Descrição de chapéu alimentação

Bom Prato do Grajaú (SP) segue fechado, e moradores ficam sem comida

Restaurante popular atendia mais de 1.600 pessoas por dia no almoço, mas foi fechado para reformas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Isabela Alves
São Paulo | Agência Mural

Claudivino Ferreira dos Santos, 57, ficou desempregado durante a pandemia de Covid-19 e agora vai para a fila do restaurante Bom Prato do Grajaú, na zona sul da capital, todos os dias para almoçar.

"Pego duas marmitas e deixo uma para o jantar. Pessoas do comércio local me ajudam a arrecadar latinhas e, com o valor da venda, venho comer", conta.

No entanto, desde outubro do ano passado, conseguir um prato se tornou mais difícil para ele e outros moradores da região.

Imagem mostra uma caçamba de entulho na frente de um estabelecimento comercial fechado
Bom Prato do Grajaú não funciona há cinco meses - Isabela Alves/Agência Mural

Há cinco meses, a unidade foi fechada para reformas e não tem data para reabrir. Mantida pelo governo estadual, oferecia refeições a R$ 0,50 (café da manhã) e a R$ 1 (almoço e jantar), de segunda a sexta-feira. Apenas no horário do almoço, cerca de 1.600 refeições eram servidas.

Com o fechamento, moradores passaram a ter acesso a apenas 300 marmitex, distribuídos a partir das 10h30, e precisam se organizar em uma fila em frente ao local para garantir a alimentação. Os serviços de café da manhã e jantar foram interrompidos.

"Muitas pessoas não têm onde se alimentar e, se não conseguem pegar a marmita, voltam para casa com fome. No dia seguinte, elas voltam para a fila às 9h da manhã. Quem não chega na hora, fica sem comer", afirma Francisco Wilton Bandeira Dias, 56, líder comunitário do distrito.

Em outubro de 2021, com a inauguração de um Bom Prato na Cidade Dutra, também na zona sul de São Paulo, a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado pretendia fechar o restaurante do Grajaú com a justificativa de que o novo espaço proporcionaria mais comodidade aos usuários.

No entanto, a outra unidade fica a 5 km de distância, o que dificulta o acesso ao serviço para muitos moradores. Para atender à demanda de quem não pode chegar até lá, o governo estadual começou a enviar um veículo para fazer a distribuição das marmitas.

O espaço não foi o primeiro a ser fechado para reformas durante a pandemia de Covid-19. No ano passado, o Bom Prato em Paraisópolis ficou sete meses sem abrir, o que gerou críticas de moradores. Nesta terça-feira (15), a unidade de Santana, na zona norte, também fechou —neste caso, venceu o contrato de aluguel do espaço.

No Grajaú, a discussão sobre o fechamento começou em maio de 2020. Na ocasião, moradores e lideranças locais organizaram um protesto na avenida Dona Belmira Marin, onde o restaurante está localizado. O grupo também cobrou respostas do deputado estadual Enio Tatto (PT) e do secretário da Casa Civil do Governo de São Paulo, Cauê Macris (PSDB).

Segundo Dias, o líder comunitário, o secretário afirmou na época que o local não seria fechado, mas reformado. Desde a inauguração, em 2010, o prédio não passou por melhorias e, ao longo dos anos, houve relatos de rachaduras no piso e queda de rebocos.

A falta de infraestrutura já chegou a causar acidentes. A ocorrência mais grave foi em fevereiro de 2020, quando parte do teto desabou e atingiu um cliente. O homem foi ferido na cabeça, mas não precisou ser hospitalizado.

"A obra não foi finalizada ainda. As reformas estão sendo feitas às custas do proprietário", relata o líder comunitário.

Dias também relembra que, quando houve o fechamento provisório, em outubro do ano passado, o secretário prometeu trazer um "caminhão-cozinha" para que as demandas alimentares do restaurante fossem cumpridas. De acordo com ele, o carro que faz a entrega das marmitas não oferece os devidos cuidados de higiene.

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, o Bom Prato do Grajaú fica em um imóvel particular e a reforma estrutural se deu pelas condições precárias do espaço.

"A legislação não permite que o poder público faça reformas deste tipo em imóveis particulares. No momento estão sendo finalizadas as tratativas com o proprietário e os reparos que deverão ser feitos estão sendo adequados", aponta.

A pasta também destaca que o serviço de refeição tem ocorrido em embalagens descartáveis e será mantido até a reabertura da unidade. "Uma equipe técnica acompanha a entrega das refeições no Grajaú e até o momento não foi identificado nenhum problema de demanda", diz.

A secretaria afirma ainda que "o transporte dos alimentos é feito em caixas hotbox para garantir a segurança sanitária e a temperatura das refeições" e que os pratos são preparados com a supervisão de nutricionistas.

Moradores ouvidos pela reportagem também pedem a construção de mais dois restaurantes populares no distrito, visto que o Grajaú tem uma população de mais de 360 mil habitantes —a maior em toda a cidade.

"Muitas pessoas que não têm muita condição financeira começaram a se alimentar melhor. A comida daqui é excelente, passa pela nutricionista e o prédio é de ótimo acesso. O Bom Prato é o que salva muita gente", conclui Francisco Dias.

Enio Tatto afirma que desde maio do ano passado tem atuado pela permanência do serviço no distrito do Grajaú e que cobrou a volta do café da manhã no espaço. "Infelizmente a reforma está demorando muito, o que penaliza a população que mais precisa: desempregados, idosos e moradores em situação de rua", diz o deputado.

"Meu empenho, agora, é no sentido de garantir as 1.600 diárias que eram oferecidas pela unidade antes do início do processo de reforma do prédio e pela volta do café da manhã e da janta, além, é claro, da volta do serviço o mais breve possível no seu local de origem", acrescenta ele.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.