Descrição de chapéu Folhajus

Ladrões em motos aterrorizam moradores da capital paulista

Em alguns casos, criminosos se passam por entregadores de aplicativos para roubar objetos e até motos das vítimas

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São Paulo

Uma onda de roubos feitos por criminosos em motos tem levado medo aos moradores da capital paulista. Muitas vezes disfarçados de entregadores de aplicativos, os ladrões agem rápido, em qualquer horário do dia, e ameaçam as vítimas com arma e aos gritos.

O modo de atuação dos bandidos já é bem conhecido pela polícia. Em geral, o ladrão adultera a moto que vai usar no crime, compra na internet a mochila com a marca do aplicativo para se disfarçar de entregador e roda pela cidade, com mais um ou dois comparsas em motos, em busca das vítimas. Eles preferem atacar em ruas menos movimentadas e têm como alvo preferencial pessoas que caminham com celulares na mão ou bolsas.

Nos últimos meses, vídeos de câmeras de monitoramento que mostram a ação dos ladrões em várias regiões de São Paulo se multiplicaram nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem.

No primeiro bimestre deste ano, foram registrados 22.463 roubos em geral pela polícia na capital paulista –um crime a cada quatro minutos. O número representa um aumento de 6,2% em relação aos 21.141 casos do mesmo período de 2021. Os dados são da Secretaria Estadual da Segurança Pública.

Criminoso em moto arranca bolsa de mulher que caminha com seu cachorro em São Paulo - Reprodução

O delegado assistente Manoel Giordani, da 3ª Delegacia Seccional da capital paulista, responsável pela zona oeste, diz que os criminosos em motos costumam usar veículos com placas adulteradas, geralmente roubados ou furtados, para dificultar a identificação por parte da polícia.

Giordani acrescenta que a ideia de andar em duplas ou trios é facilitar a fuga da polícia. "Acontecem casos em que o suspeito, mesmo tendo praticado um crime, ao ser abordado, não porta objetos de vítimas, que são levados por comparsas. Isso impede eventuais prisões em flagrante", explicou.

A 3ª Seccional já identificou e prendeu seis criminosos apontados como integrantes de um grupo especializado em praticar roubos em bairros de alto padrão da cidade, principalmente no Morumbi, usando motocicletas.

Os seis presos são suspeitos de envolvimento em dois latrocínios. Um deles é o caso do assassinato do secretário de Segurança Pública de São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba), Ricardo Tadeu Kusch, 44 anos, em março, na marginal Pinheiros. O outro é o latrocínio do autônomo Valdemir de Jesus Mota, 46, baleado no Morumbi, na frente da escola onde havia acabado de deixar o filho, em fevereiro.

Uma busca por sites de vendas como o Mercado Livre revela a facilidade de se comprar uma mochila para entregas de alimentos, sem precisar estar cadastrado nas plataformas. Os equipamentos têm as marcas do iFood, Uber Eats e Rappi, e os preços variam de R$ 90 a R$ 200.

Além dos prejuízos financeiros, os dois roubos sofridos pela modelo Renata Nóbrega, 28 anos, em apenas sete meses, na zona sul paulistana, provocaram um trauma em sua filha, atualmente com 13 anos. A jovem também foi vítima dos crimes. "Minha filha não está conseguindo sair de casa, com medo de ser assaltada", afirmou a modelo.

Elas foram roubadas duas vezes em menos de um ano, no Capão Redondo. Desde então, quando precisa sair de casa, Renata aciona aplicativos de transporte, principalmente à noite.

O mesmo é feito pela autônoma Silvania Fátima dos Santos, 56 anos, também moradora do Capão. Como revelado pela Folha, o bairro lidera os roubos de celular na capital paulista.

Quando caminhava até a casa de sua mãe, Silvania foi abordada por bandidos em uma moto, em fevereiro do ano passado. Levaram todos os pertences dela. "Há 12 anos que ia caminhando para a casa de minha mãe. Depois disso, só saio de casa usando aplicativo de transporte."

Na internet é fácil encontrar vídeos que mostram a ação dos ladrões. Em um deles, dois bandidos em uma moto abordam uma vítima, na madrugada do último dia 30, enquanto ela caminhava pela rua Holda Botto Malanconi, região do Jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo.

A moto para ao lado da mulher, e o garupa desembarca para roubá-la. Um homem vê a cena e corre para uma rua lateral. Após pegar pertences da mulher, os ladrões aceleram em direção à via para onde o homem correu. Segundos depois, a dupla foge, levando também pertences da segunda vítima.

O delegado Manoel Giordani orienta que as pessoas evitem caminhar em ruas desertas, se possível. Em caso de abordagem criminosa, a vítima não deve reagir e deve fazer um boletim de ocorrência na sequência. "As pessoas precisam evitar deixar os celulares à vista, em ruas desertas, ou ainda em locais com muita aglomeração, pois isso, aliado à distração em manusear o aparelho, pode chamar a atenção de criminosos", disse.

Ele acrescentou ainda que pessoas em carros estacionados precisam redobrar a atenção, pois um eventual roubo pode evoluir para uma extorsão mediante sequestro. "Como os celulares dão acesso a contas bancárias e demais dados das vítimas, os criminosos podem manter elas em cárcere [privado] até transferirem valores", exemplificou.

Para o pesquisador Dennis Pacheco, do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), somente o policiamento ostensivo, feito pela Polícia Militar, não é o suficiente para inibir os crimes dos "motobandidos".

"A polícia precisa realizar um trabalho de inteligência, para identificar como funciona essa rede, que ajuda os criminosos a se passarem por entregadores. Precisa descobrir quem produz as caixas de entrega e quem compra", afirmou.

O advogado e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Luciano Timm, que já foi presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, do governo federal, explica que empresas como os apps de entrega não podem ser responsabilizadas pelo destino das caixas usadas por colaboradores.

Ele diz ainda que plataformas como o Mercado Livre são regidas pelo mesmo princípio e que não poderiam remover os anúncios desses produtos sem que houvesse uma ordem judicial, como prevê o Marco Civil da Internet.

Também professor da FGV, o membro do FBSP Rafael Alcadipani avalia a situação de forma diferente. "As empresas precisam assumir perante a sociedade a responsabilidade, melhorando seus sistemas de segurança, para que a polícia saiba quando a caixa [de entrega] é verdadeira ou falsa. Os apps fingem não serem donos das caixas, mas elas são responsabilidade deles."

O Mercado Livre, onde caixas dos aplicativos são comercializadas, afirma excluir vendedores quando identifica que os itens oferecidos são falsificados.

O iFood afirmou colaborar com as autoridades, em eventuais irregularidades, acrescentando que "infelizmente" há um "mercado paralelo" no qual bags, com o logo da marca, são vendidas.

O Rappi afirmou orientar seus colaboradores a registrar boletins de ocorrência caso sejam roubados em serviço. A empresa acrescentou que a venda de suas bags não infringe os termos e condições da plataforma. "Quanto a eventuais falsificações de bags, elas normalmente são produzidas por empresas informais e vendidas em grupos de WhatsApp, o que dificulta seu monitoramento e controle."

O Uber Eats afirmou ter encerrado seu serviço de entrega de refeições em 7 de março deste ano. "A empresa esclarece ainda que as mochilas adquiridas pelos entregadores antes do encerramento das atividades de entrega de refeições já eram de propriedade deles, portanto podem ser revendidas ou emprestadas."

As polícias Civil e Militar, juntamente com a GCM (Guarda Civil Metropolitana), iniciaram uma ação conjunta, no último dia 21, com o intuito de combater roubos, principalmente cometidos por criminosos em motos.

Chamada de operação Capital Mais Segura, a iniciativa prendeu e apreendeu, até o momento, 49 suspeitos, entre adultos e adolescentes que, segundo as forças de segurança, foram encaminhados para distritos policiais.

Ao todo, 440 agentes, somando as três forças de segurança, estão empenhados em identificar e prender os criminosos que usam motos para realizar roubos.

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