A síndrome de Down nunca foi fator limitante para que Jéssica Pereira, 30, transformasse a sua vida com o empreendedorismo. Ela é uma das fundadoras do Bellatucci Café (@bellatuccicafe), em São Paulo, que tem o objetivo de incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

"O Bellattucci mudou a minha vida. Antigamente eu ficava muito tempo no quarto, comia o dia inteiro. Agora eu trabalho com sol ou chuva", conta Jéssica que, orgulhosa, afirma ser a primeira empreendedora com síndrome de Down do Brasil.

A história é tema do décimo quarto episódio da série Negócios Plurais, sobre empreendedorismo e diversidade, realizada pela Folha em parceria com o Instagram. Toda semana, o jornal publica em seu perfil na rede social relatos em vídeo de empreendedores de todas as regiões do país.

Antes de mergulhar no mundo dos negócios, Jéssica se preparou. Ela fez cursos de massagem, de cabeleireira e de fotografia. Mas, foram as oficinas de culinária que a fizeram se sentir realizada.

Em uma delas, Jéssica recebeu um convite para participar de um programa de televisão. No estúdio cozinhou nhoque de mandioquinha ao vivo. Ela saiu de lá deslumbrada e com a ideia de abrir um restaurante.

O projeto se concretizou em 2017, no formato de um café. Para tirar a ideia do papel, Jéssica contou com a ajuda do cunhado, Douglas, e da irmã Priscila Della Bella, 36, que sempre a acompanhou.

"Com 15 anos, ela estava alfabetizada e, desde então, começou a se profissionalizar", diz Priscila. "Eu sempre a acompanhei de perto. Há 30 anos as coisas eram mais difíceis, não tinha internet, não tinha tanta informação".

Priscila conta que Jéssica ficava muito feliz já nas primeiras oficinas de culinária. Segundo ela, as atividades, inclusive, a ajudaram no desenvolvimento pedagógico. "Ela começou a ler as receitas em casa e tentar reproduzir, fazer sozinha. A Jéssica estava curtindo. Então, aí falei: ‘Mãe, acho que esse é o caminho’", diz.

Priscila mostra o funcionamento do Bellatucci Café nas redes sociais. Com isso, ela diz que alcança gente de todo o Brasil. "E as pessoas se sentem um pouquinho dentro do negócio mesmo não tendo visitado. Elas se sentem participando."

O empreendimento também conta com o apoio de uma instituição que orienta pessoas com síndrome de Down para promover a inclusão no mercado de trabalho. "Eu tenho amigos que trabalham comigo. E eles são muito capazes", diz Jéssica.

"A intenção é que realmente ali seja o primeiro contato deles com o mercado de trabalho. Que ali eles aprendam sobre responsabilidade, sobre o que é ter um chefe, o que é ter que acordar cedo e cumprir um horário", diz Priscila.

Assista ao vídeo: