Ataques em duas escolas em Aracruz (ES) deixam 3 mortos e 11 feridos

Ex-aluno e filho de PM, adolescente de 16 anos foi apreendido após o crime; atirador usava suástica no braço

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São Paulo e Aracruz (ES)

Ataques a tiros em duas escolas, uma pública e uma particular, em Aracruz, no Espírito Santo, deixaram três mortos e 11 feridos na manhã desta sexta-feira (25). Quatro dos feridos, entre eles uma criança, estão internados em estado grave.

Um ex-aluno de 16 anos, transferido em junho da escola estadual e filho de policial militar, foi apreendido como suspeito de cometer o crime. Materiais com a suástica, símbolo nazista, foram recolhidos em sua casa.

Os ataques foram registrados nas escolas Primo Bitti, pública, e Centro Educacional Praia de Coqueiral, próximas uma da outra, no município de 104 mil habitantes no interior capixaba.

Policiais na entrada da escola estadual Primo Bitti, uma das duas em que ocorreu ataque em Aracruz
Policiais na entrada da escola estadual Primo Bitti, uma das duas em que ocorreu ataque em Aracruz - Kadija FernandesAFP

A ação começou pela escola pública, onde duas pessoas morreram e outras nove foram atingidas por disparos, de acordo com o secretário da Segurança Pública e da Defesa Social do Espírito Santo, Marcio Celante.

O atirador entrou no local por volta das 9h, após arrombar um cadeado. A ação ocorreu dentro da sala dos professores. As docentes Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e Maria da Penha Pereira, 48, morreram.

Depois do ataque inicial, ele se deslocou de carro para o Centro Educacional Praia de Coqueiral, que é particular e fica na mesma avenida, a cerca de um quilômetro de distância. No local, o adolescente fez mais três vítimas, todas estudantes. Uma delas morreu.

Familiares foram até o local dos ataques para fazer o reconhecimento do corpo e identificaram a jovem como Selena Sagrillo Zucolotto, 12, aluna do sexto ano.

Diante dos ataques, a Secretaria da Saúde do Espírito Santo precisou ativar o Plano de Atendimento a Múltiplas Vítimas, em que todas as portas de saúde para urgências e emergência de alta complexidade para atendimento são comunicadas e preparadas para atendimento às vítimas.

Após os ataques, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) atendeu 16 pessoas, sendo que três já estavam mortas ao chegarem ao local.

De acordo com a secretaria, três mulheres estão internadas no Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves, no município de Serra. Elas foram transferidas por helicóptero e estão em estado grave, sendo encaminhadas ao centro cirúrgico.

Uma outra vítima adulta foi levada para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, também na capital. Ela foi atingida na perna por um disparo, mas sem gravidade.

Duas crianças foram levadas para o Hospital Estadual Nossa Senhora da Glória, em Vitória. Uma delas está em estado "gravíssimo", segundo a Secretaria da Saúde.

As demais vítimas foram atendidas e liberadas sem apresentar gravidade.

Terror

Alunos das duas escolas atacadas pelo atirador relatam pânico e correria enquanto o atirador efetuava os disparos.

De acordo com alunos, alguns estudantes chegaram a pular o muro da escola para fugir —um deles, inclusive, fraturou uma das pernas.

"O recreio tinha acabado. Foi quando eu escutei dois disparos. Um amigo foi ver o que era e viu um cara estranho na rampa da escola, subindo para o segundo andar. Todo mundo saiu correndo. Quando passei por ele, vi ele efetuando um disparo. Foi muito desespero, correria, uma situação horrível por não saber se meus amigos estavam vivos", disse o estudante Guilherme Loureiro, 16, que conhecia a aluna que foi morta.

Ele disse ainda que será difícil voltar para a escola e que a estudante era muito querida por todos. "Hoje mesmo eu havia conversado com ela."

Na porta da escola, enquanto a perícia da Polícia Civil fazia o trabalho, estudantes e pais de alunos ainda estavam em choque.

Uma estudante de 17 anos, que pediu para não ser identificada, contou que as crianças eram as mais assustadas, chorando e pedindo pelos pais o tempo todo.

Ela conta que estava no pátio quando escutou o tiro e o professor mandou todos correrem.

Armas do pai

O suspeito de cometer o crime foi apreendido por volta das 15h30, na própria cidade. De acordo com o governador Renato Casagrande (PSB), trata-se de um adolescente de 16 anos que estudou na Primo Bitti até junho, quando foi transferido a pedido da família.

O estudante é filho de um policial militar e teria utilizado duas armas do pai para cometer os ataques, sendo uma pistola semiautomática e um revólver, segundo a Polícia Civil. O carro usado para o deslocamento até as duas escolas também era do pai.

"Ele planejou essa ação durante dois anos, mas não falou qual foi o motivo [...] Ele estava em estado de choque, mas tranquilo, e não conseguimos observar se ele mostrava arrependimento", disse o superintendente da regional norte da Polícia Civil do Espírito Santo, João Francisco Filho.

Durante o ataque, o adolescente também usava uma roupa camuflada e uma suástica, símbolo do nazismo, no braço. Na casa do jovem, a Polícia Civil também encontrou e apreendeu outros materiais com o símbolo nazista.

De acordo com a família em depoimento para a polícia, o jovem fazia tratamento psicológico, mas os motivos não foram informados.

"Na ficha dele não consta nenhuma anotação sobre problemas que não são pedagógicos. Não havia nenhum conflito envolvendo esse aluno", afirmou o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo.

Conforme o secretário Celante, o autor dos tiros estava com o rosto coberto e vestido com uma roupa camuflada.

"Ele arrombou um cadeado para ter acesso à escola. E próximo a esse acesso do portão estava a sala dos professores. Ele teve acesso direto à sala dos professores naquele momento do intervalo e assim surpreendeu, infelizmente, e vitimou nove professores, que foram socorridos, e dois foram a óbito", disse Celante.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se solidarizou nesta sexta-feira com os familiares das vítimas dos ataques às escolas e disse apoiar o governador Casagrande na apuração do caso e amparo para as comunidades atingidas.

Policiais de Vitória foram acionados para auxiliar nas buscas do atirador. Dois helicópteros da Polícia Militar auxiliaram na busca, que se concentraram no município de Aracruz.

A ação também ganhou o apoio da Polícia Rodoviária Federal para fazer o cerco nas rodovias federais que cortam o estado.

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