Polícia indicia suspeito de agressão a mulher trans em feira agropecuária em SP

Homem disse ter revidado; boletim de ocorrência foi registrado como lesão corporal e injúria

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A Polícia Civil indiciou nesta terça-feira (14) um homem suspeito de ser autor das agressões a uma mulher transexual que estava com seu namorado durante um show sertanejo na 51ª Expoagro, em Franca (400 km de São Paulo). Ele deve ser ouvido esta semana.

O caso ocorreu no dia 26 de maio e viralizou nas redes sociais. Vídeo feito por pessoas que estavam próximas mostra a mulher trans, com camisa vermelha, sendo espancada.

imagem borrada de vídeo mostra tumulto de três pessoas durante agressão
Mulher transexual (de vermelho) é agredida durante show no interior de São Paulo - Reprodução

Nas imagens, é possível ver pessoas tentando interromper a briga. O boletim de ocorrência foi registrado como lesão corporal e injúria.

Em nota, a organização da Expoagro declarou que repudia "qualquer ato de violência e agressão durante o evento", e que reitera "o seu total apoio às vítimas", estando à disposição das autoridades.

Segundo a feira, a segurança foi acionada, mas "ao chegar para prestar o atendimento, as vítimas já não estavam no mesmo local" e que toda "equipe do evento é treinada para inibir qualquer ato de violência e agressão."

Segundo a Polícia Civil, até agora apenas um suspeito foi identificado e intimado para esclarecimentos.

Em entrevista para a Folha, a mulher agredida, que pediu para não ter seu nome divulgado, afirmou estar com medo do agressor encontrar seu endereço. Aos 27 anos de idade, ela é auxiliar de cozinha e está há um ano e meio com o namorado, de 23 anos. O casal disse ser fã de sertanejo.

Com o maxilar ainda doendo, contou que não tem saído de casa sozinha, apenas acompanhada de amigos, namorado ou familiares. Também disse que se identifica como mulher trans e não como travesti —no vídeo, ela é chamada de travesti pelo homem que a agride.

Uma amiga dela que estava no show no evento disse que também não tem saído de casa.

O suspeito de agressão é o mestre de obras Augusto César. Ele disse à Folha que tem recebido ameaças online após o episódio. Um outro homem suspeito da agressão não teve a identidade revelada.

A mulher de Augusto, que aparece no vídeo tentando tirá-lo da briga, perdeu o emprego por causa do vídeo, segundo o mestre de obras. "Falaram que ela estava expondo a empresa. Estava lá há um ano", disse ele.

Sobre as agressões mostradas no vídeo, Augusto César disse que foi agredido e que revidou, mas não registrou boletim de ocorrência.

"Ela [a mulher trans] achou que a gente estava rindo dela e veio para cima. [Se eu pudesse voltar atrás], eu tinha saído de perto, antes dela me agredir, porque foi onde perdi minha cabeça, na hora que fui agredido. Ela estava usando droga, estava fora do normal", afirmou o acusado.

A mulher negou ter agredido ele primeiro e afirmou que não usou substâncias ilícitas, mas que não queria detalhar o episódio para não atrapalhar o processo.

A Secretaria de Cidadania e Justiça estadual, com base no vídeo da briga, abriu um inquérito administrativo por discriminação.

Os organizadores do evento podem ser advertidos ou penalizados com multas que variam de R$ 32 mil a R$ 96 mil. Para reincidências, a penalidade aplicada a pessoas físicas e jurídicas pode chegar a R$ 320 mil.

"No caso de Franca, já oficiamos a feira para obter informações e a polícia civil nos encaminhou vídeos do local, depoimento e o boletim de ocorrência", afirmou Fernando José Costa, secretário da pasta.

Diante da repercussão nacional do caso, o advogado Guilherme Cortez, do Coletivo Afronte de Franca, e a vereadora paulistana Erika Hilton (Psol), presidente da CPI da Violência contra Trans e Travestis, protocolaram no site do Ministério Público um pedido de investigação.

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