Descrição de chapéu Obituário Maria José Gouvêa Duailibi (1928 - 2022)

Mortes: Sempre nos trinques, deu à vida novas paisagens e nuances

Zezé Duailibi se reinventou duas vezes; em uma delas, tornou-se paisagista

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São Paulo

A história de Maria José Gouvêa, desde criança chamada de Zezé, começou a ser escrita em Petrópolis, no Rio de Janeiro, no seio de uma família tradicional —cresceu com os pais, duas irmãs e um irmão.

Viveu sem grandes novidades, como se diz por aí, até os 19 anos, quando uma interferência do destino quebrou a linearidade da sua existência.

Nelson Duailibi, um fazendeiro do Mato Grosso, havia ido a Petrópolis conhecer a noiva, uma moça da comunidade libanesa vizinha de Zezé.

Maria José Gouvêa Duailibi (1926-2022), de casaco vermelho, com as filhas Maria Virgília e Maria Antonia e a neta Julia
Maria José Gouvêa Duailibi (1928-2022), de casaco vermelho, com as filhas Maria Virgília e Maria Antonia e a neta Julia - Acervo pessoal

O casamento, arranjado pelas famílias, aconteceria se Nelson não tivesse tocado a campainha da casa errada. Maria abriu a porta e foi amor à primeira vista.

Apesar da resistência da família de Nelson, pelo fato de Zezé não ser libanesa, os dois namoraram e se casaram.

Maria passou a ser chamada de Zezé Duailibi. O casal morou durante um tempo em Presidente Prudente (a 558 km da capital paulista), teve filhos e se mudou para a cidade de São Paulo para as crianças, pouco crescidas, estudarem.

"Durante meses, antes de casar, uma vez na semana, meu avô cavalgava por cerca de seis horas para encontrar um telefone e se comunicar com ela", conta a jornalista Julia Duailibi, 43, sua neta.

Zezé era conservadora e vanguardista ao mesmo tempo. Aos 50 anos, separou-se do marido, atitude que não era comum na época.

Decidiu se reinventar e conseguiu emprego numa construtora de prédios de alto padrão. Deixou a empresa quase 20 anos depois para se aposentar.

E assim se deu de presente uma nova nuance. Zezé desenvolveu o gosto pelas plantas, tornou-se autodidata e começou a trabalhar com paisagismo. Seu envolvimento foi tamanho que despertou o interesse da nora e das filhas para a nova profissão.

​Na época, os mais de 70 anos nada representaram para a leveza com a qual conduzia a vida. Prospectava os clientes, guiava o próprio carro até o local de compra das plantas e fazia seus negócios. Trabalhou até pouco mais de 80 anos.

Zezé casou-se novamente, desta vez com um italiano também fazendeiro, mas o relacionamento não foi muito adiante.

Sem opiniões fortes e muito apaziguadora, Zezé era dona de boas palavras e as distribuía a todos. Apesar de ser uma mulher reservada, formal e distinta na forma de se vestir, chamava a atenção pela elegância, beleza, doçura e simpatia.

Quando via as pessoas bem arrumadas, principalmente as netas, dizia que estavam nos trinques.

"Na eleição de 2000, quando fui entrevistar o Paulo Maluf para a Folha, ele perguntou o que eu era da Zezé Duailibi? Ao responder, ele me disse: ‘sua avó parava o Monte Líbano quando nova, de tão bonita’", relata Julia.

Zezé Duailibi morreu dia 13 de fevereiro, aos 93 anos. Separada, deixa três filhos, sete netos e 12 bisnetos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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