Quando um estudante ou jornalista chegavam à Vila Maria Zélia, em São Paulo, a pessoa indicada para lhes dar as boas-vindas e lhes contar tudo sobre a primeira vila operária do estado era o seu Dedé.
Edelcio Pereira Pinto conhecia o lugar como ninguém. Morou ali por 73 anos, a vida toda na mesma casa em que nasceu. Conhecia cada uma das residências das 11 (hoje, seis) ruas que compõem a vila e cada um dos moradores.
"Ele sabia toda a história da vila, conhecia todo mundo e em todo evento ele aparecia", lembra o amigo Pedro Boscato.
O também amigo Ronaldo Saba diz que Edelcio sempre foi muito curioso, alegre e disposto a conversar e brincar. "Era o cicerone da vila, sabia tudo o que aconteceu nela, as transformações, trazia com ele uma raiz muito forte desse lugar."
Filho de pai português e mãe indígena, era 1 dos 11 irmãos da família que brincavam à beira do rio Tietê, que passa atrás da Vila Maria Zélia.
Seu avô foi para lá trabalhar na filial da Companhia Nacional de Tecidos da Juta. Construiu-se a vila para abrigar os 2.500 operários da época.
"Edelcio era vendedor na 24 de maio, gostava muito do que fazia, mas também gostava muito de ficar conversando com o povo daqui e falando da vila", revela a esposa, Paula Freitas.
"Ele sabia a história do lugar todo, de toda a família de Jorge Street [o fundador da vila]. Tudo o que você quisesse saber sobre esse lugar, podia perguntar que ele sabia."
Paula diz ainda que Dedé costumava também guardar objetos e reportagens sobre o lugar.
Sempre muito falante, Edelcio acordava cedo, tomava seu café preto e "ficava com o povo pra cima e pra baixo o dia todo, só vinha pra casa pra comer", enfatiza Paula. "Até as festas ele ajudava a organizar. Era o zelador da vila."
Amigo de infância, Ovandir Ramos afirma que a dedicação de Edelcio ao lugar foi de corpo e alma. "Ele era a enciclopédia da vila, desde a vida da família Street, da tecelagem, da fundação, da estrutura. Vinham pessoas dos mais diferentes lugares procurá-lo."
Sempre educado e pró-ativo, Dedé era do tipo que não negava uma festa nem uma conversa. "Tinha o pique do baile e sempre se destacava. Era uma pessoa que viveu bem a vida. Não vai ter quem consiga substituí-lo", diz Ramos.
Edelcio morreu em 13 de janeiro de 2023, de síndrome nefrótica. Ele deixa a esposa, o filho Edelcio Pereira Pinto Filho e toda a Vila Maria Zélia em luto.
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