Descrição de chapéu Obituário Edelcio Pereira Pinto (1949 - 2023)

Mortes: Viveu e contou a história da Vila Maria Zélia

Edelcio Pereira Pinto conhecia como ninguém a primeira vila operária de São Paulo

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Curitiba

Quando um estudante ou jornalista chegavam à Vila Maria Zélia, em São Paulo, a pessoa indicada para lhes dar as boas-vindas e lhes contar tudo sobre a primeira vila operária do estado era o seu Dedé.

Edelcio Pereira Pinto conhecia o lugar como ninguém. Morou ali por 73 anos, a vida toda na mesma casa em que nasceu. Conhecia cada uma das residências das 11 (hoje, seis) ruas que compõem a vila e cada um dos moradores.

"Ele sabia toda a história da vila, conhecia todo mundo e em todo evento ele aparecia", lembra o amigo Pedro Boscato.

Edelcio Pereira Pinto (Dedé), 68, morador da Vila Maria Zélia, a primeira vila operária do Brasil, inaugurada em 1917
Edelcio Pereira Pinto (Dedé), morador da Vila Maria Zélia, a primeira vila operária do Brasil, inaugurada em 1917 - Zanone Fraissat - 15.mai.2017/Folhapress

O também amigo Ronaldo Saba diz que Edelcio sempre foi muito curioso, alegre e disposto a conversar e brincar. "Era o cicerone da vila, sabia tudo o que aconteceu nela, as transformações, trazia com ele uma raiz muito forte desse lugar."

Filho de pai português e mãe indígena, era 1 dos 11 irmãos da família que brincavam à beira do rio Tietê, que passa atrás da Vila Maria Zélia.

Seu avô foi para lá trabalhar na filial da Companhia Nacional de Tecidos da Juta. Construiu-se a vila para abrigar os 2.500 operários da época.

"Edelcio era vendedor na 24 de maio, gostava muito do que fazia, mas também gostava muito de ficar conversando com o povo daqui e falando da vila", revela a esposa, Paula Freitas.

"Ele sabia a história do lugar todo, de toda a família de Jorge Street [o fundador da vila]. Tudo o que você quisesse saber sobre esse lugar, podia perguntar que ele sabia."

Paula diz ainda que Dedé costumava também guardar objetos e reportagens sobre o lugar.

Sempre muito falante, Edelcio acordava cedo, tomava seu café preto e "ficava com o povo pra cima e pra baixo o dia todo, só vinha pra casa pra comer", enfatiza Paula. "Até as festas ele ajudava a organizar. Era o zelador da vila."

Amigo de infância, Ovandir Ramos afirma que a dedicação de Edelcio ao lugar foi de corpo e alma. "Ele era a enciclopédia da vila, desde a vida da família Street, da tecelagem, da fundação, da estrutura. Vinham pessoas dos mais diferentes lugares procurá-lo."

Sempre educado e pró-ativo, Dedé era do tipo que não negava uma festa nem uma conversa. "Tinha o pique do baile e sempre se destacava. Era uma pessoa que viveu bem a vida. Não vai ter quem consiga substituí-lo", diz Ramos.

Edelcio morreu em 13 de janeiro de 2023, de síndrome nefrótica. Ele deixa a esposa, o filho Edelcio Pereira Pinto Filho e toda a Vila Maria Zélia em luto.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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