Enchente: lixo em bueiros foi 2ª maior reclamação contra empresas de limpeza em SP

Alagamentos de terça (8), na maior chuva deste ano, podem ter relação com entulho nos sistemas de drenagem, diz especialista

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São Paulo

A falta de limpeza de bueiros e bocas de lobo na cidade de São Paulo motivou 8.900 notificações desde outubro do ano passado às empresas contratadas para fazer esse serviço na capital. Foi a segunda maior causa de reclamações relacionadas à limpeza da cidade no portal SP156, usado pela prefeitura para monitorar as demandas da população.

Essas notificações têm sido usadas pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) como critério para multar as contratadas. Mais de R$ 720 mil já foram aplicados em penalidades às empresas de limpeza desde 2019 por cumprirem apenas parcialmente os serviços de varrição, capinagem, remoção de objetos das ruas e limpeza de galerias pluviais.

A limpeza das galerias só perdeu, nesse período, para as reclamações relacionadas ao acúmulo de entulho e grandes objetos na cidade –problema que também está relacionado a alagamentos. Este foi o motivo de mais da metade dos acionamentos no 156 contra as empresas, que também fazem serviços de varrição, coleta seletiva e capinação, além da desobstrução das galerias subterrâneas e bueiros.

Placa de madeira branca, com o aviso 'proibido jogar entulho', em primeiro plano, com córrego canalizado ao fundo
Riacho na Praça das Corujas, na Vila Madalena; lixo e canalização de córregos contribui para alagamentos - Zanone Fraissat - 23.jan.23/Folhapress

Nesta terça-feira (7), a forte chuva na região metropolitana de São Paulo deixou ao menos 79 pontos de alagamentos intransitáveis, fez carros ficarem submersos e afetou a circulação de trens e do metrô. Duas pessoas desapareceram e ao menos uma morreu, em Osasco.

Foi o dia mais chuvoso do ano até o momento, com média de 41,4 mm de chuva na cidade, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) da prefeitura. Esse total corresponde a 19% do volume esperado para o mês de fevereiro. Em algumas regiões da cidade, ainda de acordo com o CGE, esse índice superou os 50%.

Segundo o professor Antonio Carlos Zuffo, do departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, as imagens dos alagamentos desta terça indicam problemas tanto de macrodrenagem —por incapacidade dos grandes canais para suportar o volume de água— quanto também de microdrenagem, ou seja, de entupimento de bueiros e bocas de lobo provavelmente causados por acúmulo de lixo.

"Ela [chuva de terça-feira] está dentro do que foi planejado para a drenagem urbana em São Paulo, então deveria teoricamente ter dado conta", diz Zuffo. "Não é o rio Tietê ou o Pinheiros que está inundando, e sim um estrangulamento local da drenagem."

Ele diz que, provavelmente, tanto macro quanto microdrenagem estão sendo afetadas pela quantidade de sujeira nas galerias subterrâneas. Isso porque as próprias imagens mostram lixo sendo levado pela enxurrada.

Para o meteorologista Thomaz Garcia, do CGE, o que explica a quantidade de alagamentos é o fato de que o alto volume de chuva foi disseminado por várias regiões da cidade e por municípios vizinhos.

"Há regiões realmente com maiores dificuldade de drenagem: historicamente, a região do Vale do Anhangabaú, ou mesmo o entorno do Mercado Municipal, têm uma certa dificuldade com isso", disse Garcia. "A manutenção e limpeza são feitas periodicamente, mas a grande questão é que a cidade cresce e precisa não só da manutenção mas também de obras e aumento de dimensionamento [de reservatórios], o que envolve muitos cálculos e engenharia."

Questionadas sobre as notificações, as empresas Corpus Saneamento e Obras, Limpa SP, Ecoss Ambiental e Sustentare afirmaram que cumprem integralmente os contratos assinados com a prefeitura e que as notificações foram prontamente respondidas. A Ecosampa, responsável pela varrição na zona sul da cidade, disse que "todas as manifestações sobre o trabalho feito pelas prestadoras de serviço da limpeza urbana cabem apenas à contratante que, no caso, é a Prefeitura do Município de São Paulo".

O consórcio Locat SP, responsável pela limpeza dos bairros das regiões sul e leste (Vila Mariana, Jabaquara, Cidade Ademar, Ipiranga, Vila Prudente e Aricanduva), disse que seus serviços são devidamente realizados de acordo com o contrato firmado e com os planos de prabalhos, programações e cronogramas aprovado pela prefeitura. A empresa também informou que respondeu ao ofício da gestão municipal prontamente "demonstrando o consórcio Locat SP vem sempre executando os serviços conforme planos de trabalho e os demandantes de acordo com as solicitações efetuadas".

A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Subprefeituras, disse que investimentos e a manutenção do sistema de microdrenagem "reduziu drasticamente o tempo necessário para que a cidade se recupere após chuvas intensas e temporais". "Para se ter ideia, até 2017 São Paulo precisava de 48 horas para o escoamento do excesso de água e, atualmente, as vias são devolvidas em até duas horas", informou a secretaria.

Segundo a gestão municipal, a chuva de terça foi um exemplo de recuperação rápida, pois a liberação de vias ocorreu no prazo de duas horas nos pontos mais críticos. A secretaria destacou que a limpeza continuou na manhã seguinte à chuva em 73 pontos da cidade.

"Com novos sistemas de tecnologia, que funcionam de forma integrada, foi possível que os caminhões de hidrojato circulassem nos pontos necessários, fazendo com que a maioria dos alagamentos fossem liberados para circulação, em média, em 120 minutos depois do temporal", disse, em nota.

A prefeitura também destacou o grande volume de água que veio com a chuva, salientando que mesmo com uma chuva intensa, nenhum piscinão teria atingido capacidade máxima.

Segundo a secretaria, em 2022 foram investidos R$ 2,9 bilhões em limpeza urbana (varrição e zeladoria) e R$ 1,4 bilhão foi empenhado em ações para aprimorar o sistema de drenagem da cidade. "Foram reformados 33.523 poços de visita e bocas de lobo, inclusive com troca de tampas, e mais de 21.195,65 m de galerias. Além disso, foram limpos 146.817 poços de visitas e bocas de lobo. Também foram retiradas cerca de 165.599,91 toneladas de detritos nos córregos, em 1.684.996,81 metros de extensão. Em galerias e ramais foram retirados 2.423,08 m³ de detritos", informou.

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