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Polícia de São Paulo pede prisão do empresário Saul Klein

Ele é investigado após a acusação de estupro e aliciamento feito por 14 mulheres; defesa diz que cliente reafirma que não cometeu crime algum

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São Paulo

A Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri (Grande SP) indiciou e pediu a prisão preventiva do empresário Saul Klein, 68. A informação foi confirmada pela polícia e pela defesa.

O caso corre em segredo de Justiça. Klein, filho de Samuel Klein (1923-2014), fundador das Casas Bahia, foi indiciado nesta quinta-feira (28) pela delegada Priscila Camargo, titular da DDM de Barueri, pelos crimes de organização criminosa, redução à condição análoga de escravo, tráfico de pessoas, estupro, estupro de vulnerável, favorecimento à prostituição, casa de prostituição e falsificação de documento público.

A delegada ainda indiciou e pediu a prisão preventiva de outras nove pessoas. O caso foi levado para o Ministério Público e as detenções só podem ocorrer após autorização da Justiça.

O empresário Saul Klein na inauguração de uma boate, em São Paulo - Letícia Moreira - 13.nov.12/Folhapress

Klein é acusado de estupro e aliciamento por 14 mulheres. O indiciamento feito pela polícia de Barueri encerra a investigação que levou cerca de dois anos para ser concluída.

Elas acusam o empresário de aliciá-las e estuprá-las em festas que reuniam dezenas de garotas em sua casa, em Alphaville, desde 2008. Segundo a polícia, um imóvel em Boituva, no interior paulista, também teria sido usado.

O indiciamento feito pela Delegacia da Mulher da cidade da Grande São Paulo encera a investigação policial. O relatório final do inquérito policial entregue ao Ministério Público tem 90 páginas.

Às vésperas do Natal de 2020, ele teve, inclusive, de entregar seu passaporte à Justiça e foi proibido de ter contado com as 14 mulheres.

Em nota, o advogado André Boiani e Azevedo disse, nesta sexta (29), que Saul Klein reafirma que nunca cometeu crime algum. "O indiciamento divulgado ontem [quinta] e o pedido de prisão são atos discricionários da autoridade policial que não vinculam os demais atores processuais", afirma a defesa.

"Saul e sua defesa técnica respeitam o posicionamento da delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri, mas entendem que a análise atenta e isenta dos elementos colhidos na investigação levará o Ministério Público e o Judiciário a concluírem por sua inocência", afirmou trecho da nota.

A advogada Priscila Pâmela dos Santos, que representa as 14 mulheres, afirmou nesta sexta-feira que há um sentimento de alívio entre suas clientes. "Elas se sentiram ouvidas", afirmou.

Santos disse que tem conversado com as mulheres desde quinta-feira, após a polícia ter feito o pedido de prisão das dez pessoas. "Elas não conseguiram dormir direito, mas sentiram que a versão delas, que de fato é verdadeira, foi acolhida pela autoridade policial."

A advogada acredita que, pelo seu relatório, a delegada que conduz o caso fez uma análise macro de tudo que aconteceu e conseguiu entender que havia elementos suficientes para oferecer a denúncia ao Ministério Público. "O documento reúne laudos psicológicos e psiquiátricos que mostram a situação de saúde dessas meninas", afirmou.

Em nota, o Ministério Público de São Paulo afirmou que irá analisar o inquérito "a seu devido tempo".

Em dezembro de 2020, quando o empresário teve de entregar seu passaporte à Justiça, o advogado Azevedo disse que seu cliente contratava uma agência que lhe trazia sugar babies (como são chamadas as garotas que se dispõem a serem bancadas pelos daddies) e que ele mantém diversos relacionamentos simultaneamente.

"Ele era o ‘daddy’ de todos os ‘daddies’, do qual todas as ‘babies’ gostariam de ser ‘babies’", disse Azevedo à coluna Mônica Bergamo, na época.

Azevedo afirmou, também em dezembro de 2020, que os ataques têm por objetivo chantageá-lo e achacá-lo desde 2019, quando Klein parou de adquirir o serviço da empresa que lhe apresentava as mulheres, por desconfiar que os seus proprietários estavam tentando extorqui-lo.

Os relatos das 14 vítimas foram feitos à Ouvidoria da Mulher do Conselho Nacional do Ministério Público, que encaminhou o conteúdo ao Ministério Público de SP (MPSP).

A decisão judicial elenca informações apresentadas pelo MPSP baseadas nos testemunhos das supostas vítimas.

"Segundo constou do requerimento, todas as mulheres acima foram vítimas de aliciamento sexual", aponta o despacho da Justiça citando informações elencadas pela promotoria. "Eram procuradas por aliciadores em redes sociais e outros canais, informadas falsamente de que havia interesse na contratação delas por parte de uma empresa e conduzidas a uma apresentação, a título de teste, para o requerido Saul."

"Os testes eram feitos em um flat e elas tinham que usar biquínis ou roupa íntima. Elas eram convencidas de que, se satisfizessem a lascívia do requerido Saul, poderiam ser contratadas para eventos na ‘mansão’ de Alphaville, quando então receberiam de mil a três mil reais, ou numa casa de campo dele em Boituva", segue a narrativa.

"Nesses eventos, que podiam contar com 15 a 30 moças, elas tinham que se exibir o tempo todo de biquíni e submeter-se a atividades sexuais com o requerido Saul, inclusive de modo humilhante e a contragosto. Também podiam ter que ingerir droga, permanecer trancadas em um quarto por um dia inteiro e aceitar se submeter a consultas com médicos ginecologista e cirurgião plástico, respectivamente, para cuidar das persistentes e reiteradas doenças sexualmente transmissíveis que as acometia e de outras enfermidades que apresentaram, bem como receber aplicações de botox ou outros tratamentos destinados a prepará-las para as sessões com o requerido Saul."

Em dezembro de 2020, a Folha conversou por telefone com duas das alegadas vítimas que acusam o empresário. Uma afirmou ter conhecido Klein em 2008 e conviveu com ele até 2020. A outra começou em 2013. Nenhuma delas quis se identificar, alegando que não querem ser expostas e que têm medo de represálias do empresário. Elas corroboram os relatos elencados na decisão judicial.

Azevedo afirmou na época que a relação criada entre Klein e as mulheres nem sempre acarretava em atos sexuais, mas que quando isso ocorria era algo consensual. Ele afirma que o empresário dava presentes a elas, mas que ele nunca fez pagamentos às suas amantes e não participava desta negociação —quem tratava disso era a agência, que também se responsabilizava por verificar as idades de todas as garotas para que fossem maiores de idade.

"As participantes estavam ali de livre e espontânea vontade —e, saliente-se, todas queriam voltar aos eventos, em demonstração de que estavam de acordo com o que ali acontecia", diz ele.

Em nota, a Via, atual proprietária da Casas Bahia, disse nesta sexta que Saul Klein nunca possuiu qualquer vínculo ou relacionamento com a companhia. "Saul vendeu sua parte societária em 2009. A Via assumiu a gestão da rede de lojas em 2010. A companhia informa, ainda, que é uma corporação sem acionista controlador ou bloco de controle definido."

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