Em carta, autor do ataque em escola de SP cita bullying, tristeza e ódio

Em mensagem escrita antes do ataque, adolescente pede desculpas à mãe, ao irmão, à tia e à avó

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São Paulo

O adolescente de 13 anos que matou uma professora e feriu cinco pessoas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, deixou uma carta para a família, antes do crime, em que pedia desculpas e contava que passou dois anos planejando o ataque.

No bilhete, o adolescente indica que bullying, tristeza e ódio o levaram a fazer "uma besteira".

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Aluno que matou professora em escola da zona oeste de São Paulo deixa a delegacia, na segunda-feira (27) à noite, após depoimento - Rubens Cavallari/Folhapress

A carta é endereçada à mãe, ao irmão, à tia e à avó. Não há menção ao pai, que estava na delegacia nesta terça-feira (28) enquanto o adolescente prestava depoimento.

Na mensagem, ele pede desculpas por decepcionar os parentes e diz que sente muito. O adolescente também afirma que escondeu da família o que sentia, exibindo um sorriso em vez de se expressar.

Os manuscritos são acompanhados de desenhos. Nas folhas de caderno há imagens de um par de olhos e uma lâmina.

O adolescente chegou a anunciar o ataque nas redes sociais, como mostrou a Folha. No Twitter, ele menciona a falta de "um armamento decente".

Nas redes sociais, o jovem também fazia referências ao autor do massacre de Suzano, em 2019.

Em sua conta no Twitter, ele usava o nome Taucci e uma sequência de números. Taucci é o sobrenome do garoto que abriu fogo contra colegas em Suzano há quatro anos.

Durante o ataque, o agressor usava uma máscara sobre o nariz e a boca com o desenho de uma caveira. É a mesma utilizada tanto pelos atiradores de Suzano quanto pelo adolescente que atacou duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, em novembro do ano passado. A indumentária é símbolo de supremacistas americanos.

A Polícia Civil deve vasculhar perfis de redes sociais e aparelhos eletrônicos apreendidos na casa do jovem para saber, principalmente, se ele foi incentivado ou auxiliado por alguma pessoa. Mais vítimas e testemunhas devem ser ouvidas nesta terça —ao menos 32 pessoas já prestaram depoimento.

"Esse trabalho de rastreamento dos perfis, redes sociais, é importante para sabermos se houve algum incentivo, algum induzimento, algum tipo de ação, e se alguém efetivamente participou dos ataques de ontem", disse o delegado Marcus Vinicius Reis, do 34º DP.

Histórico

Na manhã de segunda-feira (27), o estudante do oitavo ano do ensino fundamental matou a facadas a professora Elisabeth Tenreiro, 71. Ele foi apreendido pela polícia.

O aluno agressor era novato na escola. Foi transferido para lá no início de março, após uma funcionária do colégio anterior registrar um boletim de ocorrência relatando comportamento agressivo do estudante, que vinha "postando vídeos comprometedores, por exemplo, portando uma arma de fogo e simulando ataques violentos".

Apesar desse histórico, o secretário estadual de Educação, Renato Feder afirma que a nova escola "foi pega desprevenida". "Nesse período de permanência, a diretora não recebeu nenhum aviso e nem [teve] ciência de nada que chamasse atenção", declarou.

O caso foi registrado no 34º DP (Vila Sônia). Na casa do jovem, a polícia apreendeu uma arma de air soft e outra máscara. Ele prestou depoimento e, no início da noite, foi encaminhado para a Fundação Casa. Nesta terça-feira (28) ele passará por audiência de custódia na Vara da Infância e do Adolescente. "Esperamos que ele permaneça apreendido", disse o delegado Marcos Vinicius Reis.

Um aluno da escola disse à reportagem que testemunhou, na semana passada, uma briga entre o suspeito e outro estudante, que foram separados pela professora que morreu nesta segunda. Na ocasião, o autor dos ataques teria proferido ofensas racistas e xingado o colega de "macaco" e "ratinho".

A professora Elisabeth tentou apartar a discussão e, segundo o relato, o agressor teria dito "vai ter volta".

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