José Honório Lopes tinha por volta de 12 anos quando sua família deixou a roça, em Presidente Prudente (558 km de SP), para tentar a vida em Sorocaba, município próspero mais perto da capital. E na cidade grande não perdeu tempo, já foi trabalhar.
O primeiro emprego foi em um hotel, junto com Alcides, o caçula dos seis irmãos, dois anos mais novo que ele. Lá os meninos carregavam malas e faziam tudo que rendesse alguma gorjeta, já que o salário ia todo para ajudar em casa.
Adeptos de exercícios físicos, os irmãos e mais dois amigos bateram em um circo instalado em Sorocaba, onde o quarteto aprendeu malabarismo. "Eles trabalhavam durante o dia no hotel e à noite faziam malabares", diz a jornalista Camila Santos, 46, neta de José Honório. O dinheiro das apresentações era doado a um orfanato, segundo contou o tio, afirma ela.
Ainda na juventude, José Honório trabalhou como engraxate. Até que aos 20 anos, quando se casou, o "faz-tudo" percebeu que ajudar hóspedes, dar brilho em sapatos e ser estrela de circo não seriam suficientes para sustentar a família.
Assim, se inscreveu e passou em um concurso da Polícia Militar. Foi ser soldado e cuidou do patrulhamento na cidade de São Paulo até conseguir transferência para Sorocaba.
"Me lembro de ver meu avô chegando em casa com a 'Baratinha', quando eu era mocinha", afirma a neta, em uma referência a como era chamado o Fusca preto e laranja da Polícia Militar na época.
Só que, por mais agitada que possa ser, a vida de um policial militar se torna monótona para alguém que na infância se aventurou até no circo. Por isso, José Honório trocou a PM pelo Corpo de Bombeiros, onde chegou ao posto de sargento.
O ex-malabarista, que fez curso de paraquedista para ajudar em salvamentos, foi condecorado pela coragem, diz a neta.
Também apaixonado por fotografia, ganhava um dinheiro extra registrando casamentos e eventos, onde conheceu celebridades, como os atores Tarcísio Meira e Glória Menezes.
Aposentado, José Honório trabalhou como motorista de táxi. Bom de papo, vendia CDs para os passageiros.
Só deixou o carro de praça aos 75 anos, quando problemas no coração e o início de uma labirinte deram o alerta de que era hora de sossegar e ir para casa cuidar da companheira, Elza.
José Honório ficou viúvo em maio de 2020, após 64 anos de casamento.
No último dia 31 de março, ele foi internado em Sorocaba e morreu no domingo seguinte (3), de causas naturais. Deixou duas filhas, Gislaine e Cristiane, sete netos e sete bisnetos.
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