Professora é a 4ª vítima dos ataques a escolas de Aracruz (ES)

Flávia Amboss estava em estado gravíssimo; cinco pessoas continuam hospitalizadas, incluindo uma adolescente de 14 anos que está intubada

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São Paulo

Subiu para quatro o número de mortos em ataques a tiros a duas escolas em Aracruz (ES). A professora Flávia Amboss Merçon Leonardo dava aula de sociologia na escola estadual Primo Bitti e estava internada em estado gravíssimo. A Secretaria da Educação do estado e pessoas próximas ouvidas pela reportagem afirmam que ela tinha 36 anos.

Flávia era ativista do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e, em abril, defendeu sua tese de doutorado em antropologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) sobre as consequências do desastre ambiental de Mariana para moradores do litoral capixaba.

Quatro das vítimas hospitalizadas após os atentados estão internadas em estado grave, segundo o boletim. Entre elas está um menino de 11 anos, que passou por cirurgia, e uma adolescente de 14 anos, que também precisou de procedimento cirúrgico e está intubada. Os dois estão no Hospital Estadual Nossa Senhora da Glória, em Vitória.

Mulheres se abraçam após ataque a tiros em duas escolas de Aracruz, no Espírito Santo; adolescente armado matou três pessoas e outras cinco estão internadas em estado grave - Kadija Fernandes/AFP

Duas mulheres, de 45 e 52 anos, também tiveram de ser operadas e estão em estado grave na UTI. Elas foram levadas de helicóptero para o Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neve, em Serra (ES).

Em hospitais públicos ainda há uma quinta pessoa ferida, uma mulher de 58 anos, está internada no Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, na capital Vitória. Ela passou por cirurgia e seu estado estável, segundo a secretaria.

Outras duas mulheres, de 37 e 40 anos, estão internadas na enfermaria do Hospital e Maternidade São Camilo, em Aracruz. Segundo boletim divulgado na tarde deste sábado, elas estão na enfermaria do hospital privado com quadro estável.

Nas redes sociais, o grupo de pesquisa do qual Flávia Amboss fazia parte publicou uma nota de pesar em que destacou que a educadora era "comprometida com as comunidades com as quais conviveu" e havia "recém-cumprido, com brilho, uma etapa importante da sua formação profissional" com a conclusão do doutorado.

"Estava cheia de planos e tinha a vida pela frente. Sua morte brutal, assim como as das demais vítimas, nos coloca diante das feridas abertas deste país, e nos convoca a todas e todos a refletirmos sobre os efeitos do culto ao ódio e à intolerância, e ao elogio de si por meio das armas", escreveram os pesquisadores do Gesta (Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais), da UFMG.

"Descanse em paz, Flavia querida. Você lutou por um mundo melhor. Devemos honrar sua memória", escreveu em outro post a professora Andréa Zhouri, orientadora de Flávia no doutorado.

Como foram os ataques

As outras três mortes nos ataques a tiros em duas escolas, uma pública e uma particular, foram registradas na sexta (25).

Um ex-aluno de 16 anos, transferido em junho da escola estadual e filho de policial militar, foi apreendido como suspeito de cometer o crime. Materiais com a suástica, símbolo nazista, foram recolhidos em sua casa.

Os ataques foram registrados nas escolas Primo Bitti, pública, e Centro Educacional Praia de Coqueiral, particular, próximas uma da outra, no município de 104 mil habitantes no interior capixaba.

A ação começou pela escola pública, onde duas pessoas morreram e outras nove foram atingidas por disparos, de acordo com o secretário da Segurança Pública e da Defesa Social do Espírito Santo, Marcio Celante.

O atirador entrou no local por volta das 9h, após arrombar um cadeado. A ação ocorreu dentro da sala dos professores. As docentes Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e Maria da Penha Pereira, 48, morreram.

Depois do ataque inicial, ele se deslocou de carro para o Centro Educacional Praia de Coqueiral, que é particular e fica na mesma avenida, a cerca de um quilômetro de distância. No local, o adolescente fez mais três vítimas, todas estudantes. Uma delas morreu, Selena Sagrillo Zuccolotto, 12, morreu.

O suspeito de cometer o crime foi apreendido por volta das 15h30, na própria cidade. De acordo com o governador Renato Casagrande (PSB), ele que estudou na Primo Bitti até junho, quando foi transferido a pedido da família.

O estudante teria utilizado duas armas do pai para cometer os ataques, sendo uma pistola semiautomática e um revólver, segundo a Polícia Civil. O carro usado para o deslocamento até as duas escolas também era do pai.

"Ele planejou essa ação durante dois anos, mas não falou qual foi o motivo [...] Ele estava em estado de choque, mas tranquilo, e não conseguimos observar se ele mostrava arrependimento", disse o superintendente da regional norte da Polícia Civil do Espírito Santo, João Francisco Filho.

Neste sábado, o atacante Richarlison, autor dos dois gols na estreia do Brasil na Copa do Mundo contra a Sérvia, na quinta (24), publicou uma mensagem nas redes sociais se solidarizando com as vítimas.

"Minha solidariedade e tristeza pelo que aconteceu ontem no meu estado, em Aracruz. Professoras e uma criança morta. Coisa impossível de acreditar que ainda aconteça. Muita força e carinho pras famílias e amigos", escreveu o jogador, que é capixaba —ele nasceu em Nova Venécia, a cerca de 180 km de distância da capital Vitória.

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