Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Testemunhas de Flordelis mudam depoimento e acusam pastor assassinado de abusos

No quinto dia de julgamento da ex-deputada, filhos deram versões diferentes das apresentadas durante investigação

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Rio de Janeiro

A noite desta sexta (11) marcou o fim dos depoimentos das testemunhas de defesa no julgamento da ex- deputada federal Flordelis dos Santos de Souza e de outros quatro réus acusados pela morte do pastor Anderson do Carmo em junho de 2019. Filhos e uma neta mudaram versões dadas durante a investigação e, agora, afirmam que a vítima praticava abusos sexuais.

Essa é a principal linha de defesa de Flordelis, que tenta convencer os jurados de que Carmo era um abusador e esse teria sido o motivo do crime. Já a Promotoria afirma que o assassinato foi motivado por disputas financeiras e de poder na família.

A ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza durante julgamento em Niterói (RJ) - Brunno Dantas - 7.nov.2022/TJRJ

Carmo foi morto a tiros, na garagem de casa. O autor dos disparos, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi condenado em novembro de 2021 a quase 30 anos de prisão.

Inicialmente, ao ser questionada se tinha presenciado algo de estranho no quarto que dividia com as irmãs na casa de Flordelis e Carmo, Érika dos Santos chorou muito e preferiu não falar. "Não quero expor minha irmã", disse.

No fim do seu depoimento, Érika pediu para voltar ao assunto e contou ter visto o pastor "passar a mão" em uma das irmãs.

"Uma vez, eu acordei com a Kelly falando assim: 'Sai, sai daqui Niel [Anderson], sai daqui'. Eles não perceberam que eu estava acordada. Ela pediu para ele [parar] e ele continuou passando a mão nela, na bunda dela. E ela dizia: 'Você não pode fazer isso, você é meu pai'. E ele falou que não tinha nada a ver, que ele não tinha filho barbado", disse, aos choros.

A versão dada por Érika diverge da apresentada ao Conselho de Ética e de Decoro Parlamentar da Câmara, quando afirmou que não sofreu ou presenciou abusos sexuais em suas irmãs. Os deputados cassaram o mandato da parlamentar em agosto do ano passado.

Outro filho que mudou a versão contada durante o período de investigação foi Douglas de Almeida Ribeiro.

Ele disse no tribunal que também presenciou abusos praticados por Carmo contra Simone Rodrigues, que é ré, principalmente quando ela estava na cozinha.

Seu testemunho foi seguido pelo de Marcos Silva de Lima, ex-namorado de Simone, que também relatou suspeitas do pastor. "Presenciei ligações insistentes dele e achei estranho. Perguntei para ela o motivo disso. Ela então se abriu e disse que o padrasto tinha isso com ela, essa perseguição", afirmou.

Outra a depor foi Lorrane dos Santos Oliveira, filha de André Luiz, também réu, e de Simone. A neta da ex-deputada federal disse ter sofrido uma série de importunações sexuais de Carmo. Ela afirmou que ele tentou levá-la a um motel. Indagada sobre a razão de não ter relatado o fato aos policiais, ela disse que não se sentiu "confortável pois foi atendida por homens".

Ela afirmou, ainda, que ninguém queria ficar na piscina com Carmo. "Toda vez que ele entrava na piscina, todo mundo saia correndo. Ele brincava de afogar as meninas e aproveitava para desamarrar o biquíni na parte de baixo e de cima", disse.

A última testemunha a depor foi Rafaela dos Santos Oliveira, neta de Flordelis, que relatou acordar com o pastor tocando em seu corpo de forma inapropriada. "Achava que era minha mãe me fazendo carinho, mas a mão foi subindo nas pernas, abri os olhos e vi que era o pastor. Ele introduziu o dedo no meio das minhas pernas", disse.

O depoimento de Rafaela fechou o quinto dia de julgamento, que continuará neste sábado (12).

O CRIME

O pastor Anderson do Carmo foi morto a tiros na garagem da residência da família em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 2019.

Ele tinha 42 anos e morava com Flordelis e mais 35 filhos. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo.

As investigações indicaram que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos, colocando arsênico e cianeto na comida dele. A vítima passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.

A pastora, presa desde agosto do ano passado, é ré por suspeita de homicídio triplamente qualificado —por motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima—, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Ela nega todas as acusações e diz que os promotores que a acusam trabalham para desconstruir sua imagem "como ser humano, como pastora".

Também estão no banco dos réus três filhos da pastora —Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira—, além de uma neta, Rayane dos Santos.

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