Empresas de blindagem de veículos em todo o país afirmam que o setor vive incerteza desde a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de revogar o decreto do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), que facilitava o acesso a armas de fogo, em janeiro.
A medida do governo petista tem como alvo os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), categoria mais beneficiada por normas editadas no governo passado que facilitaram o armamento da população. As novas regras foram publicadas no Diário Oficial da União no dia 2 de janeiro.
Mas uma sucessão de erros prejudicou também a condução de veículos blindados, segundo o presidente da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), Marcelo Silva.
O primeiro foi a atividade ter sido desnecessariamente "colocada no bojo" das armas pelo decreto de Bolsonaro, pois a atividade não estava sujeita à mesma certificação e, portanto, não dependia de uma nova liberação.
Além disso, argumenta, o prejuízo ao segmento de blindados poderia ter sido evitado se a revogação feita por Lula tivesse sido mais específica, direcionada apenas aos trechos do decreto que tratavam das armas e munições. "Revogou tudo", reclama.
Responsável por fiscalizar produtos cuja origem e destino precisam ser monitorados pelo Exército, a DFPC (Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados) suspendeu preventivamente as emissões de autorizações e declarações de blindagens enquanto analisa os efeitos da medida.
Em janeiro, o Comando Militar do Sudeste prosseguiu com a autorizações em São Paulo, que representam 80% da demanda nacional pelo serviço. Na última segunda-feira (6), porém, o comando paulista acatou recomendação do DFPC e interrompeu temporariamente os registros requisitados no estado.
"Receberam um comunicado da diretoria para que eles parassem, e eles pararam, mas ontem [8], na parte da tarde, veio um comunicado autorizando a retomar. Confuso, né?", disse Silva.
"Em outros lugares está tudo parado desde o fim do ano passado. Estou falando com empresas de Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre... Eles estão desesperados. É uma atividade com um custo de operação muito elevado e não dá para ficar mais de 30 dias parado", reclamou.
O presidente da Abrablin afirma já ter recebido nesta semana um telefonema do DFPC, que teria confirmado a conclusão do parecer jurídico que autoriza a retomada das autorizações para blindagens de veículos. "Estou esperando algum comunicado para que eu possa divulgar para as empresas."
Procurado, o Exército Brasileiro informou que a reclamação das empresas de blindagem está sob análise da DFPC, que responderá assim que possível.
Em 2022, o setor de blindagens de veículos bateu recorde ao produzir quase 26 mil unidades em todo o país.
O número de carros blindados no ano passado representa um aumento de 29% em relação aos 20 mil produzidos em 2021 e alta de 87% na comparação com os 13,8 mil de 2020, ano em que o setor teve a sua demanda afetada pela pandemia.
Cada veículo blindado custa ao proprietário cerca de R$ 80 mil, em média, segundo a Abrablin.
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