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São Paulo tem 4º dia seguido de congestionamento acima da média

Dados da CET indicam cidade voltou a apresentar índices de lentidão do patamar pré-pandemia

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São Paulo

A cidade de São Paulo registrou nesta sexta-feira (16) congestionamento acima da média, algo que se repete pelo quarto dia seguido nesta semana. Essa sequência ocorre enquanto os dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) indicam que, em dezembro, a capital voltou a apresentar índices de lentidão do patamar pré-pandemia.

Nos cinco primeiros dias úteis de dezembro, a média diária de lentidão na cidade foi de 176 quilômetros. No mesmo período de dezembro de 2019, foram 175 quilômetros, praticamente o mesmo patamar, enquanto nos dois anos em que a pandemia foi mais intensa, em 2020 e 2021, a média dos congestionamentos ficou em 99 e 116 quilômetros respectivamente.

Nesta sexta, com o aumento do tráfego a oito dias do Natal, a capital chegou a 297 quilômetros de lentidão às 17h. São Paulo tinha 10,9% das vias congestionadas nesse horário, embora o patamar esperado seja de até 6,9%

A cidade tem trânsito acima da média ao menos desde terça-feira (13), segundo os dados da CET. Chuva e falhas no transporte público contribuíram para o aumento do índice de congestionamento na terça, como mostrou a Folha.

Trânsito na avenida Moreira Guimarães, na zona sul de São Paulo, nesta sexta-feira (16) - Rubens Cavallari/Folhapress

A tendência de continuidade da lentidão após as 9h, quando tradicionalmente ocorre o pico de trânsito da manhã, levou a congestionamentos como não se via havia três anos na capital.

Os dados da CET mostram uma mudança nos horários de maior circulação de veículos em dezembro, na comparação com anos anteriores. A maior parte do aumento do tráfego neste mês se deu entre meio-dia e 16h.

Na penúltima sexta-feira antes do Natal, isso foi observado ainda mais cedo. O volume de congestionamento ficou dentro da média apenas até as 10h e depois, na contramão da média histórico, aumentou. A cidade manteve-se com mais de 165 quilômetros de congestionamento das 10h30 às 18h, pelo menos.

No início da tarde desta sexta (16), os corredores mais congestionados eram a marginal Tietê, no sentido da rodovia Ayrton Senna, com 4,8 quilômetros de lentidão, e a avenida dos Bandeirantes, em direção à marginal, com 3,5 quilômetros congestionados.

Parte da explicação para a elevação nos índices de trânsito neste mês está na Copa do Mundo e nas festas de fim de ano. O monitoramento da CET identificou uma maior quantidade de deslocamentos nos dias de jogo da seleção brasileira. Houve uma antecipação dos tradicionais picos de lentidão da tarde e aumento nos índices de lentidão, nesses dias.

Para o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP, houve uma intensificação dos deslocamentos nos dias úteis em que não houve jogos do Brasil e, por isso, um aumento atípico dos congestionamentos. Para ele, fatores como a expansão do trabalho remoto, do ensino a distância e das compras pela internet devem evitar uma volta aos níveis de tráfego pré-pandêmicos.

"Em dezembro, quando tivemos jogos da Copa eram dias de não trabalho, praticamente, e isso fez com que as atividades que se espalhariam por mais dias úteis, como preparação de viagens, atividades econômicas, negócios, tivessem menos dias para ocorrer em 2022 do que no ano passado", disse Ejzenberg.

Segundo ele, o único fator que hoje contribui para o aumento dos congestionamentos é a migração de passageiros do transporte público, normalmente de alta renda, para o uso de carro particular, táxi e aplicativos de carona após a pandemia. Ejzenberg afirma que essa migração ocorreu para escapar da transmissão da Covid nas lotações.

A redução no uso de transporte público é um problema para o financiamento dos ônibus e metrôs porque são justamente os passageiros que faziam trajetos mais curtos –e mais rentáveis para empresas que operam esses veículos– que abandonaram o serviço em maior número.

"O passageiro que se perdeu no transporte coletivo é aquele que dava mais lucro. Ele fazia viagens mais curtas e pagava a mesma tarifa, pois tem maior poder aquisitivo, mora nas áreas centrais e tem trabalhos mais cerebrais, portanto pode ficar no home office. A viagem dele custava muito menos do que uma pessoa pobre que mora em um bairro distante e faz a maior parte do trajeto de uma linha", diz o engenheiro.

Já para o professor Creso de Franco Peixoto, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o fim dos picos de tráfego concentrados de manhã e à tarde, com aumento da média de congestionamento ao longo do dia, já era uma tendência observada antes da pandemia. Agora, segundo o professor, isso está ocorrendo novamente.

"Nós estamos em sobrecarga no sistema viário paulistano há muitos anos. O home office 'pegou' mas a quantidade de deslocamentos que deixaram de ser feitos não se mostrou suficiente para reduzir a pressão de demanda", disse Peixoto. "Acho que a tendência [para 2023] é o retorno ao modelo antigo, nós estamos vendo isso. Os problemas de trânsito voltaram na mesma intensidade."

A crítica ao modelo de transporte adotado em São Paulo é compartilhada pelo pesquisador Horácio Augusto Figueira, que é engenheiro de tráfego de transportes.

Para ele, mesmo as linhas de metrô mais antigas da cidade, a 3-vermelha e a 1-azul, estão sobrecarregadas em número de passageiros e já não atraem usuários tradicionais do carro.

"A cidade parece que se esqueceu do transporte coletivo, e os congestionamentos aos poucos vão voltando – talvez não voltem naqueles 'super-picos' que nós vimos lá atrás, no passado, mas há um aumento", diz Figueira.

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