Descrição de chapéu Obituário Helena Marcondes Machado (1934 - 2023)

Mortes: Pianista renomada, deu aulas até os últimos meses de vida

Helena Marcondes Machado dedicou, dos 7 aos 88 anos, todo o seu tempo livre à música

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São Paulo

No último Natal que passou com a família toda reunida, em 2019, Helena Marcondes Machado sentou-se no banco em frente ao piano ainda antes do fim da ceia e, sem dizer nada, tocou os acordes de "Asa Branca".

Os filhos, netos e sobrinhos se aproximaram sorridentes para acompanhar, na sala de casa, uma apresentação digna do Theatro Municipal, do auditório da Biblioteca Municipal Mário de Andrade ou do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Ao longo de 88 anos, ela tocou nesses e em inúmeros outros palcos e formou gerações de pianistas.

Nascida em uma família de músicos autodidatas, sua relação com o som era anterior às primeiras aulas de piano, que teve aos sete anos de idade.

Uma mulher branca, com vestido escuro, segura criança no colo e olha para câmera
A pianista Helena Marcondes Machado sorri, com o neto Felipe nos braços - Arquivo pessoal

Desde então, dedicou à música todo o tempo que foi capaz. Até novembro, poucas semanas antes de sucumbir às complicações de uma osteoporose que se agravou nos últimos anos, a pianista Helena Marcondes Machado ainda dava aulas a seus últimos três alunos, entre eles o neto.

Na casa em que cresceu na Aclimação, na capital paulista, o pai tocava violão, o irmão, gaita, e suas duas irmãs mais novas conseguiam tocar piano de ouvido, de tanto escutar Helena praticar piano em casa. Ela foi a única que se aprofundou no estudo teórico de música e fez disso o centro de sua vida.

Na juventude, entre as décadas de 1940 e 1950, ia tanto às apresentações musicais de São Paulo que os amigos a chamavam de "rata de teatro". Aos 20 anos, já dava aula para cerca de 30 alunos. Ganhava concursos com votações unânimes e tocava nas emissoras da época, chegando a solista na Orquestra Sinfônica da Rádio Gazeta.

Machado trabalhava na Delegacia Regional do Trabalho, o que encarava como um complemento de renda que sustentava a paixão do piano. Ela se casou no final dos anos 60 e, com o nascimento dos filhos, veio a necessidade de se dedicar mais a um emprego fixo, com salário mais alto. As finanças da casa sempre dependeram mais dela do que do marido, de quem se separou anos mais tarde.

Pianista já reconhecida nas rodas de música erudita da capital paulista, aos 38 anos ela se matriculou no curso de Direito do Largo de São Francisco –uma aluna com essa idade era uma raridade para a época. Pelas discussões jurídicas, tinha pouco interesse. Logo no primeiro semestre, entrou como pianista no Coral Acadêmico XI de Agosto, com quem viajou o Brasil em apresentações.

Em outubro de 1985, ela foi chamada para o que seria seu único recital no exterior. Uma plateia no Miami Dade College, faculdade pública da cidade americana, ouviu Machado abrir o show com "Espalhafatoso", de Ernesto Nazareth, e uma seleção de música brasileira com composições de Francisco Mignone, Heitor Villa-Lobos e Frutuoso Vianna.

Décadas depois, no Natal de 2019, suas mãos eram mais ágeis que as do sobrinho, que ela punha nas teclas certas para acompanhá-la na canção de Luiz Gonzaga.

Helena Marcondes Machado morreu dia 8 de dezembro. Ela deixou dois filhos, dois netos e um bisneto.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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