Descrição de chapéu Obituário Maria Rosa Tarantini Sabatelli (1929 - 2022)

Mortes: Cerimonialista fez do Theatro Municipal sua grande paixão

Maria Rosa Tarantini Sabatelli dedicou sua vida ao teatro, à música e à dança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Por cerca de 60 anos, Maria Rosa Tarantini Sabatelli se posicionou na entrada do Theatro Municipal de São Paulo, onde surge uma escadaria majestosa revestida por um tapete vermelho, para recepcionar nomes conhecidos, entre artistas e políticos, e levá-los até os balcões de seus camarotes para assistir a uma ópera ou a um balé internacional.

Artistas como o cantor Roberto Carlos ou o tenor italiano Luciano Pavarotti (1935-2007), que se apresentaram no grande palco onde há cem anos acontecia a Semana de Arte Moderna, eram surpreendidos por um mimo da cerimonialista: seus nomes escritos por ela à mão em uma placa, com letra gótica caprichada, pregada na porta dos camarins.

O universo cultural lhe foi apresentado pelo primeiro patrão, segundo conta sua prima, a advogada Lúcia Lamberti, 58. "Sua vida foi dedicada ao teatro, à música e à dança, universo a que foi apresentada por Ciccillo Matarazzo."

Mulher de terno preto e lenço no pescoço abraça o cantor Roberto Carlos, vestido de jaqueta azul e camiseta braNca
A cerimonialista do Theatro Municipal Maria Rosa Tarantini Sabatelli com o cantor Roberto Carlos - Arquivo pessoal

Mas era o Theatro Municipal que fazia parte dela e era o grande amor de sua vida, segundo Mário Zaccaro, 66, maestro do coro lírico. "Maria Rosa era muito compenetrada, mas sempre fazia seu trabalho com amor e era simpaticíssima. Ela adorava o que ela fazia, tanto que era a primeira a chegar e a última a sair do teatro", diz. "Ela era mobília fixa da casa", brinca carinhosamente.

Zaccaro ressalta ainda que Maria Rosa estava sempre elegante, geralmente vestida com tailleur, lenço no pescoço e cabelo vermelho vivo sempre impecável. "E ela estava sempre cheirosa, a danada."

Foram muitos os contatos com artistas, como Hebe Camargo (1929-2012), e políticos, como Fernando Henrique Cardoso, Celso Pitta (1946-2009) e Paulo Maluf.

Mas um dos reconhecimentos a seu trabalho veio em 1976, de personalidade internacional: Akihito e Michiko. O casal real lhe presenteou com estojo que continha colheres de prata talhadas com o símbolo do império nipônico.

Poliglota, Rosa Maria não tinha problemas para se comunicar com nenhuma autoridade ou grande estrela, já que ela falava sete línguas, entre elas, alemão, francês, italiano e inglês.

"Ela era intelectualmente privilegiada, estava por dentro de todos os assuntos. Ela ia além do seu trabalho e fazia a tradução das óperas para o programa da peça ou da ópera", afirma o analista de sistemas Antonio Rangel Calil Luiz, 61, primo de Maria Rosa. "Mas eu era como se fosse um filho dela."

Maria Rosa era solteira e não tinha filhos, mas "casou-se" com o Theatro Municipal, segundo a aposentada Alba Sabatelli de Moura, 88, prima da cerimonialista. "O teatro era filho, marido, amante dela, era tudo isso. Era a paixão dela."

A cerimonialista ​não revelava a idade nem por decreto, conta Alba. "Ela tampouco gostava de celebrar o aniversário, já que foi num deles que ela ficou noiva e, meses depois, perdeu o futuro marido, provavelmente vítima de tifo."

Alba conta que foi depois desse baque que a prima começou a se dedicar de corpo e alma ao Theatro Municipal. "Era a vida dela."

Afastada do trabalho há sete anos após dois acidentes no trabalho, Maria Rosa morreu de infarto nesta terça-feira (5), aos 93 anos. Ela deixa os diversos primos de quem cuidou como se fossem filhos e um teatro majestoso.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.