Descrição de chapéu Obituário Andor Stern (1928 - 2022)

Morre Andor Stern, único brasileiro vivo do holocausto

Em palestras, ele falava sobre o respeito à vida, aos seres vivos e o amor ao próximo

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São Paulo

Único brasileiro sobrevivente do Holocausto, Andor Stern dedicou-se, nos últimos dez anos, a dar palestras em escolas e associações. Nos eventos, contava a experiência de ter passado por campos de concentração e aconselhava os mais jovens.

Filho de um casal de húngaros, Andor nasceu em São Paulo. "Quando ele tinha mais ou menos uns cinco, seis anos de idade, os pais foram para a Índia, depois para a Europa e voltaram para a Hungria. Aí, a guerra estourou", afirma Marcio Pitliuk, um dos autores do livro "Sobreviventes: Retratos dos Sobreviventes do Holocausto que Vivem no Brasil".

Imagem em primeiro plano mostra homem idoso de óculos sentado posando para foto
Andor Stern (1928-2022) - Adriano Vizoni - 7.nov.19/Folhapress

Em 1944, quando Hitler invadiu a Hungria e exigiu a deportação dos judeus, Andor e a mãe foram colocados em um trem e mandados para Auschwitz. Seu pai conseguiu fugir e desapareceu —os dois só se reencontraram 22 anos depois.

Após chegarem a Auschwitz, a mãe foi imediatamente enviada para a câmara de gás. Ele foi parar em um dos campos de trabalhos forçados.

"Ele contava que, uma hora, não aguentava mais a fome e o frio e foi em direção às cercas eletrificadas, mas, no meio do caminho, lembrou que a mãe falava que o Brasil era um país maravilhoso e que um dia eles tinham que voltar para cá. Ele não se jogou na cerca", afirma Pitliuk.

Quase no fim da guerra, Andor foi enviado para a marcha da morte —caminhadas de cerca de 60 km de uma cidade para outra—, e chegou a Dachau, primeiro campo de concentração criado por Hitler, em 1933.

Andor ficou alguns meses lá. Sua permanência encerrou-se quando alemães abandonaram o local devido à aproximação de soviéticos. Os prisioneiros foram reunidos em vagões de trem, abandonados com as portas fechadas.

"Andor conta que, quando abriram as portas do vagão, ele estava semimorto, pesava uns 30 quilos", afirma Pitliuk.

Na década de 1950, Andor voltou ao Brasil e recomeçou sua vida.

Formou-se em química e, por alguns anos, trabalhou na IBM consertando computadores. Nesta época, conheceu a esposa, Therezinha Figueira Stern.

Um tempo depois, abriu com um amigo uma empresa que fabricava chapas de acrílico. O negócio fechou, mas ele continuou no ramo e foi trabalhar na Unigel.

"Nesta empresa, ele conheceu uma pessoa que perguntou se ele se importaria de dar uma palestra na escola dos filhos, porque eles estavam estudando a Segunda Guerra Mundial", afirma o genro Ricardo Cohen.

Foi então que, em 2009, ele iniciou como palestrante em um colégio em Santos, no litoral paulista. Na escola, conheceu o professor e historiador Gabriel Pierin, que anos depois seria o autor de sua biografia, "Uma Estrela na Escuridão".

"Ele dizia que a vida dele era feita em função do que viveu no Holocausto", afirma Pierin

Depois dessa primeira experiência, outras palestras vieram. "Ele era uma pessoa muito cativante e, quando contava sobre a guerra, não dramatizava aquela coisa horrorosa que foi. Ele sempre procurava enaltecer o que aconteceu com ele depois da guerra", afirma o genro.

Nas palestras, ele falava sobre o respeito à vida, aos seres vivos e o amor ao próximo, segundo Pierin.

Andor, conta o genro, dizia que depois que saiu do campo de concentração o dia vivido era uma sobremesa para ele.

No último dia 7 de abril, Andor Stern morreu, aos 93 anos, de câncer. Ele deixa a mulher, cinco filhos, nove netos e nove bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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