Descrição de chapéu yanomami

Existe a preocupação de não prejudicar inocentes, diz ministro da Defesa sobre garimpeiros em fuga

José Mucio visitou hospital improvisado para yanomamis e afirmou que há garimpeiros que 'trabalham pelo seu sustento'

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Boa Vista

O ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, disse nesta quarta-feira (8) que existe a preocupação de "não prejudicar inocentes", em referência aos garimpeiros que estão em fuga da Terra Indígena Yanomami.

Ao ser questionado sobre o papel das Forças Armadas em futuras ações de retirada de invasores e sobre o tratamento que será dispensado a garimpeiros em fuga, o ministro afirmou: "Essa é uma questão da Justiça, evidentemente. Nós temos a preocupação de não prejudicar inocentes."

Mucio e outros ministros do governo Lula (PT), além dos comandantes das Forças Armadas, visitaram no fim da tarde a Casai (Casa de Saúde Indígena) Yanomami, em Boa Vista, Roraima.

O espaço passou a funcionar como um hospital improvisado para atender os indígenas, após a declaração de estado de emergência em saúde pública, no dia 20. Na frente da Casai foi erguido um hospital de campanha da FAB (Força Aérea Brasileira).

O ministro da Defesa, José Múcio, concede entrevista em frente à Casa de Saúde Yanomami em Boa Vista; à esquerda, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; à direita, a presidente da Funai, Joenia Wapichana, e o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida - Lalo de Almeida/ Folhapress

A presença do garimpo ilegal na terra indígena, com estímulo e conivência do governo Jair Bolsonaro (PL), fez explodirem os casos de malária, de desnutrição grave e de outras doenças associadas à fome, como infecções respiratórias. O ápice do problema foi o ano de 2022, o último ano do mandato de Bolsonaro.

A comitiva de ministros de Lula acompanha as ações emergenciais em saúde e os preparativos para operações de retirada de garimpeiros da terra indígena. São mais de 20 mil invasores, que avançaram pelo território até comunidades próximas à fronteira com a Venezuela.

O governo já deu início a operações, com ações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) na segunda (6) e na terça-feira (7). As ações têm suporte da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e da Força Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Aeronaves e maquinário foram destruídos. Também houve apreensão de mantimentos e equipamentos e instalação de uma base de controle de invasores em um trecho do rio Uraricoera.

Segundo Mucio, "têm pessoas que trabalham no garimpo para se sustentar". "Têm mulheres, têm crianças. Têm alguns que estão trabalhando pelo seu sustento", disse o ministro em entrevista à imprensa.

O ministro foi questionado, então, se os garimpeiros invasores da terra indígena são inocentes. "Não posso julgar isso", respondeu. O titular da Defesa afirmou que a avaliação caberá à PF (Polícia Federal) e à Justiça, e que "culpados serão punidos".

No dia 1º, a FAB (Força Aérea Brasileira) deu início a um controle do espaço aéreo na terra indígena, com restrição de voos, o que contribuiu para o asfixiamento do garimpo ilegal.

Cinco dias depois, as regras do controle aéreo foram flexibilizadas, com permissão de corredores para transporte de garimpeiros ilegais que acabaram ilhados no território.

"Primeiro, fechou-se o espaço aéreo. Depois, o brigadeiro [Marcelo] Damasceno [comandante da Aeronáutica] sugeriu que abríssemos o espaço aéreo, para que ninguém entrasse mata adentro, para que não fosse uma coisa sem programação. Esperamos [que a retirada de garimpeiros] ocorra de forma tranquila", disse o ministro da Defesa. Damasceno estava com Mucio.

Segundo o ministro, "temos muitas vítimas aqui". "Hoje passamos o dia aqui visitando as vítimas [os yanomamis que estão na Casai]. Temos de ter cuidado para não criar mais vítimas."

Mucio estava acompanhado ainda do delegado Humberto Freire, diretor de Amazônia e Meio Ambiente na PF, cargo criado no governo Lula.

Segundo o policial, já houve prisões na área de garimpo. Freire afirmou que garimpeiros em fuga podem ser identificados e indiciados posteriormente, assim como pode haver autuação em flagrante para quem permanecer na área. "Isso vai depender de uma análise no curso da operação", disse.

Haverá fases na operação de retirada de invasores, até uma retirada por completa, com punição na medida da culpa, conforme o delegado. "Quem faz lavagem tem responsabilidade muito maior."

A ação do governo contou ainda com a presença dos ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. A presidente da Funai, Joenia Wapichana, integrou a comitiva.

Guajajara disse que o problema da invasão de garimpeiros é "histórico" e que "não vamos conseguir resolver isso numa semana". "Temos ações e planos a médio prazo, a longo prazo. São ações que vão durar seis meses, um ano."

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