'Armaram para mim', diz Celsinho da Vila Vintém ao deixar presídio no Rio

Fundador de facção ficou 20 anos na cadeia; Promotoria questiona inquérito que serviu de base para uma das condenações

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Rio de Janeiro

Com blusa branca e calça jeans, uniforme padrão dos presidiários, o traficante Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, deixou nesta quarta (19) o presídio na zona oeste do Rio de Janeiro.

"Armaram para mim. Paguei minha cadeia toda. Só quero que me deem uma oportunidade para viver", disse a jornalistas. Celsinho tem 52 anotações criminais e é conhecido por ter sido o fundador da ADA (Amigo dos Amigos), uma das facções do tráfico de drogas fluminense.

Celsinho da Vila Vintém participou de julgamento como testemunha do traficante Fernandinho Beira-Mar, em 2015 - Ricardo Borges - 13.maio.2015/Folhapress

O traficante estava preso desde 2002, quando era considerado o criminoso mais procurado do Rio. Sua liberdade foi concedida após a Promotoria levantar suspeitas sobre o inquérito que serviu como base para mais uma condenação, que o manteria outros 15 anos na cadeia.

Investigação de 2017 feita pelo delegado Antônio Ricardo Nunes, então titular da 11ª DP (Rocinha), indiciou Celsinho por suspeita de articular, mesmo preso, uma invasão na comunidade. No entanto, a Promotoria afirma que não há provas. Agora, Nunes diz ter sido vítima de armação do delegado Maurício Demétrio, que está preso acusado de comandar um esquema de propina.

"Fui vítima de uma armação praticada pelo delegado Maurício Demétrio. Ele tem o costume de prejudicar autoridades no Rio de Janeiro. Tentou produzir dossiês contra o prefeito, tentou prejudicar desembargadores e prender delegados. É mais uma armação do Maurício Demétrio. Confio na Justiça, confio na minha absolvição sumária", afirmou Nunes, em um vídeo divulgado nesta quarta.

Segundo investigação da Promotoria, Demétrio atuaria em favor do jogo do bicho junto com o ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski. Para ajudar um bicheiro que atuava na zona oeste do Rio, que seria área de influência de Celsinho, tentou a transferência do criminoso para uma penitenciária de segurança máxima.

Ainda de acordo com a Promotoria, Celsinho foi incluído no inquérito da invasão da Rocinha com a suposta ajuda do delegado Nunes, com o intento de beneficiar o bicheiro, a partir de pagamento de propina. A investigação foi baseada em mensagens extraídas do celular de Demétrio.

Em uma das mensagens, Demétrio comemora junto com o suposto contato do jogo do bicho o mandado de prisão enviado por Nunes com o nome de Celsinho. Nas mesmas mensagens, Demétrio afirma que não há provas contra o traficante.

"Aí, o Juiz deu! (Nunes) Acabou de me chamar aqui. O Juiz deu! Vai me mandar foto. Hehehe! Ae, mermão, quando eu falo que eu resolvo, eu resolvo. Não falei que eu ia ajudar!", diz Demétrio em ligação ao homem que seria seu contato com o bicheiro, em trecho extraído da denúncia da Promotoria.

Turnowski, que passou 21 dias preso em setembro por conta da investigação da Promotoria, nega envolvimento com o jogo do bicho e Demétrio.

Em nota enviada na terça (18), o advogado de Demétrio, Leonardo Dickinson, afirmou que "a defesa do delegado Maurício Demétrio entende que as alegações trazidas pelo Ministério Público não condizem com a realidade e confia na absolvição integral do delegado ao final da ação penal".

Ainda na saída do presídio, Celsinho disse que não pretende voltar ao crime. "Quero voltar a viver uma nova vida. A sensação [de liberdade] é a melhor possível", disse, acenando para um homem que gritou "nós te amamos, Celsinho".

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