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Agressões de pastor causaram transtornos mentais em Flordelis, diz psiquiatra em júri

Defesa de acusada de mandar matar marido apresenta relatos de suposta violência sofrida por ex-deputada e filhos

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Rio de Janeiro

Convocado pela defesa de Flordelis dos Santos de Souza, a psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro afirmou que a pastora e ex-deputada desenvolveu transtornos mentais devido a agressões físicas que supostamente sofria do marido, Anderson do Carmo, assassinado em 2019.

O médico foi ouvido no Tribunal do Júri em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (11), como assistente técnico da defesa.

A ex-deputada federal Flordelis, durante o primeiro dia de julgamento na segunda (7) em Niterói (RJ) - Eduardo Anizelli - 7.nov.2022/Folhapress

Flordelis é julgada desde segunda (7) sob acusação de ser a mandante da morte, o que ela nega. O médico analisou se ela, a filha Marzy Teixeira e a neta Rayane dos Santos tinham perfil correspondente com os crimes pelos quais são acusadas.

Além delas estão no banco dos réus por envolvimento na morte do pastor Simone dos Santos e André Luiz Oliveira, filhos da ex-parlamentar.

Lobo disse que entrevistou as três no hospital penal psiquiátrico Roberto Medeiros, no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio. Segundo ele, foi avaliado em cada uma das rés se havia indícios de doenças mentais, dependência e transtornos de personalidade. Também foi aplicada a escala Hare, teste de diagnóstico para psicopatia.

O psiquiatra afirmou ter ouvido relatos de Flordelis de que sofreu violência física do marido no início do relacionamento. "Ela relatou que ficou sem sofrer agressões por um período, mas ele voltou a agredi-la, principalmente durante o sexo, com prática de sufocamento. E que acordou por várias vezes com Anderson praticando atos sexuais com ela sem consentimento", afirmou.

Em seu relatório de diagnóstico psiquiátrico sobre Flordelis, Hewdy Lobo Ribeiro listou: "transtorno depressivo-grave, com um episódio de tentativa de suicídio; transtorno mental orgânico, quando o indivíduo tem expressões, sintomas e vivências emocionais em decorrências de problemas físicos graves; transtorno de estresse crônico, por ter sido agredida fisicamente e também sufocada durante relações sexuais; síndrome de Estocolmo, quando o indivíduo tem grande sofrimento e grande nível de vulnerabilidade; e transtorno da personalidade dependente, característica de pessoas submetidas a situações de estresse crônico tendem a se acomodar mesmo sob intenso sofrimento".

Lobo concluiu ainda que a pastora pontuou 6 na escala Hare, que vai até 40, o que segundo ele não indicaria psicopatia.

Sobre Marzy, o psiquiatra afirmou que ela lhe relatou um episódio de "tentativa de contato impróprio" do pastor. Ele indicou que Marzy possui diagnóstico de transtorno afetivo-bipolar e síndrome de maus-tratos, que seria o resultado de supostos abusos sexuais vividos dos 8 aos 16 anos. "Mas ela não apresenta características de psicopatia e não tem características correspondentes de vingança", disse.

Ainda de acordo com Lobo, outra ré, Rayane afirmou que também sofreu abuso. Segundo ele, a neta da ex-deputada, afirmou que, em uma ocasião, no apartamento funcional em Brasília, ela teria acordado com Anderson tendo "contato impróprio" com ela.

Rayane é filha afetiva de Simone dos Santos Rodrigues, também ré em julgamento. Filha biológica de Flordelis, Simone assumiu ser mandante da morte de Anderson do Carmo e alegou que sofreu abusos por parte do padrasto. Apesar da confissão, o Ministério Público continua considerando Flordelis a mandante do crime.

Violência doméstica

A primeira pessoa ouvida nesta sexta-feira foi o psicólogo forense Sidnei Filho, também convocado pela defesa para fazer uma exposição sobre violência doméstica. Uma das principais estratégias da defesa é mostrar Anderson do Carmo como um abusador, que teria praticado "violências diversas" na casa em que ocorreu o crime, onde moravam Flordelis, Anderson e 55 filhos.

A assistência de acusação e o Ministério Público, no entanto, alegam que as acusações em julgamento são as tentativas de homicídio e o homicídio do pastor. Segundo eles, Flordelis teve oportunidade de denunciar os abusos e nunca os mencionou em depoimentos anteriores.

Questionado pela defesa, Sidnei Filho explicou como um suposto comportamento violento de Anderson com Flordelis poderia ter afetado os filhos do casal, tanto biológicos quanto afetivos e adotivos.

"A consequência da violência para os filhos pode ser imediata ou atrasada: demora anos para a gente perceber comportamentos violentos na criança", disse.

Durante o depoimento do psicólogo, os advogados exibiram trechos de dois vídeos feitos pela defesa com integrantes da casa —Ramon dos Santos Oliveira, filho de Simone, e Michelle da Conceição, filha de Flordelis. Em duas partes da gravação mostradas, Ramon afirma que sofreu abusos dentro da casa da família, mas não indica quem teria cometido.

Já Michele falou sobre alguém da casa —também sem especificar quem— que olhava "até pessoas da igreja" e afirma que familiares que tinham deixado a residência de Flordelis a aconselhavam a fazer o mesmo por causa dessa pessoa.

O Ministério Público solicitou a exibição do início dos vídeos gravados, que começam com pedidos aos entrevistados para que detalhassem "abusos praticados pelo pastor Anderson do Carmo".

Nesta sexta, os advogados decidiram liberar três testemunhas. Com isso, faltam ser ouvidas outras cinco pessoas. Os réus serão interrogados após todas as testemunhas de defesa. Em seguida, se iniciam os debates entre acusação e defesa e só então os jurados se reúnem para votar e decidir se os réus são culpados ou inocentes.

A expectativa é de que o júri se estenda pelo fim de semana.

O CRIME

O pastor Anderson do Carmo foi morto a tiros na garagem da residência da família em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 2019.

Ele tinha 42 anos e morava com Flordelis e mais 35 filhos. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo.

As investigações indicaram que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos, colocando arsênico e cianeto na comida dele. A vítima passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.

Ela nega todas as acusações e diz que os promotores que a acusam trabalham para desconstruir sua imagem "como ser humano, como pastora".

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