Descrição de chapéu Obituário Humberto Kaoru Kinjô (1943 - 2022)

Mortes: Jornalista, enfrentou duas ditaduras

Humberto Kaoru Kinjô precisou fugir de golpes militares no Brasil e no Chile

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São Paulo

Humberto Kaoru Kinjô enfrentou duas ditaduras ao longo da vida. Em 1968, precisou deixar o Brasil por causa do regime militar e se exilou no Chile, mas também teve que sair do país depois do golpe de Estado de 1973.

Nascido em 1943 em São Paulo, Humberto teve cinco irmãos. Seus pais eram naturais de Okinawa, no Japão, e fizeram parte do primeiro grupo a imigrar para cá, em 1908.

"A nossa infância foi normal com a diferença de que nós morávamos em uma casa sempre superlotada, por uma razão simples, a nossa família era uma das únicas que tinha saído do interior para a grande cidade, portanto, todos os parentes mandavam os seus filhos para a casa dos meus pais quando eles já tinham idade para estudar", afirma Celso Kinjô, irmão de Humberto.

Imagem em primeiro plano mostra homem idoso de óculos posando para foto
Humberto Kaoru Kinjô (1943-2022) - Arquivo pessoal

Desde criança, Humberto demonstrou interesse pela vida em grupo, segundo o irmão. Fez parte de um grupo de escoteiros e, quando estava cursando o ginásio (atual ensino fundamental), passou a se dedicar à militância estudantil. "Ele foi membro da JEC (Juventude Estudantil Católica), que por sua vez foi embrião do Ação Popular", afirma Celso.

Depois, foi convidado a integrar a UNE (União Nacional de Estudantes). Em 1964, quando ocorreu estourou o golpe militar, ele estava em Manaus participando de um congresso da entidade, e precisou fugir de maneira clandestina.

Meses depois, já em São Paulo, começou a trabalhar como jornalista. "Ele tinha uma formação jornalística improvisada, começou atuando na confecção do jornal da UNE", afirma o irmão.

Por volta de 1965, Humberto resolveu se candidatar a uma vaga de redator na Folha e foi aceito. "Ele participava da mesa do copidesque em um jornal que era dirigido na época pelo Cláudio Abramo", lembra Celso.

Nesta época, ele continuava atuando na Ação Popular. Até que foi preso, no início de 1968. Ficou então três meses preso na sede do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Depois de solto, continuou a militância até que se viu obrigado a ir embora.

"Ele conseguiu escapar para o Chile em um esquema extremamente artesanal. Ele pegou um ônibus em Santos, eu o levei até lá, para Foz do Iguaçu, aí ele passou para o Paraguai e Argentina e pelo sul do país entrou no Chile", lembra Celso.

Mas quando os militares chilenos deram um golpe em 1973, ele se viu novamente obrigado a fugir para sobreviver. Uma colombiana chamada Marina então lhe ajudou a se esconder em um convento. De lá, pediu asilo na embaixada de Honduras e conseguiu se mudar para o país.

Pouco tempo depois, novamente com o apoio da Marina, foi para a Colômbia —lá, a dupla se casou e teve dois filhos.

Em 1979, quando saiu a Lei da Anistia, Celso ligou para o irmão para avisar que ele podia voltar para casa. Um mês depois, Humberto retornou ao Brasil.

"Ele sempre foi um líder e ativista político. Como quase todos da nossa geração, ele era movido a um ideal humanista de ajudar, aquela utopia de um país igualitário, de eliminar a pobreza etc. Toda a vida ele perseguiu isso", afirma o irmão.

No último dia 15 de maio, Humberto Kaoru Kinjô morreu, aos 79 anos, por falência de múltiplos órgãos. Ele deixa a mulher, dois filhos, quatro netos e quatro irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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