Despejo da Livraria Cultura é irreversível, diz advogado do dono de imóvel em São Paulo

OUTRO LADO: Livraria diz que acordo, importante para os dois lados, ainda é possível

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São Paulo

É irreversível o despejo da Livraria Cultura do seu atual endereço na avenida Paulista, em São Paulo, afirmou nesta segunda-feira (13) à Folha o escritório Mazetto Advogados, que representa o grupo empresarial Bombonieres Ribeirão Preto, dono do imóvel.

Sérgio Herz, presidente da Cultura, nega que o diálogo com o proprietário tenha chegado ao fim e afirma que ainda há possibilidade de acordo, que, segundo ele, interessa aos dois lados.

A livraria, cuja unidade no Conjunto Nacional é considerada um ponto turístico da capital, enfrenta desde o final de 2018 por um processo de recuperação judicial e se mantém funcionando graças a uma decisão judicial provisória que suspendeu, no mês passado, um decreto de falência da empresa.

Loja da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo
Loja da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, em São Paulo - Zanone Fraissat - 10.fev.2023/Folhapress

A notícia da decretação de falência da livraria provoca entre frequentadores e turistas o temor de que a mudança da atividade empresarial resulte em mais um vazio urbano para a capital, a exemplo do ocorrido com dezenas de empresas icônicas na história da cidade.

No Conjunto Nacional desde 1969, a Cultura instalou em meados dos anos 2000 a sua megaloja no salão de aproximadamente 4.000 metros quadrados ladeado por rampas que dão acesso ao mezanino de onde é possível ter uma vista quase completa das estantes e bancas de livros distribuídas pela loja.

Antes, a sala abrigava o Cine Astor, que era operado pela Bombonieres Ribeirão Preto. O piso central inclinado do atual saguão da livraria era o local onde ficavam as poltronas do cinema.

Em nota, a Mazetto Advogados disse que a livraria deve mais de R$ 20 milhões aos proprietários. Os valores seriam referentes a débitos com aluguéis vencidos, condomínio e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).

"Além do decreto de falência, a Livraria Cultura está com o despejo decretado e para ser realizado", diz a nota assinada pelo advogado José Roberto Mazetto.

"Apenas não logramos efetuá-lo [o despejo] em razão de decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que determinou antes da execução —já decorreu o prazo para desocupação voluntária— que fosse ouvido o meritíssimo juiz da recuperação judicial", escreveu.

"O juiz optou pelo decreto da quebra, o que resultaria no mesmo efeito de desocupação. Como agora voltou a ser recuperação judicial, reiteramos o pedido de autorização para a realização de despejo."

Por telefone, Mazetto afirmou que a decisão de despejar a Livraria Cultura é "irreversível, sem possibilidade de acordo", uma vez que os proprietários imóvel estão descontentes com os descumprimentos de acordos firmados com o grupo. "Dói o coração da gente, mas não dá mais", disse.

A Folha verificou no sistema de consulta de processos de 1º grau do TJ-SP a existência de sentença em fase de execução para o despejo da Livraria Cultura pelo grupo Bombonieres Ribeirão Preto.

No despacho mais recente disponível, de novembro de 2022, a Justiça negou pedido da Cultura para que o cumprimento da sentença fosse impugnado. Mas o despacho também afirma que o despejo não deve ser realizado ao menos por enquanto.

Sérgio Herz afirmou nesta segunda não ter conhecimento de que a decisão de despejo é irreversível. Segundo o presidente do grupo Cultura, o proprietário tem interesse na permanência da livraria no imóvel.

"Tenho canal direto de comunicação com o dono do imóvel e sempre mantemos contato pessoal", comentou Herz, em troca de mensagens com a reportagem. "A parte que está em aberto é, principalmente, referente ao período da pandemia, período que estávamos fechados completamente", explicou.

"Pretendemos chegar a um acordo com relação a esses valores, e a negociação, no âmbito judicial, é importante para os dois lados e faz parte do processo", disse Herz.

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