Anvisa recebe ameaças com 'último aviso', 'comunistinha' e 'traíra'; veja

PF abriu inquérito e analisa material para identificação de autores; pedido de proteção policial ainda aguarda resposta

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

"Último aviso", "alerta popular", "comunistinha sem caráter", "passe mal fdp" são alguns dos termos nos cerca de 150 emails com ameaças a diretores e técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Eles receberam as mensagens de sexta (17) até esta segunda-feira (20), após terem aprovado o uso de vacina contra Covid em crianças de 5 a 11 anos.

O órgão fez um rastreamento das mensagens para envio à Polícia Federal.

Um inquérito foi aberto na semana passada em razão dos ataques virtuais, que se intensificaram após autorização do imunizante da Pfizer em crianças.

A partir do material compartilhado pela agência, os investigadores tentam identificar os autores.

Email enviados à Anvisa com ameaça; mensagens com ataques estão em análise pela Polícia Federal - Reprodução

A Folha teve acesso ao conteúdo de parte das mensagens.

Com o assunto "Vacina para crianças", uma mensagem foi enviada no sábado (18) às 14h12.

Diz o texto: "Olá diretor, você liberou essas vacinas experimentais para crianças? Quem vai se responsabilizar pelas mortes e efeitos adversos que são muitos com (sic) trombose, coágulos, doenças autoimunes, miocardites... etc. Saiba que se você não estiver mais encarnado aqui para pagar pela lei do homem no Tribunal Internacional de Haia ainda assim pagará nos planos espirituais."

No mesmo dia, às 15h47, um outro email recebido foi identificado como "Assassinato".

O autor escreveu "Olhe para as tuas mãos, estão sujas de sangue seu assassino desgraçado. Você é mais um COMUNISTINHA sem caráter, traíra do presidente e sem vergonha na casa, usando essa gravatinha vermelha, cor do sangue das criancinhas que você está assassinando".

E prosseguiu: "Passe mal seu fdp. Me processe que quero te desmascarar, vou provar a tua participação na morte de milhares de brasileiros afetados pelas tuas decisões esdrúxula (sic), safado, assassino!".

Em mensagem também do sábado, o autor escreveu que aquele seria "último aviso".

"Considere este aviso como último, para que tenha a oportunidade de se retratar ao terrível engano", afirmou.

"Todas pessoas pública (sic) ou privadas que participarem do plano de genocídio mundial através do veneno chamado vacina serão levados ao tribunal internacional de NUREMBERG 2.0, assim como serão responsabilizados financeiramente por qualquer dano causado por suas decisões mediante a atual arbitrariedade que fere não somente nossa constituição, assim como os códigos internacional (sic) de direitos humanos, NUREMBERG e outros tribunais, sob a condição de pena de crimes contra a humanidades."

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Tribunal de Nuremberg encarregou-se de investigar os crimes da guerra e, em 1946, condenou 16 médicos nazistas alemães por práticas antiéticas e eugênicas, como as que tornaram famoso o médico Josef Mengele, conhecido por suas experiências com os prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.

As ameaças contra os diretores e técnicos começaram a acontecer com mais frequência a partir da formalização do pedido para a aplicação do imunizante no público, em novembro.

Com o aval da Anvisa à vacinação infantil, na quinta-feira (16), a situação se agravou.

Naquele dia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que havia solicitado "extraoficialmente" o nome dos técnicos da agência envolvidos no tema e que iria divulgá-los.

A proposta foi interpretada por técnicos como uma tentativa de intimidação. Ao mesmo tempo em que ameaças intensificaram nas redes sociais, foi lançada uma campanha com a hashtag #SomosTodosAnvisa no final de semana.

No início da semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou não ver problema na divulgação de nomes de técnicos da Anvisa como sinalizou Bolsonaro.

"Não há problema em se ter publicidade dos atos da administração. Acredito que isso é até um requisito da Constituição", disse a jornalistas em frente ao ministério.

A agência já havia solicitado formalmente proteção policial, que não foi atendida, e reforçou o pedido após ataques em redes sociais se intensificarem.

A PF foi procurada pela Folha nesta terça (21) sobre o assunto, mas não houve resposta.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.