Descrição de chapéu Folhajus

Caso Bernardo: por questões de saúde, juíza dispensa interrogatório de Leandro Boldrini

Por questões de saúde, médico Leandro Boldrini, réu pela morte do filho, não será ouvido; julgamento deve terminar ainda nesta quinta-feira (23)

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Curitiba

O médico Leandro Boldrini, réu pela morte do filho, Bernardo Uglione Boldrini, não vai ser interrogado no seu júri popular em andamento em Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul. De acordo com o Tribunal de Justiça do RS, Boldrini não será ouvido por "questões de saúde".

A reportagem ainda tenta obter detalhes junto ao TJ e à defesa de Boldrini.

O pai do menino Bernardo seria ouvido na manhã desta quinta-feira (23), quando o julgamento entra em seu quarto dia, mas ele foi dispensado pela presidente do Tribunal do Júri, a juíza Sucilene Engler Audino, e também pelas partes envolvidas no processo.

Acompanhado por policiais e algemado, o réu chegou ao local do julgamento e gritou em direção à imprensa, que fazia registros da sua entrada no prédio. Poucas horas depois, ele saiu e voltou à unidade onde está preso.

A juíza Sucilene Engler Audino, presidente do Tribunal do Júri, cancelou nesta quinta-feira (23) o interrogatório do réu Leandro Boldrini por questões de saúde. Boldrini é acusado de matar o filho Bernardo Boldrini no ano de 2014 - Márcio Daudt/DICOM/TJRS

O menino de 11 anos foi assassinado em 4 de abril de 2014, e o crime causou comoção no Rio Grande do Sul e no país.

O julgamento começou na segunda-feira (20), e todos os depoimentos previstos já foram prestados. Agora, sem o interrogatório do réu, o júri avança para a etapa final.

Haverá 1h30 para a fala do Ministério Público e igual tempo para a defesa de Boldrini. Na sequência, fica reserva mais uma hora de réplica para o Ministério Público e uma hora de tréplica para a Defesa.

Depois disso, o Conselho de Sentença se reúne para decidir sobre o caso. A previsão é que o júri se encerre no final da tarde desta quinta-feira.

Boldrini havia sido condenado em 2019 a 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Porém a decisão foi anulada em 2021 por entendimento dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul de que houve irregularidades no interrogatório de Boldrini pela Promotoria.

Bernardo foi encontrado morto após ficar dez dias desaparecido. Seu corpo estava num matagal, dentro de um saco, enterrado em Frederico Westphalen (RS).

Leandro Boldrini, Graciele Ugulini (esposa de Boldrini e madrasta de Bernardo), Edelvânia Wirganovicz (amiga de Graciele) e Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvânia) foram condenados pelo crime em 2019.

No entendimento do júri de 2019, Graciele, com o auxílio de Edelvânia, matou Bernardo com uma injeção de uma superdosagem de um medicamento para dormir. As duas depois enterraram o corpo do menino em um matagal do município vizinho.

Evandro, por sua vez, foi condenado por ter ajudado a cavar a vala em que Bernardo foi enterrado dias depois. O pai teria sido o mentor do crime ao lado da esposa.

A defesa de Boldrini é feita pelos advogados Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé Vares. Em entrevista recente à Rádio Chiru, de Palmitinho (RS), da região de Três Passos, Vetoretti argumentou que Boldrini foi "um pai ausente, que trabalhava demais [...], mas isso não faz dele um assassino". Disse ainda que via a condenação de Boldrini como "o maior erro da sua história no Rio Grande do Sul".

A defesa se refere a uma série de episódios de negligência parental envolvendo o menino, que, sem a atenção do pai e da madrasta, estava constantemente sob a tutela de vizinhos ou de pais de amigos.

A mãe de Bernardo, Odilaine Uglione, morreu em 2010. O pai se casou novamente com Graciele, com quem teve uma filha.

Em 2013, o menino procurou por conta própria ajuda no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Três Passos, o que levou o Ministério Público a ajuizar uma medida protetiva.

A avó de Bernardo, mãe de Odilaine, chegou a formalizar um pedido de guarda do neto, mas, em janeiro de 2014, Boldrini pediu ao Juizado da Infância e da Juventude uma chance de reaproximação com o filho. Pai e filho teriam uma nova audiência marcada para 14 de maio, cerca de um mês após o assassinato.

Graciele foi condenada a 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicial fechado, com previsão de progressão de regime em 2026. Edelvânia foi condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão, mas obteve direito a cumprir pena em regime semiaberto em maio do ano passado. O irmão de Edelvânia, Evandro, foi condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e está em liberdade condicional.

No julgamento do recurso que pediu a anulação do júri de Boldrini em 2021, os desembargadores entenderam que acusação da Promotoria violou o direito do médico de permanecer em silêncio no interrogatório.

Apesar de Boldrini ter ficado calado, o promotor leu em voz alta as perguntas que faria para o médico. Segundo o relatório do recurso, o acusador não se limitou a formular perguntas e, em dado momento, fez afirmações sobre a conduta de Boldrini, apesar dos protestos da sua defesa.

Isso configurou, na visão dos desembargadores, "disparidade de armas" durante o julgamento. A decisão pela anulação foi por 4 votos a 3.

Apesar da anulação do júri, Boldrini teve a prisão preventiva mantida. O último recurso pedindo a sua liberdade foi negado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em dezembro de 2022, e ele seguiu na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (RS).

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