Heloisa de Freitas Valle nasceu e viveu na cidade de São Paulo, mas sua principal criação surgiu de seu trabalho como agricultora no interior do estado: a biomassa de banana verde, um ingrediente culinário e nutritivo feito da polpa da fruta, que pode ser utilizado em receitas doces e salgadas.
Ela nasceu em 17 de setembro de 1929 e passou a infância na Villa Kyrial, como era chamado o casarão do senador José de Freitas Valle, avô de Heloisa e um dos patrocinadores da Semana de Arte Moderna de 1922. No início do século 19, a propriedade localizada na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, era um ponto de encontro de escritores, artistas e músicos.
Por ter crescido nesse ambiente, Heloisa dizia desde criança que queria fazer algo pela sociedade. Ela se casou em 1949 com um pecuarista e se envolveu com a vida no campo. Após a morte de seu avô, em 1958, também herdou propriedades rurais.
Já desquitada, passou a cultivar bananas em 1992 na Fazenda Recanto Divino, em Eldorado (SP). De 1994 a 1996, Heloisa foi uma das primeiras mulheres a presidir a Cooperativa dos Bananicultores do Vale do Ribeira.
Foi na Recanto Divino, durante a década de 1990, que a biomassa de banana verde nasceu. Em uma noite, voltando da capital, ela foi informada por um funcionário da fazenda que a casa havia sido roubada, incluindo a comida. Assim, ela fez uma sopa com as bananas que cultivava e percebeu que, além de o prato não ficar com o gosto da fruta, a saciou por muitas horas e ajudou com seus problemas intestinais.
A bananicultora decidiu então conversar com o engenheiro químico Luiz Marcio Poiani, professor da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), que começou a promover estudos que demonstraram as propriedades nutricionais da banana verde.
A partir daí, Heloisa dedicou o restante de sua vida a espalhar conhecimento sobre esse ingrediente, principalmente em projetos sociais contra a fome e o desperdício. Junto à jornalista Márcia Camargos, ela escreveu o livro "Yes, nós temos bananas - Histórias e Receitas com Biomassa de Banana Verde" (2003), publicado pelo Senac, e fez trabalhos com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"Vovó era muito animada, carinhosa e dedicada. Ela não encontrava barreiras e acho que isso só colaborou para que pudesse chegar aos 93 anos buscando sempre ajudar o quanto pudesse", conta Fabiana Leopoldo e Silva, sua neta.
Heloisa morreu em 28 de outubro por complicações decorrentes de problemas respiratórios. Ela deixa quatro filhos, 12 netos e 12 bisnetos.
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