Descrição de chapéu Interior de São Paulo

São José dos Campos gasta R$ 25 mi para enterrar fios e retirar postes no centro

Do valor, R$ 5 milhões vão ser pagos para concessionária de energia; secretário diz que obra requalifica o espaço

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Tânia Campelo
São José dos Campos

A Prefeitura de São José dos Campos (a 80 km de São Paulo) está investindo R$ 25 milhões na revitalização de um corredor comercial com cerca de um quilômetro de extensão que inclui enterrar a fiação aérea e a retirada de postes.

O projeto, batizado de Urbaniza Centro, foi lançado em fevereiro pelo então prefeito, Felício Ramuth (PSD), eleito vice-governador de São Paulo na chapa de Tarcísio de Freitas (Republicanos). A obra deveria ser concluída até o final de novembro, mas um aditamento ao contrato estendeu o prazo até 9 de dezembro.

Obra para aterramento de fios que está em curso na região central de São José dos Campos
Obra para enterramento de fios que está em curso na região central de São José dos Campos - Danilo Verpa/Folhapress

O projeto abrange a rua 15 de Novembro, passando pela praça Afonso Pena e o trecho inicial da avenida Nelson D’Avila, totalizando 1,1 quilômetro de extensão. Além do enterramento dos fios e da retirada dos postes, a obra inclui alargamento de calçadas, melhorias na drenagem e ações de paisagismo.

Doutor em planejamento urbano e professor da docente da Unitau (Universidade de Taubaté), Flávio Malta vê problemas na proposta da prefeitura.

"Sinto falta de uma ciclovia integrada e também de uma via compartilhada, um espaço que possa ser utilizado por pedestres e veículos. Em uma área central seria não apenas embelezamento, mas uma resposta à modernidade de uma cidade que está se tornando uma metrópole", disse

Gerente de uma loja na praça Afonso Pena, João Pedro Borsoi disse que desde o início das obras registrou uma grande queda no movimento de consumidores.

"A situação piorou com a chegada da obra aqui na praça, ninguém entra na loja, só quem já é cliente mesmo. Acho que a revitalização vai dar uma visibilidade para o centro, no primeiro ou segundo mês deve atrair mais pessoas, porque todo mundo vai querer ver como ficou. Mas para o comércio não vai mudar nada, pra melhorar tinha que fazer outras melhorias na região toda", disse Borsoi.

A comerciante Lilian Su, que tem uma loja de eletrônicos e equipamentos para celular na mesma praça, disse que a situação está difícil. "Há dois meses não temos movimento na loja. Depois que acabar a obra, eu acho que vai melhorar um pouquinho, mas não vamos recuperar o que perdemos", disse.

Obra gerou transtornos temporários a comerciantes e pedestres no centro de São José dos Campos
Obra gerou transtornos temporários a comerciantes e pedestres no centro de São José dos Campos - Danilo Verpa-4.nov.2022/Folhapress

A região da obra está com trechos interditados, limitando a passagem de pedestres, e esburacada em alguns trechos. Placas orientam pedestres do risco.

Malta, que já morou em São José dos Campos, disse que o enterramento da rede de energia é uma obra cara, mas já realizada em vários municípios brasileiros, e que deveria fazer parte de um plano maior de urbanização, com consulta pública.

Ainda segundo ele, há a possibilidade de realizar obras deste tipo buscando parcerias com a iniciativa privada ou mesmo com as concessionárias de energia e telecomunicações. "Isso depende do perfil do gestor público, da gestão urbana."

De acordo com o diretor de Planejamento de Obras Viárias da Secretaria de Mobilidade Urbana, Ronaldo Rodrigues, o projeto privilegia os pedestres, reduz a poluição visual e requalifica o espaço urbano.

"A partir de uma política de intervenção mais vinculada ao deslocamento pedonal [de pedestres], resolvemos expandir esse conceito com um elemento novo, que foi o rebaixamento da rede de energia", afirmou Rodrigues.

A obra está sendo realizada pela Urbam (Urbanizadora Municipal), autarquia municipal contratada pela prefeitura por R$ 20,59 milhões. Não houve licitação.

A Urbam é responsável pelas obras de pavimentação, calçadas, paisagismo e mobiliário urbano e pela construção civil da rede subterrânea por onde passarão os cabos e fios de energia e de telecomunicações.

Os outros R$ 5 milhões serão pagos à EDP, concessionária de energia elétrica no município. De acordo com a empresa, o valor se refere aos serviços de retirada da fiação aérea e instalação da rede subterrânea de 15 kV, e de seis transformadores de 500 kVA. Serão removidos cerca de 100 postes.

A EDP afirma que a cobrança pelos serviços ocorre porque a obra está sendo realizada por interesse da prefeitura e tem caráter estético. "A EDP segue todas as diretrizes da resolução 1.000 da ANEEL, cujo custo para essa obra é de total responsabilidade do cliente", informou a concessionária.

A empresa reconheceu, porém, que a implementação de uma rede de energia subterrânea vai reduzir seus gastos com serviços de manutenção, pois fica protegida do impacto da natureza e de danos causados pela população, como roubo de fios e acidentes de trânsito.

Ainda segundo a concessionária, ainda não há estimativa de quanto será essa economia. A prefeitura afirmou que o valor que for economizado não será descontado do contrato com a EDP.

Em São Paulo, o programa São Paulo Sem Fios, criado em 2017, prevê o enterramento das redes de energia e telecomunicações de 170 ruas, o equivalente a 65 km de extensão. Até setembro, o programa cobriu 48 vias, representando cerca de 18 km de cabos enterrados, sem custo para o município.

A Folha procurou o ex-prefeito e futuro vice-governador por meio de sua assessoria, mas ele não comentou o assunto.

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