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Flordelis afirma que abusos sexuais do marido motivaram crime, mas se diz inocente

Em julgamento, ex-deputada federal chora e relata que Anderson do Carmo era violento contra ela e a família

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Niterói (RJ)

Ao ser ouvida em juízo neste sábado (12), em Niterói (RJ), a ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza relatou que pouco tempo após casar-se com o pastor Anderson do Carmo, a quem acolheu como filho aos 15 anos, passou a viver uma rotina de violência.

"Até na hora do sexo, meu marido só chegava às vias de fato se me machucasse. Ele me enforcou uma vez, desmaiei", disse.

A ex-deputada federal Flordelis, durante o primeiro dia de julgamento na segunda (7) em Niterói (RJ) - Eduardo Anizelli - 7.nov.2022/Folhapress

Desde a última semana, Flordelis está sendo julgada no Tribunal do Júri, acusada de ser a mandante do assassinato de Anderson, morto a tiros na casa em que viviam, em 2019. Ela nega as acusações.

O autor dos disparos, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi condenado em novembro de 2021 a quase 30 anos de prisão.

Neste sábado, indagada pela advogada de defesa, Janira Rocha, se sabia qual seria a motivação do crime, Flordelis atribuiu a abusos sexuais cometidos por Anderson contra a família.

"Hoje sei qual o motivo do crime. Muito difícil para mim falar mas, foi a ciência dos abusos que aconteceram dentro da minha casa", disse.

Essa é a principal linha de defesa de Flordelis, que tenta convencer os jurados de que Carmo era um abusador e esse teria sido o motivo do crime. Já a Promotoria afirma que o assassinato foi motivado por disputas financeiras e de poder no clã.

Ainda segundo fala de Flordelis neste sábado, ela não denunciou o marido pela violência por ser evangélica. "Orava muito, fazia jejum, acreditava em Deus. (...) Aprendi com minha mãe e com a igreja que a mulher deveria ser submissa. Uma vez um pastor conversou com ele, e ele parou de me bater. Mas depois voltou. Voltei a orar e pedir para que outra pessoa aparecesse", disse.

Ao final do seu relato, Flordelis se dirigiu aos jurados e negou novamente participação no crime.

"Só queria dizer para a senhora [juíza] e jurados que estão aqui que eu, em momento algum, mandei ou pensei em matar meu marido. Em momento algum. Estou na cadeia pagando por algo que não fiz. Amava meu marido. Está sendo muito difícil a vida para mim", disse, chorando.

A pastora responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Flordelis afirmou que só passou a saber de abusos sexuais a outros filhos após a morte de Anderson. "Tomei conhecimento somente da Kelly. Mas não quis acreditar. Não acreditava que ele cometeria tal coisa comigo e por tudo que eu parecia representar na vida dele."

O primeiro réu a falar neste sábado foi o filho adotivo André Luiz de Oliveira. Ele afirmou ser inocente das acusações de envolvimento no planejamento da morte de Anderson.

Sobre o relacionamento do pastor e Flordelis, a quem diz considerar como pai e mãe, contou que "ele a tratava como uma princesa". Um dos tesoureiros da igreja de Flordelis, ele disse que a renda mensal da congregação era de R$ 120 mil a R$ 180 mil.

Também depôs Rayane dos Santos Oliveira, neta de Flordelis e que foi adotada por Simone Rodrigues, outra ré. Ela relatou uma série de abusos por parte de Anderson. "Nunca quis denunciar pois era grata à vida que ele me proporcionou", disse.

Já Simone Rodrigues, ré, afirmou que era procurada todos os dias por Carmo com interesses sexuais. "Desabafei com Flávio. Ele me pediu a senha do cofre onde tinha dinheiro, acho que ele comprou a arma com ele. Mas não sabia o que ele iria fazer", disse.

Outra ré, Marzy Oliveira, foi indagada pelo júri a respeito da opinião dela sobre qual deveria ser a pena a um abusador. Ela respondeu: "a morte".

Marzy também afirmou ser inocente, mas confessou que já chegou a arquitetar um plano para assassinar Carmo, que não desenvolveu. "Em um momento de explosão, eu tinha decidido matar. Hoje eu me sinto culpada porque eu comecei com o plano. Não concluí, mas alguém concluiu", disse.

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