Dono de uma trajetória de lutas e uma das figuras mais ativas da resistência armada à ditadura militar, Diógenes José Carvalho de Oliveira construiu um legado em defesa da democracia.
Gaúcho de Júlio de Castilhos, engajou-se no Partido Comunista Brasileiro aos 17 anos. Cerca de dois anos depois, participou do Movimento da Legalidade.
Bancário e eletricitário, atuou pelas categorias como sindicalista. Participou da resistência ao golpe civil–militar.
Perseguido, ficou exilado em Montevidéu e, em 1966, esteve em Cuba.
De volta ao Brasil, esteve entre os fundadores da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Preso em fevereiro de 1969, em Mirandópolis, na zona sul de São Paulo, foi levado ao quartel da Polícia do Exército e torturado. Depois, permaneceu por alguns meses no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). De lá o transferiram ao presídio Tiradentes e, depois, à penitenciária do Carandiru.
No fim, foi enviado ao México em troca do cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi, que fora sequestrado pela VPR. Passou por Cuba, Coreia do Norte, Chile, Bélgica e Portugal. Viveu ainda em Guiné-Bissau, seu último refúgio, por oito anos.
De volta ao Brasil, recomeçou a vida. Engajou-se na construção do PT, em Porto Alegre, onde concorreu a uma vaga como vereador. Em 1990, atuou como secretário dos transportes em uma das primeiras prefeituras de capital do PT, com Olívio Dutra à frente.
"Diógenes foi uma pessoa que dedicou toda a sua energia na defesa dos mais pobres, dos mais fracos, dos que não têm voz. Resistiu à tortura, enfrentou golpes de todo o tipo —até os midiáticos. Atravessou o mundo ensinando gerações a lutar. Com o lenço maragato, gostava de cantar e de dançar, sonhando com a pátria grande. Raras vezes o povo gera um personagem assim: um revolucionário por inteiro", afirma a jornalista Eleonora de Lucena, 64, editora do TUTAMÉIA.
Além de política, Diógenes gostava do cotidiano, de construir histórias e das pessoas. Deu a elas o valor que não depositava em roupas de grife e carros luxuosos. Era um homem do povo, um autêntico comandante popular.
Despediu-se da vida aos poucos. Viveu intensamente o primeiro turno das eleições, participou de atividades partidárias do PT no Rio Grande do Sul e do pré-lançamento da candidatura do Lula em Porto Alegre.
"Meu pai é um símbolo dessa geração. Viveu todos os problemas que essa geração enfrentou. Lutou contra a ditadura, foi preso, torturado e voltou anistiado. Viveu a década de 80, a construção do Brasil, a construção do PT na década de 1990", diz o jornalista Guilherme Fernandes de Oliveira, 35, um dos filhos.
"Em 2001, foi um dos primeiros a cair com a perseguição à esquerda. Não só garantiu o governo do Olívio Dutra como também, em grande parte, o governo do Lula. Nesses últimos três meses, ele saiu às ruas, colocou suas ideias, foi aplaudido pelas pessoas. Foi uma despedida."
O ex-guerrilheiro morreu na última sexta (28), aos 79 anos, de broncopneumonia. Separado de Marilinda Marques Fernandes, deixou os filhos Rodrigo e Guilherme Oliveira.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.