Anielle Franco assume Ministério da Igualdade Racial com aval do movimento negro

Trabalho da futura ministra à frente do Instituto Marielle Franco é um atestado de competência, segundo especialistas

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São Paulo

Anunciada nesta quinta (22) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco passou a ser conhecida em sua luta pelo legado da irmã Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018.

Personalidades do movimento negro ouvidas pela Folha aprovaram a escolha de Anielle, sobretudo pelo trabalho que a futura ministra vem liderando à frente do Instituto Marielle Franco. Entre os projetos de educação para crianças e jovens promovidos pelo instituto está o curso de formação política para meninas periféricas, mulheres negras e comunidade LGBTQIA+.

"A Anielle traz o DNA da irmã [Marielle], é uma liderança jovem e a sua nomeação trouxe muita expectativa na implementação de pautas com que ela já lida", afirmou o advogado Humberto Adami, presidente da Comissão de Igualdade Racial do IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros).

Anielle Franco, diretora do Instituto Marielle Franco, vai assumir o Ministério da Igualdade Racial do novo governo Lula - Bléia Campos/Divulgação

Para Frei Davi, fundador da Educafro, que representa quase cem entidades do movimento negro, a nomeação de Anielle traz esperança.

"A Educafro tinha a preocupação de se o Lula colocaria [na pasta] uma pessoa viciada na estrutura do partido e que há mais de 20 anos não tivesse feito grandes mudanças para o povo. A Anielle nos enche de esperança, é corajosa e não vai lamber botas", disse Davi.

A advogada Yasmin Rodrigues, pesquisadora do núcleo de Justiça Racial e Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas), classificou a nomeação como histórica.

"Demonstra o forte compromisso com memória e justiça para o povo negro. Anielle é incrível e já realiza um trabalho superimportante no Instituto Marielle Franco. Com certeza será uma ministra competente, segura e que avançará muito em caminhos de combate ao racismo nesse país."

Em sua conta no Twitter, Anielle escreveu que irá trabalhar contra o "retrocesso" dos últimos anos e que aceitou o convite de Lula em memória da irmã e "das mais de 115 milhões de pessoas negras no Brasil, que são maioria da população e que precisam de um governo que se preocupe com os seus direitos de bem viver, de oportunidades, com segurança, comida, educação, emprego, cultura, dignidade".

Trajetória

Aos 37 anos, Anielle tem um currículo extenso. Apaixonada por esporte, a carioca sonhava em jogar vôlei, começou a praticá-lo aos 8 e, aos 16, graças a sua habilidade nas quadras, ganhou uma bolsa de estudos nos Estados Unidos.

Anielle morou por 12 anos no território norte-americano, onde graduou-se em jornalismo pela Universidade da Carolina da Norte e conheceu mais de perto a obra de Angela Davis, filósofa e ativista negra feminista, e o ativista Martin Luther King.

A convite da editora Boitempo, aliás, Anielle escreveu a orelha do livro "Angela Davis, uma autobiografia". Ela também é autora dos livros "Cartas para Marielle", lançado em 2019 durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), e "Minha Irmã e Eu - Diário, Memórias e Conversas sobre Marielle", lançado neste ano.

Nascida no complexo de favelas da Maré, Anielle disse em entrevista à agência Alma Preta que, em meio às dificuldades nos Estados Unidos, procurou forças nos estudos e no esporte.

"Minha família lutou muito para que eu me mantivesse lá. Os estudos e o esporte compensavam as dificuldades de ser uma mulher negra e brasileira no exterior", afirmou Anielle.

Além de jornalismo, ela é formada em inglês e literatura pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e concluiu o mestrado em relações étnico-raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ).

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