Para Isaac Lage, os domingos pareciam primeiro de janeiro ou qualquer data festiva que pedia reunião familiar: mesa para o almoço cheia de gente e de comida.
Quem se sentava a seu lado comia por dois. Era Isaac quem enchia o prato. Ao longo de 90 anos, ele distribuiu fartura e alegria.
"Quando o conheci, há 30 anos, a casa era cheia aos finais de semana. Minha sogra preparava pratos elaborados e muitos tipos de sobremesa. Ele fazia questão de dizer que tinha feito o pudim de oito ovos. Por muitos anos, foi o churrasqueiro oficial da família", conta a nora Márcia Borges Lage, 50.
Como de costume, adorava presentear as visitas. Parentes e amigos dificilmente saíam de sua casa sem uma lembrança: canetas, relógios, quadros e charutos.
Isaac nasceu em Douma, no Líbano. Com a morte do pai, mudou-se para o Brasil ainda criança. Veio com a mãe, Kazum Lage, e os irmãos a convite do tio, Michel Lage, que havia se estabelecido como comerciante em São Lourenço (MG).
Teve ajuda do tio até se formar em odontologia, na mineira Alfenas. Com o diploma, escolheu São Paulo para viver. Foi na capital paulista que reencontrou uma amiga de infância que se tornaria sua esposa: com a engenheira mecânica Helena Mokarzel Lage, Isaac foi pai de dois filhos e completou 55 anos de casado.
Era generoso, engraçado e fazia o tipo "sincerão". Falava tudo o que pensava. Lia jornais diariamente e assistia aos jogos do Palmeiras, time do qual era torcedor.
Adorava passear no centro da cidade —conhecia cada cantinho da região e sabia onde encontrar sapateiro, conserto de malas, tinteiro para canetas antigas, relógios, a melhor tabacaria, o mecânico competente.
Parou de dirigir cedo, assim que presenteou o filho com um carro, pelo aniversário de 18 anos. Certa vez, foi ajudar a nora a levar o veículo para reparo. "Foi a primeira e única vez que o vi no volante. Viemos em terceira marcha pela avenida 23 de Maio. O carro implorava pela quarta, mas ele, impassível, dizia: ‘Você tem que dirigir com cuidado. Não pode ser pé de chumbo’", conta Márcia.
Isaac Lage morreu dia 20 de fevereiro, aos 90 anos, por complicações após uma queda. Deixou a mulher, Helena, os filhos, José Carlos e João Paulo, os netos, Sofia, Daniel, Luís Felipe e Eduardo, e as noras, Márcia e Marisol.
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