Descrição de chapéu Obituário Eduardo Ruiz da Silva (1974 - 2023)

Mortes: Multiartista, era doce, engraçado e genial

Eduardo Ruiz deixou sua marca na pintura, na dramaturgia e na escrita de poemas

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São Paulo

Ator, escritor, poeta, pintor e dramaturgo, Eduardo Ruiz era um multiartista talentoso. Arte, doçura e genialidade alimentaram sua alma por 49 anos. No corpo irrequieto também moravam uma dose extra de energia e muita pressa.

"Parecia que ele estava sempre atrasado. Tudo tinha que ser rápido, para agora. Ele sempre foi assim", conta o cabeleireiro Gilson Julio, 51, amigo de infância.

Nascido em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), logo cedo mostrou que teria sucesso no campo das artes. Na quinta série, com a história de um golfinho, ganhou um concurso de gibi, promovido pela Escola Estadual Doutor Meira Júnior, onde estudava.

Eduardo Ruiz da Silva (1974-2023)
Eduardo Ruiz da Silva (1974-2023) - @eduardoruizoficial no instagram

No contraturno, cursava a Escola de Arte Cândido Portinari. "Ele sempre impactou. Enquanto eu gastava duas horas para a aplicação de um desenho, ele levava 20 minutos. Foi o primeiro aluno a usar a cor preta na aula de artes, porque já sabia dosar as tonalidades", conta Gilson.

A primeira peça encenada, "Açúcar Amargo" (do livro de Luiz Puntel), rendeu a Eduardo o prêmio de melhor ator. Em seguida, num festival em Tatuí (a 141 km de São Paulo), interpretou João Grilo em "O Auto da Compadecida". A peça também foi premiada muitas vezes.

Na década de 1990, Eduardo estudou na Escola de Artes Dramáticas da USP. No período, começou um trabalho no Ritz. Entrou como garçom e foi gerente por muitos anos.

"Ele era maravilhoso, muito querido e fazia todo mundo rir 24 horas por dia. Os clientes o adoravam. Eduardo era alegre, engraçado e de bem com a vida. E um belo profissional, muito eficiente. Foi uma tristeza", afirma Sérgio Kalil, sócio-proprietário do Ritz.

Foi no restaurante que cruzou o caminho do diretor teatral José Possi Neto.

"Ele sabia o nome de todos os clientes e fazia piadas sobre todos. Tinha um humor ácido irreverente. Um dia, ele pediu meu email. Disse que escrevia poesias e gostaria que eu as lesse, e que fazia algumas coisas para teatro."

"Numa outra vez, ele me falou que na ECA [Escola de Comunicações e Artes, da USP] encenariam um de seus textos e gostaria que eu assistisse. Eu fui. Era muito bonito. Aí eu abri o email que ele tinha enviado havia quase um ano. Fiquei surpreso com a qualidade e profundidade do texto dele", relata.

Possi apresentou o trabalho de Eduardo à atriz Christiane Torloni, que encomendou um texto.

Além da amizade, veio a parceria. No espetáculo que dirigiu, "Teu Corpo é meu Texto", Possi contou com Eduardo para a escrita dos textos especiais. O mesmo ocorreu no "À Flor da Pele", com Zizi Possi. Coube a Eduardo escrever 50% dos textos.

Com "Chorávamos Terra Ontem à Noite", encenado em 2009, sob direção de Lavínia Panunzio, Eduardo foi indicado ao Prêmio Shell na categoria autor.

Escreveu ainda os livros "Violenta" (Quatro Cantos, 2012), com 169 poemas, e "Poematório" (Pólen, 2018).

"Era um poeta maldito, da estirpe de [Arthur] Rimbaud, [Paul] Verlaine, [Charles] Baudelaire; uma pessoa extremamente conectada com a tragédia do seu tempo, e ficou totalmente fora do tempo naquilo que o atual momento do mundo exige de comercial. Ele era um grande artista, quase erudito", afirma Possi.

"Ele era a imagem da tolerância, da tranquilidade e do desprendimento de bens materiais. Eduardo vivia na contramão dos amigos, que se preparavam para comprar carros e casa. Nem roupas ou objetos de marca aguçavam seus olhos", conta Gilson.

Morreu no dia 29 de janeiro, aos 49 anos, após uma parada cardíaca. Deixou os pais, as irmãs e amigos. A amiga Paula Elias, que é atriz, empresária e advogada, terá a responsabilidade de organizar o acervo do artista.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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