Quando ainda era criança em Botucatu (a 230 km de São Paulo), Antonio Moreno ficava curioso para saber quem eram os responsáveis por dar a voz em português aos atores que falavam inglês nos filmes que passavam na televisão.
Dono de uma voz potente desde a adolescência, Moreno teve o primeiro contato com o microfone na rádio botucatuense PRF8. Foi o locutor e amigo Oliveira Neto (morto em 2014) que o apresentou à dublagem e o levou ao estúdio AIC, na capital paulista.
Lá, em 1969, Moreno iniciou a carreira como dublador e uma história de mais de 50 anos, que teve São Paulo e Rio de Janeiro como cenários.
Segundo o também dublador Rodrigo Moreno, 40, o pai enfrentou tempos difíceis. "Ele sempre contava que passava o dia nas gravadoras sem dinheiro para comer. Para matar a fome, tomava café com bastante açúcar", relata.
"Tubarão", de Steven Spielberg, foi um divisor de águas na carreira. Na obra, Moreno dublou o caçador interpretado pelo ator Robert Shaw (1927-1978). Em seu portfólio constam mais de 200 trabalhos entre filmes, séries, animes e games.
Dublou personagens interpretados por Morgan Freeman, Sean Connery, Charles Bronson, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Liam Neeson e Steven Seagal, entre outros.
Moreno deu voz a personagens de desenhos como o Rei Netuno ("Bob Esponja"), Brutus ("Popeye"), M. Bison,( "Street Fighter II V") ; Sorento de Sirene (na redublagem de "Os Cavaleiros do Zodíaco") e Basque Grand ("Fullmetal Alchemist").
Ele também foi diretor de dublagem e lutou pelos diretos da categoria. "Meu pai foi cortado de muitas casas de dublagem por defender direitos e cobrar deveres dos empresários junto à classe", diz Rodrigo.
Moreno será lembrado pela generosidade. Ajudou estudantes e dubladores em início de carreira. Mesmo com mais de meio século de história, dizia que na "dublagem nunca deixou de aprender".
Antonio Moreno morreu dia 1º de novembro, aos 76 anos, por falência de múltiplos órgãos. Deixou seis filhos, netos e bisnetos.
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