Descrição de chapéu Folhajus

Acordo da União com família de homem asfixiado em ação da PRF tem novo entrave com disputa entre parentes

Familiares reivindicam R$ 3,6 milhões em indenizações; governo oferece total de R$ 920 mil

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Brasília

Em uma negociação marcada por uma disputa entre a mãe e a ex-mulher da vítima, o governo federal e a família de Genivaldo de Jesus Santos, que morreu asfixiado em uma ação de agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal), não chegaram a um acordo referente à indenização pela morte.

Genivaldo, 38, tinha esquizofrenia. Ele foi morto depois que policiais usaram gás lacrimogênio dentro do porta-malas da viatura em que ele foi colocado após ser detido por dirigir uma moto sem capacete.

A família pretende recorrer à Justiça em busca da indenização. Pessoas que acompanham as negociações afirmam que o valor oferecido pelo governo é de R$ 920 mil —com três parte iguais de R$ 200 mil para a mãe, o filho e a ex-mulher de Genivaldo, além de R$ 200 mil a título de pensão para a ex-companheira e o filho e R$ 120 mil em honorários advocatícios.

Dois policias seguram tampa de porta-malas em que homem está preso; apenas as pernas deles aparecem para forda do veículo
Em 26 de maio de 2022, em Umbaúba (a 101 km de Aracaju), policiais rodoviários colocaram Genivaldo de Jesus Santos em viatura e lançaram gás lacrimogêneo e spray de pimenta - Reprodução

A última proposta feita pela defesa da família, no entanto, foi de R$ 3,6 milhões divididos igualmente entre mãe, a ex-mulher e o filho de Genivaldo —R$ 1,2 milhão para cada um.

Antes de apresentarem esse número, a mãe e a ex-companheira de Genivaldo chegaram a travar uma disputa na Justiça de Sergipe. Ex-mulher de Genivaldo, Maria Fabiana Estevam Oliveira entrou na Justiça para pedir a anulação de declarante em certidão de óbito de Genivaldo, atestada pela mãe dele, Maria Vicente de Jesus.

Em resposta, os advogados de Maria Vicente disseram que Genivaldo e Maria Fabiana não mantinham união estável havia pelo menos três meses antes da morte e que ela nem compareceu ao velório do ex-companheiro.

"Não só fosse isso, a autora [Maria Fabiana] afirma que conviveu por 17 (dezessete) anos com o Sr. Genivaldo, ou seja, que supostamente iniciou a relação no ano de 2005. Ocorre que, conforme certidão de casamento em anexo, a autora era casada com o Sr. Daniel Costa Estevam, divorciando-se apenas no ano de 2007", diz a petição.

Para provar que Maria Fabiana e Genivaldo já não viviam sob o mesmo teto na época da morte, os advogados da mãe anexaram ao processo um vídeo da casa onde ele morava sem que houvesse objetos pessoais de sua ex-companheira. Depois dessa disputa, porém, as duas teriam se reconciliado e chegaram a um valor comum de indenização.

Mas, com base nas petições, a União pediu a exclusão de Maria Fabiana do polo passivo da ação indenizatória.

A defesa da família de Genivaldo disse, por nota, que a situação foi resolvida entre as partes considerando o bem do filho. "A defesa, portanto, atuou de forma a dirimir todo e qualquer conflito que pudesse existir", disse.

Afirmou ainda já haver nos autos o acervo probatório, inclusive que a companheira era procuradora de Genivaldo.

Fazem parte da negociação membros da Secretaria de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça, a AGU (Advocacia-Geral da União), a Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) e os advogados da família.

Marivaldo Pereira, secretário de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, disse que a pasta segue acompanhando e aberta ao diálogo com o advogado e especialmente com a família de Genivaldo para a construção de um acordo. "Acreditamos que será possível fechá-lo em breve."

A defesa da família de Genivaldo tem como referência principal o caso Carrefour, que pagou R$ 1,1 milhão à viúva de João Alberto, morto após ser agredido por seguranças no estacionamento de uma unidade da rede em Porto Alegre em 2021.

Além disso, a rede de supermercados fechou um acordo de R$ 115 milhões com autoridades e representantes da sociedade civil. O valor do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) será encaminhado a ações de combate ao racismo e deverá ser investido no prazo de três anos.

A Educafro é autora da ação contra a rede de supermercados que gerou esse acordo milionário e repetiu a iniciativa contra a União no caso Genivaldo.

Antes de iniciadas as tratativas, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse nas redes sociais em 6 de janeiro que havia determinado ao secretário de Acesso à Justiça, Marivaldo Pereira, providências visando à indenização legalmente cabível.

"Genivaldo morreu, em 2022, em face de uma ação de policiais rodoviários federais, em Sergipe. É clara a responsabilidade civil, à luz da Constituição", disse em um trecho da postagem.

No caso, os policiais rodoviários Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia viraram réus sob acusação de tortura-castigo e homicídio triplamente qualificado e serão julgados em júri popular.

O advogado Glover Castro, que defende William de Barros Noia, disse que já recorreu da decisão da Justiça.

A PF reconstituiu a cena da morte e concluiu que a detonação de gás lacrimogêneo liberou substâncias tóxicas como monóxido de carbono e ácido sulfídrico. De acordo com a perícia, a concentração de monóxido de carbono foi pequena e a de ácido sulfídrico foi maior, o que pode ter causado convulsões e incapacidade de respirar.

As cenas geraram forte comoção pela violência empregada e ganharam repercussão internacional.

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