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Ministério Público denuncia Cristófaro por injúria racial e pede cassação

Promotor pede cassação de vereador acusado de xingar e ameaçar uma mulher negra

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São Paulo

O Ministério Público denunciou à Justiça o vereador Camilo Cristófaro (Avante), de São Paulo, pelos crimes de injúria racial e ameaça. O vereador teria xingado a auxiliar de enfermagem Dilza Maria Pereira com palavras como "negra safada" e "ladra".

O promotor Bruno Orsini Simonetti, do Gecradi (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância), pede que o vereador pague indenização à mulher por danos morais e perca o cargo público. O valor da indenização é calculado somente depois da condenação.

Após a denúncia do Ministério Público protocolada nesta quinta-feira (9), o Tribunal de Justiça de São Paulo, se acatar o pedido, decidirá pela absolvição ou condenação do vereador.

Uma líder comunitária, que acompanhava Cristófaro na ocasião, também foi denunciada pelo Ministério Público.

Camilo Cristófaro responde processo de cassação por racismo na Câmara de São Paulo - Afonso Braga/CMSP/Divulgação

Cristófaro não respondeu à reportagem até a publicação deste texto. Na terça (7), ele solicitou na Câmara uma licença médica por dez dias por ter contraído Covid-19.

O vereador também é investigado pela Polícia Civil em outro inquérito e responde a um processo de cassação na Corregedoria da Câmara Municipal por ter dito a frase "não lavaram a calçada, é coisa de preto", durante uma sessão no dia 3 de maio.

O caso de Dilza, revelado pela Folha com exclusividade no dia 18 de maio, não foi denunciado à Corregedoria da Casa.

Dilza registrou um boletim de ocorrência em maio de 2020, e o inquérito foi concluído pela Polícia Civil somente em maio de 2022.

Aos policiais, Dilza contou que, durante o seu trabalho na Associação dos Recicladores do Parque do Gato, na região do Bom Retiro, foi abordada pelo vereador, que passou a xingá-la. Segundo trechos do boletim de ocorrência eletrônico, o parlamentar teria dito que a vítima é "uma nega safada, que está roubando a comunidade no valor de R$ 4.000 por mês por pessoa", "negra traficante, safada, bandida" e "negra golpista e oportunista".

Segundo ela, Cristófaro foi até o terreno que abriga a associação, na avenida Presidente Castelo Branco, altura do número 5.200, para dizer que o local deveria ser desocupado.

A associação já havia recebido um auto de intimação, elaborado pela Prefeitura de São Paulo, para desocupar a área ou apresentar uma defesa no prazo de 15 dias.

"O interesse do Camilo era o de ceder o terreno à escola de samba Vai-Vai", afirmou Dilza à Folha, no mês passado.

"O Camilo já chegou colocando o dedo na minha cara e me xingando de todos esses nomes", afirma a mulher.

Em sua denúncia, o promotor Simonetti afirma que o vereador, além de proferir injúrias racistas, fez ameaças a Dilza. O vereador, conforme escreveu Simonetti, anunciou à mulher: "Eu sou sobrinho do subprefeito da Sé que está vindo aí te prender".

"As injúrias racistas e a ameaça levaram a vítima, amedrontada, a fugir do local. As condutas típicas foram praticadas na presença de, ao menos, sete pessoas que frequentavam a associação, tornando o dano à honra subjetiva da vítima ainda mais grave", afirmou o promotor de Justiça na denúncia.

Dilza acusa vereador Camilo Cristófaro de injúria racial e ameaça - Rubens Cavallari - 10.mai.2022/Folhapress

O crime de injúria racial tem como pena reclusão de um a três anos e multa e o de ameaça prevê reclusão de seis meses a dois anos.

"Não há o que se comemorar num processo penal, não há como desfazer as ofensas e humilhações que Dilza passou, mas a Justiça pode e deve combater esse tipo de conduta", disse o advogado de Dilza, Jorge Ferreira.

Ao longo da investigação, oito testemunhas prestaram depoimento. Cristófaro ignorou todas as intimações, segundo relatório de investigação.

"Em suma, todos os depoimentos corroboram para a ocorrência de crime de Injúria Racial", concluiu o delegado Paulo César da Costa.

Em maio, quando a Folha publicou a existência deste caso, o vereador escreveu pelo WhatsApp que não conhece Dilza e que, na única vez em que esteve na delegacia, o escrivão não pôde atendê-lo e ficou de marcar uma nova data para o depoimento.

Sobre a frase dita durante audiência na Câmara, o vereador afirmou na época que não é racista, e sua assessoria divulgou nota na qual diz que ele "pede desculpas a toda população negra".

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