Descrição de chapéu Folhajus

'Só aconteceu porque ela permitiu', diz filha de Flordelis sobre morte de pastor

Em júri, outras testemunhas citam suposta ocultação de provas e comunicação na 'língua do pê' dentro de casa

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Rio de Janeiro

Roberta dos Santos, uma das filhas afetivas da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, afirmou nesta quinta-feira (10) que tudo o que acontecia na casa da família tinha a permissão da pastora. Flordelis é julgada no Tribunal do Júri em Niterói (RJ) acusada de ser a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, morto a tiros na casa em que viviam, em 2019. Ela nega as acusações.

Questionada nesta quinta se Flordelis mandou matar o marido, Roberta respondeu que "com certeza".

"Ela era soberana de tudo na casa, e tudo só aconteceu porque ela permitiu que acontecesse", acrescentou.

A filha pediu que a mãe não estivesse no júri, porque não queria falar na presença dela, e Flordelis deixou o plenário pouco antes do início da oitiva neste quarto dia de julgamento. Roberta chorou muito durante seu depoimento.

"Eu não vim falar na frente deles para ver a desgraça deles [três filhos e uma neta de Flordelis também estão no banco dos réus]. Eu não fico nem um pouco feliz de ver eles na situação em que estão. A gente nunca foi uma família normal, mas era uma família. Torta, errada, mas era uma família", disse.

A ex-deputada federal e pastora Flordelis dos Santos de Souza, em julgamento em Niterói (RJ) - Divulgação - 7.nov.2022/TJ-RJ

Questionada pela acusação se já havia presenciado algum episódio de abuso sexual praticado por Carmo, Roberta respondeu que não. Ela contou ainda que o pastor restringia o uso de roupas curtas e biquíni dentro de casa.

"Nunca vi abuso dentro daquela casa. O Niel [como Anderson era chamado na família] não era um abusador. É um deboche contra as mulheres que realmente sofrem abuso sexual. É uma afronta", disse.

A defesa de Flordelis tem questionado todas as testemunhas sobre supostos abusos cometidos por Carmo como uma estratégia para justificar o crime.

Rebeca Vitória Rangel Silva, neta afetiva de Flordelis e sobrinha de Anderson, também falou neste quarto dia de julgamento. Ao júri, ela afirmou que os depoimentos dados à Polícia Civil sobre o crime foram simulados para inocentar a pastora.

"Se alguém dissesse: ‘Para mim, a Flordelis foi a mandante do crime’, respondiam: ‘Não, isso você não pode falar. Tem que falar a favor da Flordelis'", relatou Rebeca —a pedido dela, Flordelis também não estava presente na oitiva.

Última testemunha de acusação a ser ouvida, Erica dos Santos de Souza, outra filha adotiva de Flordelis e Anderson, contou que, dias após o assassinato de Anderson, viu Simone dos Santos de Souza e Rayane —também rés neste júri— escondendo dois telefones celulares durante uma busca e apreensão realizada por policiais na casa da família.

Questionada pela promotoria, ela disse acreditar que os aparelhos seriam de Anderson e de Flávio dos Santos Rodrigues, filho de Flordelis já condenado por ter efetuado os disparos que mataram o pastor. A polícia nunca encontrou os aparelhos.

Sobre a rotina na casa, ela contou que Flordelis, a filha Simone e a neta Rayane se comunicavam em código, "na língua do pê", para que os demais não entendessem o que diziam. E acrescentou que alguns irmãos chegaram a se relacionar amorosamente.

Ainda no júri, Erica afirmou que deixou a casa de Flordelis antes da morte de Anderson porque foi queimada com ferro como castigo por um dos irmãos.

O crime

O pastor Anderson do Carmo foi morto a tiros na garagem da residência da família em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 2019. Ele tinha 42 anos e morava com Flordelis e mais 35 filhos. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo.

As investigações indicaram que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos, colocando arsênico e cianeto na comida dele. A vítima passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.

A pastora, presa desde agosto do ano passado, é ré por suspeita de homicídio triplamente qualificado —por motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima—, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Ela nega todas as acusações.

Também estão no banco dos réus três filhos da pastora —Simone, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira— e a neta Rayane.

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