulo

A primeira vez que Deusinda partiu foi ainda garota. Nascida em 3 de março de 1937 em Itapajé (CE), ela não amava estudar no interior, onde sempre tinha o risco de tomar uma corrida de boi a caminho da escola.

Então, quando o ensino primário acabou, a quarta filha de seu Chiquinho e dona Cotinha –mais nova que Osvaldo, Stelinha e Alaíde, mais velha que Marialves e José Alves– deixou a casa simples dos pais no bairro de Pau Ferrado para morar com um tio e fazer o secundário em Fortaleza.

Anos depois, começou a trabalhar na capital. Gostava tanto que ficava triste no fim das sextas e feliz nas noites de domingo. Mas também era festeira, embora se achasse alta demais para os pretendentes.

Quando viu um novo caminho e partiu pela segunda vez, Deusinda não tinha 20 anos. Trancou a faculdade em Fortaleza e, em plenos anos 1950, pegou sozinha a estrada para o Sudeste.

Deusinda Maria de Oliveira (1937-2021)
Deusinda Maria de Oliveira (1937-2021) - Arquivo pessoal

No Rio, foi secretária em grandes empresas. Deusa, apelido que adotou, era uma mulher de sorriso bonito, voz suave e senso de moda apurado, de quem era muito fácil gostar.

Tinha mais de 30 quando conheceu Edison, que ia ser seu chefe e ela achou bonitão. Casaram-se e foram para Petrópolis (RJ), onde nasceram Cristiano, Verônica e Raquel. Cozinheira talentosa –do tipo que fazia doce de figo, só que na verdade com jiló–, desdobrou-se pela família por quase 30 anos.

Sua terceira partida foi um reencontro consigo mesma. Com os filhos crescidos e a vida mudada, Deusa sentiu saudade de cuidar de si. Estudou desenho, informática e espanhol, e foi dividir apartamento no Rio com a filha Verônica.

O Alzheimer deu os primeiros sinais anos depois. Um esquecimento, uma confusão. Deusa agora morava sozinha e, em 2011, Edison escreveu aos filhos preocupado com a ex-esposa.

Aos 74, ela foi viver em Brasília sob os cuidados de Cristiano. Seus últimos dez anos foram junto do filho, sempre atencioso, que virou amigo, marido, pai e irmão nas histórias como ela lembrava.

Deusinda faleceu aos 84, em 29 de setembro. Sua última partida foi no dia de aniversário de seu Chiquinho, o pai que dava doces escondido quando a mãe ralhava com ela e que passeava por suas últimas lembranças.

Deixou uma irmã, Marialves, três filhos, duas netas e o parceiro de vida Edison.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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