Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Ex-chefe da Polícia Civil é preso sob acusação de atuar pelo jogo do bicho

Allan Turnowski é candidato a deputado pelo PL e comandou órgão na gestão Cláudio Castro

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Rio de Janeiro

O delegado Allan Turnowski, que chefiou a Polícia Civil fluminense até março, foi preso nesta sexta-feira (9) sob suspeita de colaborar com contraventores do jogo do bicho.

De acordo com investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro, Turnowski é acusado de receber propina da contravenção. A Promotoria ainda não divulgou detalhes da denúncia, ainda sob sigilo.

Allan Turnowski, ex-chefe da Polícia Civil do RJ, deixou o cargo para se candidatar a deputado federal - allanturnowski no Instagram

Também foi alvo de busca e apreensão o delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, ex-chefe do Departamento-Geral de Homicídios. Ele é candidato a deputado estadual pelo Podemos.

O advogado de Turnowski, Fernando Drumond, afirmou que irá se posicionar quando tiver acesso ao processo.

Na tarde desta sexta, a defesa do delegado disse ter solicitado à Justiça a soltura imediata dele "em virtude do desconhecimento do processo".

Segundo a assessoria de imprensa do delegado, ele desconhecia o motivo da prisão dele e a atribuiu a "um movimento de perseguição política".

Em vídeo divulgado em suas redes sociais, gravado um mês antes da prisão, o delegado também afirma estar sendo vítima de uma perseguição política.

"Por que vão entrar na minha casa? Por perseguição política, porque vocês sabem que estou forte na minha campanha. E como deputado federal, o jogo vai inverter. Hoje, só vocês podem armar para mim. Mentiras, inverdades, fazer uma costura para tentar me desmoralizar", diz Turnowski, candidato pelo PL.

A defesa de Antônio Ricardo declarou que "não há nenhum envolvimento dele em atos criminosos vinculados com contraventores do jogo ilegal".

"Após 23 anos combatendo o crime, sem nenhuma mácula em sua vida profissional, a defesa esclarece que respeita o trabalho realizado, porém não condiz com a realidade. O fato será esclarecido e sua inocência será comprovada", afirmou a advogada Adriana Glauco, em nota.

A Polícia Civil afirmou, em nota, que ainda não recebeu a denúncia, mas disse que foi na atual gestão "que os três chefes das principais facções da contravenção, Rogério Andrade, Bernardo Bello e José Caruzzo Escafura, o 'Piruinha', foram investigados e tiveram os pedidos de prisão solicitados à Justiça".

Uma possível investigação contra o ex-secretário já era comentada nos bastidores da Polícia Civil desde a busca e apreensão em maio na casa do inspetor Vinicius de Lima Gomez, ligado a Turnowski, na Operação Calígula, sob suspeita de atuar em favor do bicheiro Rogério Andrade.

De acordo com denúncia do Ministério Público, o agente "ostenta uma peculiar proximidade tanto com os supostos criminosos atuantes no estado do Rio de Janeiro, quanto com agentes públicos que ocuparam o alto escalão da Polícia Civil fluminense".

"No material probatório, há um volume relevante e muito significativo de dados que confere plausibilidade à afirmação do MP de que o denunciado Vinícius é personagem emblemático, especialmente porque flutua com peculiar destreza entre os dois polos de uma conturbada e inexplicável relação de proximidade existente entre a polícia e o crime organizado", diz trecho da denúncia.

Um dos acusados na Calígula é o ex-PM Ronnie Lessa , acusado de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes. A apuração teve como objetivo desarticular um esquema para proteger uma organização criminosa especializada em jogos de azar. Rogério Andrade também foi alvo de mandado de prisão nesta operação, e ficou foragido por três meses.

Lessa e Turnowski trabalharam juntos. O ex-PM atuou com adido na Polícia Civil em delegacias especializadas de roubo de cargas e armas.

A proximidade entre os dois aparece em mensagens encontradas no celular de Lessa após sua prisão, em março de 2019, enviadas por Vinicius Gomez.

"Estou com Allan, te mandou um abraço", diz Gomez a Lessa, em diálogo ocorrido dois meses após a morte da vereadora. Lessa ainda não havia sido preso pelo crime. O ex-PM responde: "Ok, manda outro para ele".

No vídeo gravado em agosto, o delegado chamava os promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado), responsáveis pela investigação contra ele, de "escória do Ministério Público", "arapongas" e "canalhas".

"Eu não posso investigar vocês, porque vocês são protegidos. Mas vocês não merecem a proteção que o Ministério Público tem. Vocês são a exceção, a escória do Ministério Público. Eu vou ser deputado federal e vou abrir investigação contra vocês. Vocês são canalhas, arapongas. Viveram fazendo falsos dossiês no Rio de Janeiro."

Ele também diz que já foi perseguido politicamente no passado, em referência ao indiciamento de que foi alvo em 2011 sob suspeita de vazar uma operação da Polícia Federal a um investigado. O caso, porém, foi arquivado a pedido do Ministério Público.

"Já fui perseguido politicamente há alguns anos atrás. Eu avisei que seria absolvido e acabou que não fui nem processado. Apenas atingiram a minha imagem, me tiraram da chefia e eu fiquei anos fora da Polícia Civil."

Turnowski foi secretário da Polícia Civil da gestão Cláudio Castro (PL), mas deixou o cargo para se candidatar a deputado federal pelo PL. Uma de suas bandeiras de campanha era a operação feita no Jacarezinho em maio de 2021, em que 27 pessoas foram mortas pela polícia —o número de vítimas da favela integrava o número de urna do delegado.

No último 7 de Setembro, Turnowski participou do ato de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) na praia de Copacabana. O delegado tem forte ligação com o senador Flávio Bolsonaro (PL), visto como um dos fiadores de sua nomeação ao cargo no governo fluminense.

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