Descrição de chapéu Folhajus

Câmara de SP aprova reforma da previdência após confusão e bombas

Projeto prevê fim de isenção e aumento da idade mínima para aposentadoria

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São Paulo

Em um dia marcado por confusão e bombas, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta quarta-feira (10) a reforma da Previdência municipal enviada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Durante a sessão, alguns manifestantes tentaram invadir a Casa e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) atirou bombas de gás. Segundo servidores, ao menos uma pessoa ficou ferida.

O projeto foi aprovado com 37 votos a favor e 18 votos contrários, nenhum voto a mais do que o necessário.

Para desespero da base de Nunes, a votação chegou a ficar pendente, com 36 votos a favor e 18 contrários, após o vereador Sansão Pereira (Republicanos) não votar no prazo previsto.

Após o susto, o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), abriu uma nova sessão extraordinária logo em seguinda, quando conseguiu os 37 votos necessários.

​O projeto prevê, entre outros pontos, que, enquanto houver déficit no regime da Previdência, aposentados e pensionistas que ganhem acima do salário mínimo (hoje de R$ 1.100) e abaixo do teto do INSS (atualmente de R$ 6.433,57) deixem de contar com a isenção de contribuição.

Agentes da GCM disparam contra servidores municipais na frente da Câmara dos Vereadores, no centro de São Paulo
Agentes da GCM disparam contra servidores municipais na frente da Câmara dos Vereadores, no centro de São Paulo - Eduardo Anizelli

A cobrança dos inativos será sobre os valores que superem o salário mínimo, incluindo servidores da administração indireta. Essa alíquota, de 14%, já incide sobre aposentados e pensionistas que ganham acima do teto do INSS.

Além disso, o projeto aumenta a idade mínima para a aposentadoria.

Os servidores começaram a se concentrar em frente à Casa, que fica no centro da cidade, no começo da tarde. Conforme a sessão se desenrolava tensa do lado de dentro, do lado de fora houve confusão envolvendo servidores e a Guarda Civil Metropolitana.

Alguns manifestantes atiraram objetos e subiram no gradil da Câmara. A prefeitura afirmou que a GCM começou a agir para dispersar manifestantes que tentaram invadir a Casa.

​Segundo o sindicato dos servidores, uma manifestante fraturou a perna no momento em que a GCM atirou bombas contra a multidão.

"A atuação da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, por meio da Guarda Civil Metropolitana, tem por objetivo garantir a segurança do local, dos manifestantes e servidores do legislativo municipal. Os agentes sofreram investidas dos manifestantes, que buscavam adentrar o prédio. Os protocolos de uso progressivo da força foram utilizados para conter a situação e evitar danos", afirma a prefeitura.

Em nota, a gestão Nunes também afirmou que "mantém diálogo permanente com todas as entidades sindicais e reafirma a preocupação com a sustentabilidade do sistema previdenciário municipal e com a responsabilidade fiscal". "O déficit atuarial estimado para longo prazo atualmente é de R$ 171 bilhões, um dos principais riscos fiscais do município. Com a proposta, a estimativa é que esse rombo seja reduzido em R$ 111 bilhões, ou seja, queda de 65% no déficit", afirmou a gestão.

O vereador Antonio Donato (PT) criticou o uso das bombas contra a multidão. "Achamos que meia dúzia de infiltrados que tenham atacado a Câmara deveriam ser presos e não se revidar com bomba em todos os professores", disse.

Oposicionistas argumentaram que, devido à confusão do lado de fora, a sessão deveria ser interrompida. Mas foram voto vencido.

O presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), também mandou a segurança retirar pessoas que teriam entrado em uma confusão nas galerias.

​Durante a sessão, houve diversas discussões entre vereadores de esquerda e Rubinho Nunes (PSL), parlamentar membro do MBL (Movimento Brasil Livre), favorável à reforma.

Rubinho foi acusado de estimular as galerias a interromper a fala da vereadora Silvia da Bancada Feminista, do PSOL, uma vez que havia vários militantes do MBL dentro da Casa. Na ocasião, Elaine do Quilombo Periférico apontou o dedo para o rosto do deputado, e a sessão ficou suspensa por dois minutos.

Em outro momento, a vereadora Erika Hilton (PSOL) cobrou respeito devido a interrupções da militância do MBL, chamados de "gentalha criada a danoninho". "Seus moleques mimados", ela disse.

Rubinho rebateu: "Você vai respeitar o MBL". "Não vou, seus bostas, bando de moleque mimado, seu merda", disse Erika.

A oposição argumenta que, diferentemente do que a prefeitura diz, é possível arcar com a aposentadoria dos servidores sem prejudicar as finanças da cidade. Citaram, inclusive, a boa situação financeira do município.

Vereadores do PSOL acusaram o governo de compra de votos e de ameaçar membros da base com a retirada de cargos. "Parem de patifaria, isso aí se chama sim compra de voto. Compra de voto, não é só com dinheiro não, compra de forma se faz de várias maneiras, cargo na prefeitura, cargo no governo", disse Toninho Véspoli (PSOL).

João Jorge (PSDB), líder do governo, defendeu o projeto. "Eu sou pai de quatro. Muitas vezes, eu tive que oferecer o remédio e a injeção para um filho meu, que o médico receitou. Para que aquele remédio fosse um mal menor, para que uma doença depois, mais grave, não viesse vitimá-lo", disse. "O prefeito Ricardo Nunes é responsável, é sério e teve coragem de mandar um projeto impopular para cá para que um mal maior não acontecesse no futuro com o próprio servidor".

Fabio Riva, também do PSDB, disse que fez a mesma analogia ao dizer que se trata de um "remédio amargo".

De acordo com estimativas da prefeitura, o déficit previdenciário seria de R$ 171 bilhões, em um cálculo que contabiliza 75 anos da Previdência dos atuais servidores. Com a reforma, o déficit cairia para R$ 60 bilhões —uma economia de R$ 111 bilhões.

Anualmente, a prefeitura diz que o rombo estimado para 2021 é de R$ 6 bilhões.

Segundo a gestão Nunes, a Reforma da Previdência em ni´vel federal determinou que os estados e muncípios que tivessem déficit precisavam resolver o problema.

Em dezembro de 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB), que morreu vítima de câncer, aprovou na Câmara outra reforma da Previdência, enfrentando forte oposição. Ele precisou ceder em alguns pontos e abrandar as medidas para conseguir o apoio dos vereadores, mesmo tendo maioria na Casa.

Agora, o novo projeto também fixa a idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, equiparando aos servidores federais. Para os professores, porém, essa regra é de cinco anos a menos.

As regras de transição são as mesmas previstas na reforma da Previdência federal.

Segundo o site da prefeitura, atualmente a idade mínima para os servidores se aposentarem com rendimentos integrais é de 60 anos (e 35 anos de contribuição) para homens e de 55 anos (e 30 anos de contribuição se for mulher).

Atualmente, segundo a prefeitura, a idade média que a base atual entrou na inatividade é de 56 anos e 10 meses (sendo 56 anos e 5 meses para mulheres e 57 anos e 11 meses para os homens).

A proposta também traz outra mudança, que é a chamada segmentação de massas. Agora, novos servidores não terão suas contribuições usadas para pagar aposentadoria dos servidores que já estão aposentados.

Dessa maneira, há um sistema para os antigos servidores e outro para os novos, este último em regime de capitalização.

Os servidores afirmam que essa segmentação de massas tem como objetivo deixar o sistema previdenciário antigo propositalmente deficitário, com objetivo de aumentar as alíquotas sobre os profissionais da ativa.

O governo rebate essa afirmação ao dizer que projeto autoriza transferência de servidores do fundo deficitário para o capitalizado toda vez que esse capitalizado acumular um superávit.


AS PRINCIPAIS MUDANÇAS DO PROJETO

  • Contribuição de aposentados e pensionistas passa a ser acima do salário mínimo, e não acima do teto do INSS
  • Adoção de regras semelhante às federais para aposentadorias, inclusive regras de transição
  • Possibilidade de criação por lei de alíquota extraordinária do servidor e de alíquota extraordinária patronal por decreto
  • Aporte ao fundo previdenciário da arrecadação futura do imposto de renda retido na fonte pertencente ao município
  • Possibilidade de migração de servidores do regime pré-2018 para regime de previdência complementar
  • Adoção de mesmas regras federais para reajuste das aposentadorias e pensões
  • Contribuição patronal de 34% para servidores da Saúde e da Educação
  • Equivalência com regras de transição previstas para servidores federais, preservando direitos adquiridos.
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