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Reajuste da tarifa de ônibus em São Paulo pode ficar para fevereiro

Nunes diz aguardar resposta sobre possibilidade de governo federal bancar passagens de idosos

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São Paulo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) sinalizou a possibilidade de adiar o reajuste de tarifa de ônibus na cidade de São Paulo para fevereiro de 2022, enquanto aguarda uma resposta sobre a hipótese de que o governo federal possa custear a gratuidade de idosos no sistema de transportes, conforme pedido feito por prefeitos no mês passado.

A decisão sobre o aumento ou não de tarifa na capital deverá ser anunciada nesta sexta-feira (24), véspera de Natal, segundo disse Nunes na manhã desta quinta (23), durante vistoria a obras contra enchentes na Vila Helena, na região do Itaim Paulista, na zona leste.

Ônibus lotado na região do Grajaú, na zona sul de São Paulo; prefeitura estuda aumento de tarifa no transporte público da capital - Rivaldo Gomes - 15.jun.20/Folhapress

Na quarta (22), a Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana e a SPTrans, que administra o transporte por ônibus na capital, disseram que vão sugerir a Nunes o aumento de R$ 4,40 para R$ 5,08, com possibilidade de arredondamento para R$ 5,10 ou para R$ 5, como forma de recomposição da inflação dos últimos dois anos, período em que não houve aumento nas passagens.

O reajuste de tarifa foi debatido na quarta durante reunião extraordinária online do Conselho Municipal de Trânsito e Transportes. O prefeito não participou do evento.

"Cinco dias é o prazo para comunicar a Câmara antes do aumento. Se a gente for fazer o reajuste no dia 1º de janeiro, então o anúncio precisa ser até o dia 25", afirmou o prefeito nesta quinta. "Mas a prefeitura está fazendo um esforço para não fazer aumento de tarifa e essa é uma decisão que vou anunciar até amanhã [sexta]."

Segundo Nunes, a prefeitura espera uma resposta sobre a possibilidade de o Senado votar um projeto para garantir que o governo federal banque as passagens de idosos no transporte público. De acordo com o prefeito, essa gratuidade custa cerca de R$ 450 milhões ao ano para os cofres da administração municipal.

"Pode ser condicionado que fique para fevereiro, porque, se tiver a ajuda do governo federal, suspendemos o aumento de tarifa, mas é um assunto delicado, não posso colapsar o sistema", afirmou.

Nunes disse que, se a prefeitura decidir não aumentar a tarifa, mesmo sem a ajuda da União, o subsídio a mais pago pelo município às empresas de ônibus será de aproximadamente R$ 500 milhões em 2022. Neste ano, a estimativa é que o custo fique em cerca de R$ 3,3 bilhões.

De acordo com a prefeitura, atualmente o sistema de ônibus custa cerca de R$ 8 bilhões, sendo que R$ 5 bilhões são custeados com a venda de passagens. Segundo a SPTrans, em 2019.

"Existem muitos estudos da parte financeira da Secretaria da Fazenda para saber o quanto a gente aumentaria o subsídio no caso de não haver aumento de tarifa, é uma conta muito complexa", afirmou o prefeito, dizendo que o reajuste pode ser menor que os R$ 0,70 sugeridos na reunião de quarta. "Pode ser de R$ 0,10, R$ 0,20 ou pode não ser nenhum."

Segundo a SPTrans, o custo do sistema é de R$ 8,71 por passageiro, praticamente o dobro do preço cobrado aos usuários atualmente.

De acordo com o prefeito, a administração municipal tem dinheiro em caixa para custear mais subsídios para cobrir os custos com o transporte, sem reajustar a tarifa, mas precisa decidir de qual área vai tirar. A afirmação foi feita enquanto mostrava as obras no córrego Lajeado.

Andréa Compri, superintendente de Receita e Remuneração da SPTrans, apresentou dados sobre queda de usuários na reunião de quarta. A estimativa é que o sistema feche este ano com 5,15 milhões de passageiros transportados contra 5,2 milhões em 2020 e 8,9 milhões em 2019, antes da pandemia. A projeção para 2022 é de 7,45 milhões.

Segundo ela, houve uma queda de 8,9% na frota de ônibus em circulação na cidade durante a pandemia do novo coronavírus.

"E tem um outro fator, que é o governo do estado. Sempre existe a correção da tarifa dos ônibus junto com o Metrô e com a CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos]" disse o prefeito nesta quinta.

Questionado desde quarta sobre o reajuste, o governo João Doria (PSDB) não respondeu até a publicação desta reportagem.​

Na reunião de quarta, Rafael Calábria, coordenador de Mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), afirmou que "é equivocado achar que vai se ter mais receitas com aumento porque o reajuste vai diminuir o número de usuários nos ônibus".

Calabria criticou o fato de a prefeitura não ter colocado na conta a remuneração de R$ 869,6 milhões paga às empresas para custear a frota parada ou com gastos durante a pandemia. "Daria para reduzir a tarifa e não aumentar abusivamente", disse ele, que também lamentou o fato de o impacto social não ter sido levado em conta. "É equivocado achar que vai se ter mais receitas com aumento."

Em nota, a SPTrans afirmou que as empresas concessionárias receberam remuneração diferenciada pela frota parada entre março de 2020 e agosto 2021 para pagar despesas com o pessoal afastado em decorrência da redução de frota e com os efeitos da medida provisória que permitiu redução de jornada e salários.

"A medida garantiu que fossem mantidos os empregos de cerca de 50 mil motoristas, cobradores e fiscais durante a pandemia e também que os ônibus estivessem disponíveis para voltar à operação quando o estado emergencial acabasse", afirmou trecho da nota.

O Idec lançou nesta quarta uma campanha pela internet contra o aumento de tarifa de ônibus no Brasil. "O instituto defende que existem outros caminhos para compensar a crise financeira do setor, que é nacional", disse. "O usuário do serviço não pode ser o único responsável a pagar pelas consequências de contratos de concessão elaborados e gerenciados de forma ineficiente."

SEM REAJUSTE

Não houve reajuste de tarifa em 2021, em meio à pandemia. Apesar de prefeitura e governo estadual terem mantido o valor das passagens, no fim de 2020 foi revogada a gratuidade no transporte coletivo municipal e intermunicipal para pessoas entre 60 e 64 anos, o que inclui trem e metrô.

Na última sexta (17), o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) afirmou que a gestão João Doria (PSDB) estava conversando com a prefeitura para decidir se haverá reajuste em conjunto com metrô e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Durante inauguração da estação Vila Sônia, da linha 4-amarela do metrô, Garcia falou em responsabilidade fiscal.

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