Morre Vana Lopes, vítima de Roger Abdelmassih que virou ativista contra violência

Estuprada pelo médico em 1993, ela se empenhou em investigar o paradeiro dele no período em que esteve foragido no Paraguai

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São Paulo

Morreu neste sábado (28) em São Paulo a ativista Vana Lopes, 62, a primeira mulher a denunciar o médico Roger Abdelmassih que transformou sua experiência pessoal para criar um grupo para ajudar outras vítimas de violência. Ela também publicou o livro "Bem-vindo ao Inferno - A Vítima que Caçou o Estuprador Abdelmassih".

Acometida há quatro anos por um câncer de mama que evoluiu para metátase nos ossos, Vana vivia em Portugal havia oito anos, com o marido.

Vana Lopes autografa exemplares de seu livro
Vana Lopes autografa exemplares no lançamento de seu livro ''Bem-Vindo ao Inferno'', em São Paulo - Raquel Cunha - 14.mai.2015/Folhapress

Com a evolução da doença, ela havia voltado a viver em São Paulo com a filha, a neta e a bisneta, em novembro. Vana estava em casa neste sábado quando passou mal e teve duas convulsões. O resgate foi chamado, mas ela não resistiu.

Como ativista, estava empenhada na aprovação do projeto de lei que cria o Estatuto da Vítima, que amplia os direitos de quem sofre violência. "O filho biológico que ela não gerou [no tratamento com o médico] foi transformado no trabalho da instituição", diz Maria do Carmo Santos, presidente do grupo Vítimas Unidas, criado por Vana.

O Instituto Maria da Penha emitiu nota de pesar pelo falecimento da ativista.

"Forte e doce a um só tempo, foi exemplo de mulher guerreira que abraçou a missão de acolher outras vítimas de violência", diz o texto publicado em rede social do instituto.

Vana foi estuprada pelo então médico renomado especialista em reprodução assistida, em 1993. Ela passava por um procedimento de fertilização in vitro quando foi violentada. Durante um dos procedimentos para a implantação do embrião, ela acordou da sedação com o médico ejaculando sobre seu corpo.

Após sua denúncia, vieram a público dezenas de outros casos de ex-pacientes do médico que também haviam sido abusadas na clínica particular, localizada no Jardim Europa, bairro nobre na zona oeste de São Paulo.

O escândalo foi revelado pela Folha em janeiro de 2009, após uma ex-enfermeira denunciar o caso ao Ministério Público.

Em 2011, depois de ter sido condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres, Abdelmassih se tornou foragido da Justiça. Vana se dedicou a descobrir o paradeiro do médico durante os três anos em que ele viveu escondido em Assunção, no Paraguai, com uma identidade falsa, e ajudou a Polícia Federal a encontrá-lo.

A partir de sua experiência, Vana passou a receber pedidos de ajuda de outras vítimas de abusos sexuais e criou o grupo Vítima Unidas.

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