Cai a qualidade das praias no litoral de São Paulo

De 59 pontos avaliados como próprios para banho o tempo todo na temporada anterior, total caiu para 44 agora; problema atinge litoral norte e Baixada Santista

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Ribeirão Preto e São Sebastião

Quem chega à praia de São Francisco, em São Sebastião, no litoral norte paulista, pode nem imaginar que ela não é própria para banho. Barcos pesqueiros e de passeios curtos adornam o mar com Ilhabela ao fundo e as ondas chegam de mansinho, num cenário ideal para relaxar.

Basta se aproximar um pouco da água, porém, para encontrá-la pouco convidativa para o mergulho, com aspecto sujo. A bandeira vermelha da Cetesb (companhia ambiental paulista) no local também alerta do risco.

Como ela, avaliadas como péssimas, há outras praias paulistas que passaram o período de novembro do ano passado a outubro mais impróprias que próprias para banho.

Funcionário da Prefeitura de São Sebastião trabalha na limpeza da praia de São Francisco, classificada como péssima para banho
Funcionário da Prefeitura de São Sebastião trabalha na limpeza da praia de São Francisco, classificada como péssima para banho - Mathilde Missioneiro/Folhapress

As praias de São Paulo, de maneira geral, retrocederam na qualidade da balneabilidade no intervalo analisado, segundo levantamento anual feito pela Folha com base em dados da agência ambiental do estado.

Enquanto as praias boas o ano todo despencaram, o estado viu aumentar, tanto no litoral norte quanto na Baixada Santista, o total de praias consideradas regulares ou péssimas.

Dos 178 pontos avaliados pela Cetesb —a maioria deles semanalmente—, 44 estiveram próprios para banho todas as semanas entre novembro de 2021 e outubro deste ano, ante 59 de igual período anterior.

Enquanto isso, as praias avaliadas como regulares subiram de 61 para 80 e as péssimas, de 14 para 18.
Outros 33 pontos foram avaliados como ruins nos dois anos —em 2021, porém, 11 pontos não tiveram medição devido à pandemia da Covid-19, ante três deste ano.

Para a gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb, Claudia Lamparelli, o cenário da balneabilidade em praias paulistas se deveu a um primeiro semestre bem complicado, com melhora nos últimos meses.

"O número de praias impróprias está mais baixo agora, os últimos meses foram mais secos. No primeiro semestre, tivemos muita chuva em abril e começo de maio, o que fez com que ficássemos com algumas praias impróprias, que não ficam normalmente", disse.

Na praia de São Francisco, na região central de São Sebastião, nem sempre foi ruim, disse a engenheira Daniela Roe, 43. "Nasci aqui e venho uma vez por ano. Mudou bastante, está mais poluída do que costumava ser."

"As embarcações eram limitadas. Com o passar dos anos, aumentou, o que é normal, porque o pessoal precisa trabalhar. É mais uma questão de organização. A água é escura também por causa da maré, mas os barcos contribuem", afirmou Daniela.

Em São Sebastião, das 18 praias boas no ano anterior (próprias para banho o ano inteiro, sem exceção), o total caiu para 12. Já as regulares subiram de 8 para 13, enquanto as ruins se mantiveram em quatro nos dois anos.

Em 2021, não havia nenhuma praia péssima na cidade, posto que agora é ocupado pela praia de São Francisco, onde a reportagem viu varredores limpando a areia na manhã do último dia 15.

Em outras cidades do litoral norte, o quadro também piorou: em Caraguatatuba, o total de praias boas caiu de 6 para 4. Em Ilhabela, só uma praia foi boa neste ano, ante três do ano passado (as regulares subiram de 10 para 13). Já em Ubatuba, 16 pontos que eram bons em 2021 foram reduzidos a sete (há outros nove bons agora, mas que não foram avaliados em 2021).

De acordo com o marinheiro Nélio de Oliveira Silva, 50, há momentos em que é possível entrar no mar. "Quando está ventando de leste, a água suja muito. Mas, quando venta de sul, fica limpinha, dá para tomar banho."

Entretanto, ele afirmou reconhecer que a finalidade daquela faixa de areia não é tanto a recreação. "Aqui é mais para trabalho."

Lamparelli afirmou que 2021 foi um ano mais seco que a média histórica, o que ajuda a explicar ter tido mais praias próprias que neste ano, e que as últimas semanas foram propícias para prever um bom verão em relação à balneabilidade.

"Foram 17 impróprias em 27 de novembro e 13 em 4 de dezembro. É uma condição muito boa até para o mês de dezembro. Se continuar assim, os prognósticos são bons [para a virada do ano e janeiro]."

A orientação aos banhistas é que utilizem o app da Cetesb quando chegarem às praias para verificar a qualidade do local em que pretendem curtir o mar. Outra opção é procurar a bandeira da Cetesb no local. Se ela estiver na cor vermelha, a praia está imprópria para banho.

"O app é o mais fácil, por ser simples e mostrar ao usuário a situação não só da praia que ele pretende ir, mas de todas as da cidade e do litoral", afirmou Lamparelli.

CENÁRIO RUIM

Na Baixada Santista, as praias apresentaram um desempenho ruim nos 12 meses analisados pela Folha.

Mongaguá teve, pelo segundo ano seguido, todos os sete pontos monitorados ruins, o que significa que estavam impróprios para banho entre 25% e 50% das medições.

Em Santos, os sete pontos avaliados pela Cetesb estavam péssimos, com impropriedades em mais de 50% das medições.

Já em Praia Grande, 3 dos 12 pontos monitorados estavam péssimos, enquanto outros seis eram ruins e três, regulares.

O ano foi marcado também pela medição integral da balneabilidade nas praias. Em períodos de 2020 e 2021 não houve aferição semanal devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19 —praias chegaram a ficar fechadas.

Com o resultado de 2022, as praias paulistas se assemelham ao patamar registrado em 2019, último ano com medições o ano todo. Naquele ano, as praias boas eram 42, com 72 regulares, 34 ruins e 29 péssimas —um ponto não foi medido naquele ano.

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