Descrição de chapéu Chuvas

Em reconstrução, São Sebastião (SP) espera por turistas a partir de abril

Prefeitura diz que o momento é delicado, com solo instável e pede cautela a viajantes

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São Sebastião (SP)

O sábado de verão parecia para a paulistana Gabriela Rossi, 25, uma manhã de inverno em São Sebastião. Três semanas depois das chuvas que deixaram rastro de mortes e destruição, as rodovias que vão para o litoral norte sugerem uma viagem tranquila, mas está longe de atrair turistas.

"Estou um pouco chocada, a energia ainda não é a mesma e dá uma sensação de luto por tudo o que aconteceu", afirma Gabriela.

O administrador de empresas Marcelo Noce, 57, também estranhou quando chegou à praia do Camburi neste sábado (11), por volta das 9h, ao lado de sua esposa.

"Éramos os únicos aqui, o litoral norte não é tão cheio em comparação com o sul, mas nunca vimos tão esvaziada assim", disse ele.

Restos de árvores formam corredor na areia da praia da Baleia, em São Sebastião - Ronny Santos/Folhapress

O hotel onde Noce escolheu passar o final de semana, o Camburi Praia, acomodava 16 clientes, o que representa uma ocupação de 10%.

"Estamos ligando para os clientes e convidando para voltar, acontece que mais da metade das reservas de março estão sendo remarcadas para outubro", disse Maria Servo, funcionária do Camburi Praia. "Dois meses com este sumiço de turista, temos que se virar com as despesas e uma folha de pagamento de 37 funcionários."

A ocupação dos hotéis e pousadas tem sido de 10%, sendo que quase todas elas já estavam reservadas.

Na Maresias Beira-Mar, apenas 3 suítes estavam alugadas das 16 oferecidas. "Acredito que o turista só vai voltar quando a gente [comerciante e poder público] mostrar que São Sebastião está segura", disse Ryan Marques, funcionário da pousada. "O cliente [no litoral norte] tem um bom poder aquisitivo e não vai fazer qualquer reserva sem a certeza de que não possui o mínimo de infraestrutura na cidade."

A associação Renova Camburi, formada em setembro de 2021por um grupo de moradores e comerciantes com o propósito de atuar na preservação das praias na região, tem feito campanha em suas redes sociais convidando as pessoas para o litoral.

No material, eles também pedem que o público priorize comprar produtos e contratar serviços de empresas local.

"Boiçucanga e Camburi possuem mais de 800 estabelecimentos comerciais que empregam mais de 5.000 pessoas e que também sofreram um grande golpe, pois dependem exclusivamente do turismo", diz a campanha.

A esperança dos comerciantes é que a cidade volte a ficar movimentada com a sequência feriados prolongados, o da Páscoa e o de Tiradentes em abril e o do Trabalho em maio. Até lá, ainda há muito trabalho a ser feito, tanto de zeladoria quanto de publicidade para convencer os turistas.

"Fiquei bem triste ao me deparar ao vivo com a situação da cidade", disse Haike Naredo, que reside em Campinas, no interior paulista, e manteve a sua programação de férias por dez dias em São Sebastião mesmo depois das chuvas históricas.

Na praia da Baleia, onde Haike estava no sábado (11), havia um corredor de galhos de árvores na areia. A Secretaria Municipal de Serviços Públicos disse, neste domingo (12), que removeu mais de cinco mil caminhões cheios de detritos e escombros em São Sebastião.

Com um visual mais limpo, as praias de Camburi e Camburizinho reuniram mais banhistas no sábado.

"Foi uma viagem tranquila. A situação já parece bastante controlada, o governo agiu rápido na recuperação das rodovias", elogiou Cleiton Castelo.

De acordo com o governo, as obras na Rodovia Mogi-Bertioga custaram R$ 9,4 milhões, e o tráfego está liberado para veículos leves e pesados em toda a região.

Dono do restaurante Seringueira, Cleiton Yasuco sugere que o poder público promova campanhas para atrair turistas. Ele estima que os viajantes são responsáveis por mais de 80% do seu faturamento.

"Vivemos uma tragédia sem precedentes, mas o governo estadual e a prefeitura forçaram um pouco a barra pedindo para que os turistas não virem para cá, isso cria uma expectativa bem ruim", reclama Yasuco, que em pleno sábado na hora do almoço servia apenas três clientes.

Pelas suas contas, o movimento é mais baixo comparado com o visto na pandemia de Covid, quando o litoral norte serviu como refúgio.

Com relação à orientação de não visitar o município, o Governo de São Paulo disse em nota neste domingo (12) que ela foi dada apenas nos primeiros dias após a tragédia, quando as estradas estavam com condições prejudicadas e representando riscos à população.

Cleiton Yasuco, do restaurante Seringueira, estima que mais de 80% dos seus clientes são turistas - Ronny Santos/Folhapress

A Secretaria de Turismo e Viagens comprometeu-se a promover os destinos afetados pela chuva depois que a Defesa Civil e autoridades de meio ambiente e infraestrutura apontarem que não existem riscos para população, visitantes e comerciantes.

A prefeitura também afirmou, em nota neste domingo, que, apesar de o pedido de adiamento das visitas turísticas ter um impacto negativo, o momento ainda é delicado e o solo continua instável.

"Desde o último dia 19 de fevereiro, quando chegou a chover mais de 600 milímetros, a cidade ainda tem enfrentado dias chuvosos, como na sexta-feira (10/3), registrando 120 milímetros em apenas uma hora", diz a nota.

"Os turistas serão novamente bem-vindos assim que a cidade estiver pronta e segura para recebê-los", afirma a gestão do prefeito Felipe Augusto (PSDB).

Entre as ações anunciadas para o setor, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) ressalta que a agência de fomento Desenvolve SP disponibilizou créditos de R$ 483 milhões para investimentos na recuperação de infraestrutura e dos empreendimentos no litoral. Outra linha de crédito é o Bolsa Paulista para empreendedores informais e micro empreendedores.

O governo também enaltece que outra iniciativa para auxiliar o setor turístico é a parceria com a iniciativa privada para o envio de desabrigados para a rede hoteleira. "Mais de mil pessoas estão sendo atendidas pelo programa nos hotéis da região", afirma.

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