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Restaurante de luxo de SP aposta em diversidade e contrata garçons com síndrome de Down

Quatro jovens profissionais passaram por treinamento e aperfeiçoamento

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São Paulo

Beatriz, 26, Juliana, 31, Maria Carolina, 27, e Vinícius, 28, começaram a abrir alas para um movimento inclusivo que deverá abarcar renomados e elitizados restaurantes de São Paulo. Os quatro são pessoas com síndrome de Down e acabaram de ser contratados como garçons do A Figueira Rubaiyat, um dos mais luxuosos e conceituados locais gastronômicos da cidade.

O quarteto fez uma imersão e um treinamento específico, durante um mês, no restaurante. Anteriormente, passou por um processo de preparação para a culinária no Instituto UniDown, onde aperfeiçoou técnicas de cozinha e aprendeu cuidados de higienização fundamentais em tempos pandêmicos.

"Não estamos fazendo uma ação social, estamos contratando pessoas para nosso time de trabalho e valorizando as diferenças. Está dando muito certo e pretendemos avançar. Esperamos que essa inserção seja seguida por outros ambientes. A aceitação é enorme", afirma Gerson Meneses Ferreira, 38, diretor de atendimento ao cliente do Rubaiyat.

Três jovens vestidos com camisetas pretas com a inscrição UniDown posam para a foto, são duas moças e um rapaz que está com a mão na cintura.Todos sorriem. Ao fundo, mesas de um restaurante
Vinicius de Carvalho, 28, Maria Carolina Soares Fraga, 27, Beatriz Brandão Costa, 26 (a da frente) são os novos garçons do restaurante A Figueira Rubaiyat, em São Paulo; eles são pessoas com síndrome de Down - Marlene Bergamo/Folhapress

Os jovens, que vão trabalhar de forma supervisionada e com carga horária reduzida –de quatro horas--, têm em comum o engajamento das famílias na construção de suas autonomias, no fortalecimento de suas personalidades e no apoio de suas demandas específicas.

"Temos de enfrentar esse mundo cheio de preconceitos e dar as caras. Eles querem mostrar que são capazes de fazer as coisas e essa atual geração de pessoas com síndrome de Down está colocando muito isso a prova. Eles sabem o que querem e se preparam para isso", diz Maria Aparecida Soares Fraga, 64, mãe de Maria Carolina Soares Fraga, uma das contratadas.

O Unidown atua desde 2006 com a formação e valorização de pessoas com deficiência intelectual com atividades em diversas áreas, mas com o foco na gastronomia. Hoje, são 300 jovens envolvidos na iniciativa, que tem apoio de voluntários.

"Cada um tem uma habilidade e aprende de forma diferente. A gente vai tentando lapidar o que eles já trazem de casa e tentamos desenvolver mais suas próprias habilidades", conta o advogado Márcio Berti, fundador do instituto.

De acordo com ele, há um movimento de outros restaurantes renomados da capital paulista em busca de profissionais com Down. "Há uma questão de diversidade envolvida, mas as empresas também querem apostar na humanização dos negócios, em ações contra o preconceito."

Os novos garçons não mostram incômodo com uma atitude comum entre os clientes que atendem: pedir para tirarem fotografias com eles. "Trabalho para mim é amor também", diz Maria Carolina.

O mais concentrado do grupo, Vinícius de Carvalho, também gosta de ser fotografado, mas lembra dos cuidados sanitários ao tocar no aparelho celular das pessoas. "É preciso higienizar as mãos depois, né?"

Ele se diz muito preparado para a função. "Quero ganhar meu salário para ter minhas coisas e fazer outros cursos, seguir uma carreira, talvez, na gastronomia mesmo."

Cláudia da Gama, 56, cliente assídua do restaurante, foi servida, ao lado da família, pelos novos garçons. Ela comemorou a contratação.

"Aleluia que estão se mobilizando. É o mínimo que a sociedade pode fazer para que as coisas de fato melhorem. O trabalho não vai fazer bem só para esses funcionários, o restaurante ganha muito também em sua imagem. Não é só acolhimento das diferenças, é dar oportunidades, trabalho, é a vida com o ela é", declara a comerciante.

O Rubaiyat informa que tem um "rígido procolo" para evitar que haja discriminação contra qualquer grupo social dentro do restaurante, o que, na visão dos pais dos novos garçons, é uma situação que pode acontecer eventualmente com os filhos.

"Nossa vida é de luta. Sabemos que não é só chegar aqui num restaurante de luxo e achar que tudo vai ser lindo, que eles serão totalmente respeitados. Claro que alguns vão olhar com estranheza para minha filha. As pessoas precisam ser educadas para as diferenças", afirma Rosineia Pereira Brandão Costa, 59, mãe de Beatriz Brandão Costa, que se diz "emocionada" por começar a trabalhar.

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