Descrição de chapéu casamento

Casamento em Noronha é adiado após noivos e convidados ficarem sem passagens

Por segurança, Anac proibiu turbojatos no arquipélago; casal tem recebido críticas e mensagens de apoio na internet

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São Paulo

A analista administrativa Rosania Vargas, 33, e o publicitário Felipe Demarco, 34, moradores do Rio de Janeiro, viram o sonho de celebrar o casamento em Fernando de Noronha ser adiado em razão da proibição de aviões a jato no arquipélago. A história do casal tem atraído mensagens tanto de ataque quanto de carinho.

"Eu estou com a minha caixa de mensagens diretas no Instagram cheia de recados de pessoas que não conheço. Algumas são muito maravilhosas e trazem relatos parecidos, mas também estou recebendo ódio gratuito, mensagens ironizando a nossa dor", conta a noiva, que já tinha tudo contratado para a cerimônia, marcada para 29 de outubro com 44 convidados, entre eles parentes e amigos de diferentes regiões do Brasil e até da Noruega.

Rosania Vargas e Felipe Demarco em ensaio pré-wedding improvisado por amiga no Rio de Janeiro; casamento terá de ser adiado após mudança nos voos para Fernando de Noronha - Arquivo Pessoal

O caso também repercutiu no Facebook, onde há milhares de manifestações críticas e solidárias. "Reflete muito o Brasil que vivemos hoje, totalmente polarizado, uma sociedade doente que não consegue se solidarizar com a dor do próximo e que crê ter poder e capacidade de julgar sem conhecer, sem entender", afirma Demarco.

Muitas das críticas minimizam o caso, comparando-o a graves problemas como a fome no país e as mortes na pandemia de Covid-19. Para os noivos, uma dor não exclui a outra. "Sabemos que existem problemas muito mais sérios, muito mais dolorosos, e tentamos fazer nossa parte para ajudar. Nosso problema, de uma forma ou de outra, vai ter solução, mas uma coisa não exclui a outra. Ainda mais assim, atacar gratuitamente, julgar sem conhecer", considera o publicitário.

Eles afirmam que não esperavam a repercussão –no sábado (22), após dar entrevista, Rosania foi reconhecida no trem– e que a reverberação não afetou a forma como as companhias aéreas Gol e Azul respondem à situação. "As empresas não entraram em contato, só advogados se oferecendo para atender, mas já temos o nosso."

Os noivos souberam da decisão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) de proibir turbojatos até que sejam realizados ajustes na pista do aeroporto por meio do cerimonialista da festa. Depois, começaram a chegar emails da Gol informando o cancelamento dos voos. Como nas mensagens não havia opção de remarcação, apenas reembolso ou crédito para outro destino, eles começaram a buscar alternativas para manter o evento.

Rosania relata que tentou os canais de atendimento da empresa e, como não conseguiu avançar na resolução, passou a comentar em postagens da Gol nas redes sociais. No dia último dia 17, ela afirma que uma funcionária entrou em contato informando que eles tentariam realocar o grupo em voos da Azul, que continua operando em Fernando de Noronha através de aviões turboélice, e que estavam trabalhando para que tudo fosse resolvido.

"Ficamos aguardando o contato. Enquanto isso, os fornecedores ficavam nos pressionando, querendo saber se podiam comprar as flores, finalizar a encomenda de bem-casados... Mandei emails pedindo uma luz sobre o que estava acontecendo e na quinta, dia 20, eles ligaram. Disseram que na sexta teríamos as passagens remarcadas, para ficarmos tranquilos que o casamento ia acontecer. Comecei a acionar os convidados, perguntar a disponibilidade de cada um para adiantar a viagem ou mudar a data de retorno e deixei tudo compilado, esperando retornarem para resolvermos os localizadores de cada um", conta.

A notícia recebida na sexta, porém, foi diferente do esperado. "A funcionária ligou falando que não conseguiram resolver o meu problema e que não podiam fazer mais nada por mim. Achei até que fosse piada, fiquei em silêncio. Depois perguntei se era sério. Meu mundo caiu ali", relata ela.

A noiva diz ainda que tentou mobilizar a Azul, compartilhando a situação em mensagens para a companhia e pedindo ajuda para a realocação, mas não teve retorno, e que seria um custo inviável para eles e para os convidados adquirirem novas passagens aéreas agora ou fretarem um avião.

"Esperávamos uma postura mais acolhedora e mais empática das empresas."

"Um sonho que era só nosso, de conhecer Noronha e casar de frente para o morro Dois Irmãos, passou a ser sonhado por 46 pessoas", diz Rosania. "Não se resume a uma lembrancinha com a data. Há muita coisa envolvida. São nossos sonhos, nossos planos, vamos ter que adiar, por exemplo, os planos de ter filho", complementa o noivo.

"E aí culminar com essa série de julgamentos e ataques machuca porque sabemos o quanto lutamos. Desde o noivado, em outubro de 2020, estamos juntando dinheiro. Foram muitos fins de semana trabalhando, muitas madrugadas, feriados, muito trabalho extra, muita luta. Foram dois anos de preparação, de economia", lamenta.

O casal diz que deve manter a lua de mel em Jericoacoara, no Ceará, para não ter mais prejuízos, mas acredita que o clima será muito diferente da felicidade da despedida de solteiro, por exemplo. A comemoração ocorreu em 1º de outubro, antes da decisão da Anac.

"A Rosania está tentando juntar os caquinhos e estamos recebendo o apoio de nossos amigos e familiares. Agora que sabemos que não será como planejamos, na data que planejamos, vamos entender o que podemos ou não mudar", afirma o publicitário.

Questionada, a Gol afirma que priorizou a comunicação com todos os consumidores envolvidos desde o anúncio da Anac, com emails, SMS e ligações para que os impactos fossem minimizados.

Declara ainda que clientes que compraram bilhetes diretamente com a companhia para voos com destino ou partida de Fernando de Noronha a partir de 12 de outubro podem remarcar suas viagens, pedir crédito ou reembolso diretamente neste link ou ligar para a central de atendimento no 0300-115 2121.

As remarcações, contudo, dependem da disponibilidade de lugares vagos em voos de companhia congênere, ressalta a empresa.

A Azul informa que, até o fim do mês, terá dez voos diários regulares entre Recife e Noronha, sendo cinco em cada sentido, além de operações extras para garantir a capacidade de oferta. A companhia diz que já reacomodou todos os seus clientes impactados pela restrição de operação de jatos e, agora, disponibiliza venda de passagens com embarques nos meses de outubro e novembro.

A empresa afirma ainda que as aeronaves do modelo ATR72-600 que estão sendo utilizadas têm capacidade para transportar até 70 clientes e que, a partir de novembro, irá operar 16 voos entre Recife e Noronha.

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